Descrição de chapéu Folhainvest

Dólar chega a R$ 5,72 com escalada de tensões no Oriente Médio e decisões sobre juros

Investidores repercutem morte de líder do Hamas, de autoria assumida por Israel, e a manutenção de juros no Brasil e nos EUA

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São Paulo

O dólar acelerou alta nesta quinta-feira (1°) e chegou a R$ 5,727 na máxima da sessão, com investidores repercutindo o aumento das tensões geopolíticas no Oriente Médio e as decisões de juros dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos.

Por volta das 13h41, a moeda norte-americana avançava 1,23%, cotada a R$ 5,723 na venda. Já a Bolsa perdia fôlego e tinha ganhos marginais de 0,06%, aos 127.730 pontos, se afastando das máximas do pregão.

O dia é de alta volatilidade, conforme investidores pesavam riscos do cenário doméstico e externo.

Mulher conta notas de dólares
Na véspera, o dólar fechou em alta de 0,64%, cotado a R$ 5,653, e a Bolsa avançou 1,20%, aos 127.651 pontos - Dado Ruvic/Reuters

Na visão de André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, a alta do dólar mostra que "o real não está seguro nem mesmo com o início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos", possibilidade que animou os mercados na véspera após o Fed manter a taxa de referência inalterada na faixa de 5,25% e 5,5%.

No comunicado, a autarquia abriu espaço para interpretações de que o ciclo de afrouxamento monetário poderá ter início na próxima reunião, marcada para 17 e 18 de setembro, à medida que a inflação continua convergindo à meta de 2%.

"Embora o presidente do Federal Reserve [Jerome Powell] tenha deixado em aberto a possibilidade de corte de juros em setembro, as moedas emergentes estão perdendo força em relação ao dólar. O índice VIX, que mede a volatilidade em Wall Street subia fortemente acompanhado pela cotação do ouro", afirmou Galhardo.

A justificativa recai nos conflitos geopolíticos no Oriente Médio, após Israel assumir a autoria do ataque que matou Ismail Haniyeh, líder do Hamas, na última quarta-feira. A escalada de tensões tem levado investidores a ativos mais seguros, como o dólar e o ouro.

Além do real, o dólar se valorizava ante o euro, a libra esterlina e o peso mexicano.

O acirramento de tensões colocou a decisão do Fed em segundo plano. Na véspera, a autoridade monetária norte-americana afirmou que os preços agora estão apenas "um pouco elevados", a primeira suavização na linguagem desde que o banco central deu início à batalha contra a inflação, classificada como "elevada" nos últimos comunicados.

A autarquia usa o PCE (índice de preços de gastos com consumo, em inglês) para sua meta de inflação anual de 2%. O índice subiu 2,5% em junho, depois de ultrapassar 7% em 2022.

Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o comunicado "não foi explícito" em sinalizações sobre futuras reuniões, mas "abriu muito a possibilidade de um corte em setembro, a partir dos dados monitorados pelo Fed".

"Temos um processo de desinflação acelerado, e, ao mesmo tempo, a percepção de que a própria atividade econômica está desacelerando. Se os juros não caírem em setembro, certamente cairão nas outras duas reuniões do ano", afirma.

Em coletiva de imprensa, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que o comitê "não tomou decisão nenhuma sobre reuniões futuras". No entanto, acrescentou que, como a autarquia tem ganhado confiança de que as pressões sobre os preços estão mais moderadas, "a economia está se aproximando do ponto em que será apropriado reduzir nossa taxa de juros".

Uma taxa alta nos Estados Unidos, tidos como a economia mais segura do mundo, desestimula investimentos em ativos de risco por puxar os investidores aos títulos ligados ao Tesouro norte-americano, chamados de Treasuries.

Isso significa que, quanto mais o banco central norte-americano cortar os juros, melhor para o real e outras moedas emergentes, além do próprio mercado acionário. No entanto, nesta sessão, o dólar se valorizava por ser um ativo seguro diante de tensões geopolíticas globais e incertezas domésticas.

Por aqui, a decisão do BC sobre a taxa Selic também foi influenciada por fatores de risco. O Copom (Comitê de Política Monetária) optou por manter os juros no patamar de 10,50% ao ano pela segunda vez consecutiva, conforme esperado por analistas.

No comunicado, o comitê adotou um tom mais duro e enfatizou a necessidade de "maior vigilância" diante das conjunturas doméstica e internacional, que demandam "acompanhamento diligente e ainda maior cautela".

"Os impactos inflacionários decorrentes dos movimentos das variáveis de mercado e das expectativas de inflação, caso esses se mostrem persistentes, corroboram a necessidade de maior vigilância", disse a cúpula do BC em trecho do documento.

O colegiado ressaltou o cenário global incerto e o ambiente doméstico marcado pela resiliência da atividade econômica, pela elevação das suas próprias projeções de inflação e pela piora das expectativas.

Para Rodolfo Margato, economista da XP, o Copom não alterou o plano de voo e o cenário base continua sendo de manutenção da taxa Selic em 10,50% até o final do ano.

"Mas o comitê reconheceu que o cenário alternativo de elevação da taxa ganhou probabilidade. E, na nossa avaliação, se as expectativas de inflação e câmbio continuarem deterioradas daqui para frente, esse cenário alternativo de elevação de juros irá se materializar", afirma.

É essa também a interpretação dos economistas da Guide Investimentos. Em comentário a clientes, Victor Beyruti e Yuri Alves afirmaram que o atual patamar da Selic "já é contracionista o suficiente para que a inflação convirja à meta no horizonte relevante".

"Ainda assim, apesar de não ter sido explicitada no texto do comunicado, enxergamos que há uma assimetria para cima no balanço de riscos para a inflação, que, caso se sustente, pode pedir um juro ainda mais elevado no próximo ano."

Os especialistas citam no balanço de riscos a possibilidade de o câmbio se consolidar em patamar mais depreciado do que o previsto pelo mercado, a incerteza quanto a cena fiscal brasileira e uma eventual vitória de Donald Trump na corrida eleitoral dos Estados Unidos, que pode consolidar apostas em um juro longo mais alto por mais tempo.

Na cena corporativa, o Ibovespa se mantinha no positivo apesar de recuos da Vale (-1,28%) e da Petrobras (-1,18%), as duas empresas de maior peso no índice.

Destaque para a Ambev, que subia 1,21% depois de reportar Ebitda ajustado de R$ 5,81 bilhões ao final de junho, 10,2% maior que o resultado do segundo trimestre de 2023.

Minerva avançava 4,13%, seguida por Hapvida (3,44%). Weg subia 1,91%, estendendo os ganhos de mais de 10% da véspera.

Na ponta negativa, Embraer perdia 2,78%, em movimento de realização de lucros após a fabricante de aviões entrar em uma sequência de fortes ganhos na última semana.

Na véspera, o dólar fechou em alta de 0,64%, cotado a R$ 5,653, e a Bolsa avançou 1,20%, aos 127.651 pontos.

Com informações da Reuters

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