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Vítima do 'golpista do Tinder' dá dicas de como sair do superendividamento

Com mais de R$ 1 milhão em dívidas, Ayleen Charlote conta como conseguiu se reerguer financeiramente

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São Paulo

Imagine ter casa própria, carro na garagem, cargo de chefia no emprego, dinheiro no banco e, em menos de dois anos, ter a vida virada do avesso, contraindo mais de 180 mil euros (R$ 1,1 milhão) em dívidas.

Foi o que aconteceu com Ayleen Charlote, 36, uma das vítimas do "golpista do Tinder", Shimon Hayut —mais conhecido como Simon Leviev.

Ayleen Charlotte, 36, é uma das vítimas do "Golpista do Tinder", e arca com dívidas até hoje - Divulgação/BioCatch

O israelense de 33 anos ganhou fama mundial após documentário homônimo da Netflix, de 2022, que detalha o seu modus operandi.

Simon é acusado de aplicar golpes em diversas mulheres que conhecia no aplicativo de namoro. Ele fingia ser um grande empresário do ramo de diamantes, as seduzia e, após meses de relacionamento, as convencia a lhe dar dinheiro por meio de grandes empréstimos, com a justificativa de que suas contas teriam sido bloqueadas por seus "inimigos" e que não poderia usar seus cartões de crédito para não revelar o seu paradeiro. Assim que conseguia o dinheiro, sumia de suas vidas.

Ayleen fez dois empréstimos de 60 mil euros para Simon, com juros anuais de 6,8% e de 8,3%. Além disso, ela transferiu outros 98 mil euros de sua conta para o seu então namorado.

Rapidamente, o pagamento dos empréstimos, junto à sua hipoteca, tomou toda a sua renda. Com os juros, os 60 mil viraram 85 mil. Abalada, Ayleen tampouco conseguia trabalhar e perdeu o emprego.

"Minha situação financeira era muito boa antes de conhecer Simon. Eu era gerente de varejo em uma marca de moda de luxo. Conseguia viajar de férias três a quatro vezes por ano e comprar coisas legais. E, depois, fiquei no vermelho em tudo. Não paguei minha hipoteca por três meses", disse Ayleen em entrevista à Folha.

A holandesa esteve em São Paulo em agosto como porta-voz da BioCatch, empresa de tecnologia bancária para prevenção e combate a fraudes via biometria comportamental, para falar sobre sua experiência e alertar clientes e instituições sobre golpes.

O maior medo de Ayleen era perder sua casa por falta de pagamento. Logo de início ela pediu socorro aos seus pais, que lhe deram um empréstimo, sem juros e prazo, apenas para que ela saísse do cheque especial.

"Depois que descobri que fui vítima de fraude, não senti nenhuma vergonha de compartilhar minha história com meus amigos e minha família, que disseram que iriam me apoiar. Tive muita sorte", afirma.

A mãe de Ayleen a acompanhou na delegacia de polícia para que ela registrasse boletins de ocorrência contra Simon, e seu pai a aconselhou a não vender seus bens.

"Eu não queria vender nada meu, apenas as coisas dele. Então, é possível manter seus bens, mesmo se você estiver com uma grande dívida, mas é preciso se ter foco", diz.

No seu último encontro com Simon, Ayleen já sabia que ele era um golpista procurado e que provavelmente nunca lhe pagaria de volta. Ela, então, pegou suas roupas de grife para vender pela internet. Foi essa renda que a ajudou a pagar suas contas. "Naquele momento, isso realmente impediu que eu me afogasse em dívidas".

Entre os itens, havia uma bolsa da marca Christian Louboutin de 4.000 euros, camisas de 1.000 euros da Louis Vuitton e suéteres de 950 euros da Gucci.

Os amigos de Ayleen também a ajudaram, planilhando todas as suas finanças. "Eles sabiam da minha situação, então não me convidavam para jantar fora, mas, sim, para comer na casa deles. Eles me ajudaram a economizar o máximo que eu pudesse. Isso foi muito importante porque também é um caminho para começar o processo de cura."

A holandesa também cancelou todas as assinaturas de serviços que não eram necessários, como streamings, e passou a economizar tudo o que era possível. Por dois anos, Ayleen diz ter vivido com 15 a 20 euros (R$ 93 a R$ 124) por semana. Para isso, anotava todos os gastos e acompanhava de perto a evolução dos juros dos empréstimos.

"Infelizmente, muitas pessoas que estão endividadas enfiam a cabeça na areia e não abrem mais as correspondências do banco. Mas você precisa entender que se fizer isso, só vai piorar".

Ela também diz ter dado sorte de que a pandemia de Covid-19 começou quando ela estava endividada. "Para ser sincera, sou uma das únicas pessoas no mundo que ficou feliz com a Covid porque ninguém podia viajar, sair para fazer compras ou para jantar. Ninguém poderia me apunhalar pelas costas com todas essas coisas legais."

Depois de um ano e meio de terapia de trauma, Ayleen voltou ao mercado de trabalho e realizou o seu sonho de vida de trabalhar na Louis Vuitton.

Desde que levou o golpe, há seis anos, ela paga 850 euros por mês ao banco, e ainda faltam 10 mil euros para quitar o débito.

Simon responde em liberdade pelos golpes em dezenas de mulheres de diversos países.

"É necessário que a sociedade se conscientize sobre o que as fraudes fazem com as pessoas, como elas funcionam e como se proteger", afirma Ayleen.

Para ela, o passo mais importante para se recuperar de um episódio como esse é compartilhar a história com alguém de confiança. "Você precisa de alguém ao seu lado que te levante. Não se sinta envergonhado ou burro porque qualquer um pode ser enganado."

COMO COLOCAR AS CONTAS EM ORDEM, SAIR DAS DÍVIDAS E COMEÇAR A INVESTIR

1. Mapeie o seu custo de vida

A primeira coisa a se fazer, independente da situação, é anotar todos os gastos. Todos mesmo.

2. Reajuste despesas e quite dívidas

Caso esteja endividado, ou com gastos equivalentes a ganhos, é necessário reajustar os hábitos financeiros para que sobre mais dinheiro ao fim do mês.

A prioridade é economizar o máximo possível para equalizar os compromissos o quanto antes. Quanto mais tempo se deve, mais se deve.

3. Reserve dinheiro para emergências

Depois dos reajustes no orçamento, é hora de olhar para os investimentos. O primeiro deles não é exatamente uma aplicação, mas um colchão de segurança: a reserva de emergência que deve equivaler a, no mínimo, seis meses de gastos.

4. Invista

Com a reserva de emergência constituída, é hora de investir uma parcela do salário mensalmente segundo os objetivos pessoais e o seu perfil de risco.

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