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Descrição de chapéu Obituário Carlos Carvalho (1924 - 2024)

Morre aos 100 anos Carlos Carvalho, o 'dono da Barra'

Fundador da construtora Carvalho Hosken se envolveu nas obras das Olimpíadas de 2016 e apostou em condomínios e bairros planejados

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Rio de Janeiro

Morreu na noite deste sábado (10) Carlos Carvalho, 100, fundador e presidente do conselho da Carvalho Hosken. O empresário e engenheiro foi um dos principais responsáveis pelo avanço da exploração imobiliária da Barra da Tijuca, tendo atuado em empreendimentos usados nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016.

A morte foi confirmada pela construtora em suas redes sociais. Segundo a empresa, ele morreu de causas naturais. O engenheiro deixa esposa, 4 filhos, 8 netos e 3 bisnetos. O velório será nesta segunda-feira (12), das 10h às 13h, no Crematório da Penitência (Caju).

"Sua trajetória visionária e inspiradora de empreendedorismo, desenvolvimento urbano da Barra e da cidade do Rio de Janeiro deixa um legado para essa e futuras gerações", afirmou a construtora, em nota.

O empresário Carlos Fernando de Carvalho, fundador da construtora Carvalho Hosken, nas obras do condomínio "Ilha Pura", usado nas Olímpiadas do Rio de Janeiro, em 2016, como Vila dos Atletas - Folhapress

O prefeito Eduardo Paes (PSD) afirmou que Carvalho "foi peça fundamental para que o Rio conseguisse com sucesso receber as Olimpíadas".

"Empreendedor, ousado e polêmico, Carlos Carvalho criou na Barra da Tijuca um novo estilo de vida e associação comunitária. Acima de tudo, um apaixonado por nossa cidade", escreveu o prefeito.

O governador Cláudio Castro (PL) classificou o empresário como "um dos maiores empreendedores que a capital fluminense já teve".

Carvalho fundou com o colega de faculdade Jacques Hosken a construtora e imobiliária Carvalho Hosken, em 1951. Criada para fazer obras públicas, a empresa mudou de ramo nos anos 1970, quando o empresário já não tinha mais a companhia do sócio-fundador, mas sob garantia de não mexer no nome que já era conhecido.

Foi quando Carvalho viu no plano-piloto da Barra da Tijuca, elaborado pelo urbanista Lúcio Costa, uma oportunidade de negócio: comprar terras na região que, acreditava, seria o lugar para onde a cidade cresceria.

Na época, a Barra era um areal, palco de inúmeras disputas de posse. Quando os estados do Rio de Janeiro e da Guanabara se fundiram, em 1975, a Justiça decidiu que o direito era de quem tinha registro do imóvel.

"Corri para negociar com os reais donos logo, pagando menos", disse à Folha em entrevista em 2014.

A agilidade logo lhe deu a propriedade de 10 milhões de metros quadrados, 8% da região da Barra e de Jacarepaguá —tema objeto de disputas judiciais até os dias atuais. A concentração de terras lhe rendeu a alcunha de "dono da Barra", dividida com os empresários Pasquale Mauro (1927-2016) e o cingapurano Tjong Hiong Oei (1922-2012), também chamado de "chinês da Barra".

Carvalho foi um dos principais responsáveis pelo modelo de ocupação do bairro, marcado pelos condomínios fechados —ele próprio vivia em um deles.

A partir da década de 1990, passou a investir no que ficou conhecido no mercado como "bairros planejados" —conjuntos de prédios nos quais as construtoras projetam a ocupação de prédios residenciais e atividades comerciais e com associações de moradores próprias.

O primeiro modelo foi o Rio 2, seguido do Península e Cidade Jardim. Um dos últimos modelos do tipo foi o Ilha Pura, utilizado durante as Olimpíadas de 2016 como a Vila dos Atletas.

"Inovação e ousadia sempre foram características associadas aos projetos liderados por Carlos Carvalho, que, ao planejar seus novos empreendimentos, influenciou o jeito de morar do carioca", disse a Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro).

O envolvimento de Carvalho nos projetos olímpicos deu nova notoriedade ao empresário e seu relacionamento com o poder público. Em entrevista à Folha em 2014, ele contou ter sido pressionado a erguer a Vila dos Atletas, sob pena de ter o terreno desapropriado.

"Era melhor eu fazer do que desapropriarem e alguém fazer prédios ruins e feios", disse, na ocasião.

Tornou-se assim responsável por 31 prédios, com 3.604 apartamentos, para receber 18 mil atletas. Em 2015, um ano antes das Olimpíadas, entrou na lista da Bloomberg como a 13ª pessoa mais rica do país, com uma fortuna avaliada à época em US$ 4,2 bilhões.

Como todo o mercado imobiliário suspeitava à época, muitas unidades encalharam. Dos 31 edifícios, 19 ainda estão fechados. A estimativa é que menos de 40% dos apartamentos tenham sido vendidos.

Em negociação encaminhada em julho deste ano, o banco BTG Pactual está comprando da Carvalho Hosken os cerca de 2.500 imóveis remanescentes que não foram vendidos. A transação foi autorizada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

A Carvalho Hosken também integrou o consórcio responsável por erguer o Parque Olímpico, que concentrou a maior parte das competições dos Jogos cariocas. Em contrapartida, as empresas ganharam o direito de construir novos prédios no entorno da área —o empreendimento ainda não começou a ser explorado.

Carvalho se envolveu numa polêmica em entrevista à BBC Brasil, ao comentar o perfil de moradores que desejava para a área.

"Para botar tubulação de água e de luz, há um custo alto, e quem mora paga. Como é que você vai botar o pobre ali? Ele tem que morar perto porque presta serviço e ganha dinheiro com quem pode, mas você só deve botar ali quem pode, senão você estraga tudo, joga o dinheiro fora", disse Carvalho, na ocasião.

A fala foi criticada pelo presidente do comitê organizador da Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman, e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD). Posteriormente, ele disse que foi mal interpretado.

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