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Sauditas abandonaram Hariri e torcem para que Hizbullah se enfraqueça

Crise econômica no Líbano piora, e Arábia Saudita nega ajuda

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São Paulo

A Arábia Saudita parece estar seguindo à risca a máxima atribuída a Napoleão Bonaparte: “Não faça nenhuma interferência quando seu inimigo estiver no processo de se destruir”.

Desde que os protestos no Líbano começaram a engrossar, culminando na renúncia do primeiro-ministro Saad Hariri nesta terça (29), a monarquia saudita tem se mantido estranhamente calada.

A crise econômica no Líbano —país que tem o terceiro maior endividamento do mundo— vem piorando. Cerca de 25% da população está desempregada. Cerca de 1,5 milhão de refugiados sírios (quase um quarto da população) sobrecarregam ainda mais a infraestrutura precária do país. Todos os libaneses dependem de geradores para ter eletricidade ininterrupta, por exemplo.

Mas a Arábia Saudita e os Emirados Árabes, que não titubearam em outras crises, negaram ajuda, apesar dos pedidos de socorro de Hariri, supostamente o protegido dos sauditas.

Desde o fim da guerra civil, em 1990, o Líbano se equilibra em delicada partilha de poder que segue linhas sectárias —o presidente é cristão, o primeiro-ministro é muçulmano sunita e o presidente do Parlamento é xiita.

A Arábia Saudita apoia Hariri e seu partido, de maioria sunita, enquanto o Irã sustenta o grupo xiita Hizbullah, parte da coalizão governista e que concentra o poder.

O príncipe saudita, Mohammed bin Salman, já tinha azedado com Hariri. Em 2017, o libanês foi sequestrado no país e forçado a renunciar temporariamente. Os sauditas acham que Hariri foi fraco com o Hizbullah.

Milícia xiita, o Hizbullah se formou após a invasão de Israel no Líbano em 1982. É considerado terrorista pelos EUA, União Europeia e pelo Brasil. No entanto, em regiões de maioria xiita, desempenha função assistencial, provendo saúde e educação.

Hariri deveria frear ambições do Hizbullah. Mas vem acumulando poder, após eleger vários legisladores e escolher ministros em 2018.

Por isso, enquanto a situação no Líbano degringolava, as monarquias do Golfo aguardavam tranquilamente. A percepção é que o governo é dominado pelo Hizbullah, então quanto pior, melhor. Os EUA também brecaram a ajuda ao Líbano, por acreditar que boa parte dos recursos acabariam nas mãos do grupo xiita.

Sufocado, Hariri dependia de empréstimo de US$ 11 bilhões costurado no ano passado com vários países. Mas o premiê precisava implementar um pacote de austeridade, com reformas impopulares —como o imposto sobre uso do WhatsApp, que foi o estopim dos protestos.

Hariri voltou atrás, mas a panela já havia sido destampada. O movimento popular se expandiu e reivindica a troca da elite no poder e o fim da divisão sectária no governo e da corrupção.

O Hizbullah tampouco está em situação confortável. As sanções americanas sobre o Irã afetaram duramente a economia. Com isso, Teerã tem menos dinheiro para apoiar o grupo, já sobrecarregado pela defesa do ditador Bashar al-Assad na Síria. Hassan Nasrallah, líder do Hizbullah, sabe que o vácuo de poder após a renúncia de Hariri é negativo ao grupo.

Apoiadores do Hizbullah começaram a agredir manifestantes, em defesa de Nasrallah, que era alvo de críticas. Até então, cristãos, sunitas e xiitas estavam unidos nas reivindicações. A brutalidade dos apoiadores do Hizbullah trouxe de volta o fantasma da violência sectária, que matou quase 150 mil pessoas nos 15 anos da Guerra do Líbano.

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