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Descrição de chapéu The Economist

Besouros de esterco beneficiam agro e garantem até US$ 1 mi por ano nos EUA

Estudos indicam que inseto dificulta crescimento de fungos nocivos à agricultura, além de acelerar decomposição de fezes

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The Economist

Os colonos ingleses que levaram gado para a Austrália em 1788 logo enfrentaram um problema malcheiroso. As pilhas de esterco que, em sua terra natal desapareciam gradual e discretamente, não estavam indo a lugar nenhum. Em vez disso, as fezes acumulavam e criavam infestações de moscas sugadoras de sangue que acabavam ferindo os animais.

Demorou quase dois séculos para que a explicação surgisse: os besouros do esterco australianos, mais acostumados com fezes de marsupiais do que de gado, deixavam os resíduos onde estavam. Foi apenas quando os besouros do esterco europeus foram introduzidos no país, em 1968, que a indústria de gado da Austrália sentiu os benefícios.

Estudos de outras partes do mundo sugerem que benefícios concedidos aos pecuaristas pelos besouros estará na casa das dezenas de milhões de dólares - Adobe Stock

Histórias desse tipo testemunham o importante serviço que os besouros do esterco prestam. Os mais icônicos desses insetos recolhem o material defecado em uma bola, rolam-no para longe e depois o enterram no subsolo. Outros cavam túneis sob as fezes e as coletam sem nunca serem vistos. Alguns apenas se enterram nas pilhas de esterco e constroem um ninho de onde se alimentam.

Toda essa atividade pode proporcionar valor econômico aos agricultores, embora o quanto isso representa tenha sido incerto por muito tempo. Em um artigo recente da revista Basic and Applied Ecology, a ecologista Roisin Stanbrook-Buyer, da Universidade Bethune-Cookman na Flórida, tentou calcular um valor exato.

Ela trabalhou com uma equipe de colegas para estudar fezes de gado em dois ranchos e um parque estadual no centro-sul da Flórida. Eles descobriram que, em uma pilha representativa de esterco onde os besouros estavam presentes, as fezes desapareciam a uma taxa média de 10,7 gramas por dia. Em contraste, quando os insetos estavam ausentes, desapareciam a uma taxa de 3,7 gramas por dia.

Essa disparidade tem consequências. Estudos mostraram que, a princípio por causa do cheiro, o gado evita comer em uma área até seis vezes maior do que o tamanho do esterco. Quando o odor diminui, os nutrientes nas fezes fazem com que o pasto amadureça mais rápido e se torne intragável.

Com o tempo, isso pode inutilizar grandes seções de pastagem e, em última instância, afetar a rapidez com que o gado engorda. Stanbrook-Buyer descobriu que os besouros do esterco combatem esses efeitos negativos. Ela calcula que garantir uma presença saudável de besouros em todos os ranchos da Flórida aumentaria as receitas estaduais em mais de US$ 1 milhão (cerca de R$ 5,5 mi) por ano.

Esse valor pode parecer pequeno, especialmente em comparação com as centenas de milhões de dólares que se acredita que os insetos polinizadores oferecem ao estado a cada ano, mas pode muito bem ser subestimado. Segundo a ecologista, entre outras coisas, os besouros do esterco interrompem a propagação de parasitas nas populações de vacas, ajudam a circular nutrientes no solo e melhoram a qualidade da água ao manter as fezes fora dos riachos.

Estudos realizados em outras partes do mundo sugerem que o total de benefícios concedidos aos pecuaristas pelos besouros estará na casa das dezenas de milhões de dólares.

O verdadeiro valor desses insetos, no entanto, vai muito além do aumento da produção de carne bovina. Os besouros do esterco estão travados em uma batalha evolutiva com fungos pelo acesso ao seu alimento favorito. Para ganhar vantagem e manter o esterco livre de fungos, eles o limpam com uma mistura de suas próprias fezes e saliva.

Para descobrir como essa mistura funciona, Mario Favila, do Instituto de Ecologia em Xalapa, México, coletou bactérias intestinais de três espécies de besouros do esterco e cultivou esses micróbios no laboratório.

Trabalhando com uma equipe de colegas, ele então os expôs a nove cepas de fungos patogênicos que causam sérios problemas na agricultura. A equipe relata na Science of Nature que os micróbios encontrados em duas das espécies de besouros foram muito eficazes em dificultar o crescimento de sete dos fungos.

Eles revelam, ainda, que os micróbios da terceira espécie, a Onthophagus batesi, diminuíram significativamente o crescimento de todos os fungos usados. Com os fungos patogênicos se tornando cada vez mais resistentes aos agentes antifúngicos existentes, os besouros do esterco nunca pareceram tão atraentes.

Texto de The Economist, traduzido por Helena Schuster, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com.

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