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Alta de juros está na mesa do Banco Central, diz Galípolo

O diretor de Política Monetária reafirmou que o Copom está alinhado quanto à possibilidade de elevação da Selic

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São Paulo

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta segunda (12) que a possibilidade de aumento de juros, prevista na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), está na mesa, a despeito de algumas interpretações do mercado.

Em meio a um momento de incertezas e volatilidade nos mercados, agentes financeiros haviam entendido que o comunicado divulgado no dia da reunião (em 31 de julho) não havia sido tão claro quanto à possibilidade de os juros subirem.

Na ata, porém, o BC subiu o tom e disse que não hesitaria em mexer no patamar da Selic para manter a inflação sob controle.

"Talvez em algum momento, quando se colocou o cenário alternativo (...), foi lido como retirar da mesa a possibilidade de alta. E isso não é a realidade do diagnóstico do Copom. A alta está na mesa, sim, do Copom", afirmou durante o Warren Day, evento com investidores em São Paulo.

Diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galipolo, durante sabatina no Senado para o cargo - Gabriela Biló -6.jul.2023/Folhapress

Na reunião do dia 31 de julho, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa em 10,5% ao ano.

Nesta segunda-feira, o dólar fechou em queda de 0,28% aos R$ 5,498, em parte por causa das declarações do diretor do BC. O mercado já havia reagido, na sexta, a afirmações feitas por Galípolo, quando ele disse considerar que o cenário atual era desconfortável para meta de inflação de 3% e que a ata do Copom era clara quanto à unanimidade, entre os diretores, da disposição por uma elevação na taxa Selic se necessário.

Analistas consultados pelo BC (Banco Central) elevaram, pela quarta semana consecutiva, a expectativa para a alta do IPCA ( Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) ao final deste ano. Economistas consultados para o boletim Focus agora veem o IPCA fechando 2024 em alta de 4,20%, ante 4,12% na semana anterior, em avaliação que vem na esteira da divulgação de números acima do esperado para o índice em julho.

Gabriel Galípolo é visto como o próximo presidente do Banco Central, em substituição a Roberto Campos Neto, e tem sido lido como uma espécie coordenador das expectativas de inflação.

No Senado, a antecipação sua indicação para setembro e a votação de seu nome são tidos como certas, segundo disse à Folha o presidente da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, Vanderlan Cardoso (PSD-GO).

A CAE é a comissão responsável por fazer a sabatina e votar a indicação do presidente Lula. Em seguida, o plenário da Casa faz uma nova votação para confirmar a indicação.

Nesta segunda, Galípolo disse que a volatilidade no mercado de câmbio no Brasil e no mundo estão acima do usual devido ao ambiente de incertezas elevadas.

Apesar da vigilância do BC sobre a questão cambial, o diretor de Política Monetária voltou a dizer que considera errado estabelecer uma relação direta entre o patamar do real ante o dólar e as decisões de juros do banco. Segundo ele, a autoridade monetária está monitorando também outras variáveis.

"Estabelecer essa relação mecânica com a política monetária é um equívoco", afirmou.

Segundo Galípolo, o BC mantém no radar os efeitos da atuação da autoridade monetária sobre os preços dos ativos, pressionados pelos reações do mercado, além dos dados de inflação corrente.

Na ata da última reunião do Copom, o colegiado destacou os impactos de variáveis como o dólar, além das expectativas de alta da inflação e do cenário externo adverso e incerto.

Sobre a ata, Galípolo disse que em nenhum momento a autoridade monetária divergiu no tom do comunicado (publicado assim que sai a decisão de juros). A ata traz com mais detalhes o que balizou a decisão para a taxa Selic e é divulgada em até quatro dias úteis após a reunião.

Galípolo usou uma referência futebolística para defender que o comitê está alinhado –ele disse considerar que não seria bom para a credibilidade do BC "mirar em um lado e chutar para outro canto".

Para ele, se a interpretação do mercado está diferente da intenção das comunicações, fica a cargo do BC explicitar qual era a intenção.

O diretor de Política Monetária também destacou que a ata não trouxe nenhum guidance, ou seja, uma indicação do que a autoridade pretende fazer na próxima decisão de juros.

Para ganhar credibilidade do mercado, porém, disse ele, é necessário que os novos diretores do BC, indicados pelo governo atual, mostrem alinhamento no que dizem e no que fazem.

Apesar da leitura no mercado e mesmo no Congresso de que ele deverá ser o próximo presidente do Banco Central, o diretor da autoridade monetária disse que a escolha é de Lula, e que esta precisa passar por aprovação do Senado.

O diretor do BC disse que a transição de presidência será um passo importante e desafiador, já que é a primeira mudança de comando após a aprovação da autonomia da autarquia no governo passado. Ele afirmou que a tendência, com o tempo, é a de que as decisões estratégicas do BC ocorram de forma cada vez mais colegiada, ou seja, em equipe.

Galípolo sinalizou que essa transição no BC após a saída de Campos Neto não deve causar muitas mudanças, citando que seis diretores da gestão anterior permanecerão na autarquia, e que o mercado já conhece como é o voto e a opinião deles.

Questionado sobre as contas públicas, Galípolo se esquivou de ir a fundo no assunto. O diretor do BC apenas repetiu o que estava na ata do Copom, de que a percepção do mercado de piora no quadro fiscal pode exigir uma reação da autarquia.

BETS E CRIPTOMOEDAS NO RADAR DO BC

Galípolo também disse que há uma preocupação dos agentes financeiros com os novos temas que aumentam a volatilidade global nos mercados e afirmou que, no Brasil, dois assuntos que ampliam o radar do BC são as criptomoedas e as apostas online, conhecidas como bets.

Segundo Galípolo, não há clareza do impacto deles sobre a inflação, o que aumenta a postura de "cautela" do BC.

"Uma questão que parece anedótica, mas que vem crescendo bastante, é a questão das chamadas bets, os jogos de apostas. Muita gente grande apresentando explicação por ali para entender o hiato que a gente vê entre o crescimento da renda que não aparece nem no crescimento do consumo nem no crescimento da poupança."

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