Siga a folha

Após protestos, governo do Líbano cancela taxa de 20 centavos sobre chamadas no WhatsApp

Medida proposta não chegou a entrar em vigor; ativistas pedem saída do premiê

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Beirute | Reuters

Assim como no Brasil de 2013, quando o aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus causou um levante nacional que trazia outras motivações de fundo, algo semelhante ocorre agora no Líbano.

Violentos protestos forçaram o governo do país a desistir do plano de cobrar uma taxa sobre chamadas de voz em aplicativos como o WhatsApp. 

A cobrança seria de 20 centavos de libra libanesa —equivalente a R$ 0,83— por dia para ligações feitas por meio de programas que usam a tecnologia Voip, que permite chamadas pela internet.​

A medida, anunciada na quinta (17) pelo ministro das Telecomunicações, Mohamed Choucair, era vista como solução para aumentar a receita do governo.

Manifestantes fazem selfie em frente a barricada durante protesto em Beirute contra governo do Líbano - Ali Hashisho/Reuters

O recuo, no entanto, veio horas mais tarde, após manifestantes se reunirem em frente à sede do governo no centro de Beirute. 

O levante, chamado de "revolução do WhatsApp" pela mídia local, é o maior no país em anos, e a segunda onda de protestos neste mês. 

A agitação levou o primeiro-ministro libanês, Saad Hariri, a cancelar uma reunião prevista para esta sexta (18) cuja pauta seria o orçamento de 2020.

Aos manifestantes, o premiê culpou aliados por obstruir as reformas que, segundo ele, resolveriam a crise econômica do país. Hariri condicionou o desbloqueio das medidas dentro de um prazo de 72 horas a uma ameaça de renúncia.

Apesar da revogação da taxa, o clima ainda é tenso no país. Manifestantes bloquearam estradas, incendiaram pneus e quebraram com barras de ferro fachadas de lojas de um elegante bairro no centro de Beirute. As escolas ficaram fechadas por ordem do governo. 

Algumas ruas da capital pareciam um campo de batalha repleto de balas de borracha, cápsulas de gás lacrimogêneo, vidros quebrados e outdoors rasgados.

Em uma ação sem precedentes, manifestantes xiitas atacaram escritórios de representantes da milícia Hizbullah e do movimento Amal no sul do Líbano.

Quando a noite caiu, multidões agitando bandeiras libanesas marcharam e dirigiram pelas ruas enquanto gritavam: "Nossas demandas são uma, nosso objetivo é um: as pessoas querem a queda do regime".

As manifestações têm sido vistas como sinal de aprofundamento do descontentamento da população frente a políticos que levaram o Líbano a uma crise econômica.

O governo, que inclui quase todos os principais partidos do país, está lutando para implementar reformas há muito adiadas e vistas como vitais para começar a resolver a crise.

Abalado por uma guerra civil entre 1975 e 1990, o Líbano é um dos países mais endividados do mundo: o crescimento econômico foi dificultado por conflitos e instabilidade regionais. O desemprego entre pessoas com menos de 35 anos chega a 37%.

A crise foi agravada por uma desaceleração dos fluxos de capital para o país do Oriente Médio, que há muito depende de remessas de expatriados para atender às necessidades de financiamento, incluindo o déficit do Estado.

A crise financeira aumentou o ímpeto de reforma, mas as medidas do governo ainda não convenceram os doadores estrangeiros, que ofereceram bilhões de dólares em assistência ao país condicionados a mudanças nas políticas fiscais.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas