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Para evitar nova onda, desembarcar na China tem três etapas e pode levar 15 horas

Na luta contra Covid-19, nenhuma nação montou estrutura de contenção como o país asiático

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Rodrigo Zeidan
Xangai

“Por favor, não levantem e esperem sentados à avaliação dos nossos médicos e enfermeiros.”

É com essa ordem que começa, na China, o longo processo de desembarque em Xangai. Um voo de Paris ou Nova York para a cidade chinesa leva em média 12 horas, mas o processo de entrada no país pode chegar a outras 15 —numa conta que soma quase 30 horas de ponta a ponta.

Na luta para conter a expansão da Covid-19, nenhum país montou uma estrutura de contenção como a China.

O processo tem três etapas: triagem no avião, entrevistas e testes em terra, além da quarentena obrigatória monitorada.

Membro de segurança do aeroporto de Xangai, com roupa de proteção, ao lado de passageiro - Hector Retamal - 26.mar.20/AFP

A triagem inicial dentro da aeronave demora de duas a três horas, se a fila de voos não for grande, pois técnicos de saúde, em seus trajes especiais cobertos da cabeça aos pés, checam a temperatura e verificam outros potenciais sinais de infecção de cada passageiro.

Enquanto espera, o viajante preenche vários formulários, incluindo a indicação de endereço fixo em Xangai —o apartamento deve estar vazio para que alguém possa fazer quarentena em casa.

Se nessa checagem houver qualquer suspeita de infecção, o viajante é removido para uma ambulância à espera na pista e vai direto para o hospital.

Só então os outros passageiros desembarcam e são distribuídos por funcionários, sempre em trajes de proteção, em várias salas.

Nelas, todos terão suas temperaturas checadas outra vez e darão entrevistas detalhadas sobre onde estiveram antes de chegar à China.

Contatos são feitos com a administração dos condomínios, para que os funcionários do local estejam cientes de que o morador deve se isolar por 14 dias. Só então cada passageiro recebe um adesivo, verde ou amarelo, para pegar suas malas.

No raro caso de sinal verde, o viajante pode ir para casa. Amarelo? Vai para um hotel ou centro de inspeção para que seja testado, laboratorialmente, para a Covid-19.

Somente depois dos testes de cada passageiro do avião ficarem prontos é que eles podem entrar em ônibus que deixam cada um no endereço de quarentena. A maioria vai fazer o isolamento num hotel designado pelo governo.

Para os que vão para casa, a recepção é bem simples. Vai direto para o apartamento enquanto funcionários do condomínio lacram com plástico ou instalam um dispositivo eletrônico que informa toda vez que a porta é aberta.

Ela só pode ser aberta em duas situações: para receber comida e jogar o lixo, que vai ser desinfetado.

Como disse a síndica do meu condomínio: há oito famílias fazendo quarentena e estamos muito preocupados com o bem-estar deles —ou seja, estão mesmo é preocupados com a segurança dos outros moradores.

Esse processo todo é extremamente custoso. Eram cerca de 10 mil passageiros chegando aos aeroportos de Xangai por dia, do exterior ou de outras províncias. O sistema chinês não aguentou.

Não há quartos de hotel para todos. Em Nova York, os voos para a China partiam completamente lotados, com muita gente tentando escapar do epicentro da crise nos EUA.

O país decidiu fechar as fronteiras: estrangeiros, mesmo com residência permanente, como é o meu caso, estão proibidos de entrar no país, até segunda ordem.

A prioridade é evitar uma segunda onda. Para que seja possível reabrir o país, é preciso testar quase todo mundo e rastrear cada caso.

Como mostra o complexo processo de entrada no país, é preciso recursos e infraestrutura. Será que algum outro país conseguiria fazer o mesmo?

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ e colunista da Folha.

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