O dólar fechou em alta de 0,49% nesta terça-feira (3), a R$ 5,643, com investidores repercutindo o resultado acima do esperado do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro do segundo trimestre.
O dado, apesar de ser positivo e mostrar aceleração da economia, vem em um momento de incertezas em torno das próximas decisões de política monetária do BC (Banco Central) para controlar a inflação. A aposta crescente é que o Copom (Comitê de Política Monetária) vai elevar a Selic, a taxa básica de juros, na reunião de setembro —um cenário que ganhou força com o resultado da economia no segundo trimestre.
Já a Bolsa perdeu 0,41%, aos 134.353 pontos, pressionada pela queda firme da Vale e da Petrobras.
A economia brasileira cresceu 1,4% no segundo trimestre deste ano, na comparação com os três meses iniciais de 2024, apontam dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam crescimento de 0,9%.
A alta mostra aceleração da atividade econômica após avanço de 1% no primeiro trimestre. O desempenho de janeiro a março foi revisado para cima nesta terça pelo IBGE —de 0,8% para 1%.
O crescimento de 1,4% é o maior desde o quarto trimestre de 2020, quando a variação havia sido de 3,7%, sob impacto da base de comparação fragilizada pela pandemia.
Para analistas, a resiliência da economia pode levar o Copom (Comitê de Política Monetária) a adotar uma postura mais agressiva na batalha contra a inflação, "já que o avanço da atividade tende a subir os preços lá na frente", diz Cristiane Quartaroli, economista do Ouribank.
O comitê trabalha com a meta de inflação em 3%, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda) e com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. A taxa básica de juros do país, a Selic, é o principal instrumento do BC para controlar a alta de preços.
Na leitura de agosto do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15), a inflação desacelerou a 0,19% ante julho. Em 12 meses, a variação marcou 4,35%, próxima ao teto da meta.
A desancoragem de expectativas levou o Copom a uma comunicação mais dura na ata da última reunião, em julho, quando optou por manter a Selic em 10,50% ao ano pela segunda vez consecutiva.
Desde então, dirigentes do BC têm reiterado que uma alta nos juros está à mesa para os próximos encontros, se os dados indicarem que há necessidade de um novo ciclo de aperto monetário.
O resultado do PIB se soma aos números de emprego medidos pela Pnad Contínua, divulgada na sexta-feira pelo IBGE. Em mais um sinal de aquecimento, a taxa de desocupação recuou a 6,8% no segundo trimestre, o menor patamar para o período desde o início da série histórica do indicador, de 2012.
"Visto que o mercado de trabalho brasileiro se mostra mais aquecido do que se imaginava, que a atividade econômica também tem performado melhor do que se antecipava, essa situação deve se somar a um cenário que o Banco Central caracteriza como desconforto", aponta Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
Apostas de que o BC deve optar por um aperto de 0,25 ponto percentual na próxima reunião, marcada para 17 e 18 de setembro, têm crescido entre os agentes financeiros.
Nas curvas de juros, as taxas de curto prazo entraram em ajustes na esteira dos dados do PIB.
A percepção de que a economia aquecida pode pressionar a inflação deu força ao contrato para janeiro de 2026, um dos mais líquidos, que subiu 0,45%, precificando uma Selic em 11,935.
Já a taxa para janeiro de 2025, que reflete os juros no curtíssimo prazo, foi de 10,991% para 10,975%, com apostas de apertos graduais ganhando mais terreno.
Quanto maiores os juros no Brasil e menores nos Estados Unidos, pior para o dólar, que se torna menos atraente conforme os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro norte-americano, os Treasuries, caem.
A moeda americana chegou a atingir a mínima de R$ 5,576 na sessão, logo após a divulgação do PIB, mas passou a subir em meio às dúvidas sobre os juros daqui e do Estados Unidos, em linha com o movimento no exterior.
Por lá, investidores adotaram mais cautela antes da divulgação do "payroll" (folha de pagamento, em inglês), na sexta-feira. Os números do mercado de trabalho dos EUA têm ditado as apostas sobre o ritmo que o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) poderá cortar os juros.
A próxima decisão também está marcada para os dias 17 e 18 de setembro. Operadores veem 65% de chances de uma redução de 0,25 ponto percentual nos juros e 35% de probabilidade de um corte maior, de 0,50 ponto, segundo a ferramenta CME FedWatch.
Na cena corporativa, o Ibovespa foi pressionado pelas quedas do minério de ferro e do petróleo, que afetaram Vale e Petrobras, as duas empresas de maior peso no índice.
A mineradora perdeu 3,59%, enquanto os papéis preferenciais e ordinários da petroleira recuaram 1,20% e 1,26%, respectivamente.
Com Reuters
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