Siga a folha

Lei antiaborto mais restritiva dos EUA entra em vigor após silêncio da Suprema Corte

Ato do Batimento Cardíaco proíbe interrupção da gravidez após 6ª semana no Texas

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Washington | AFP e Reuters

Uma lei que proíbe o aborto após seis semanas de gestação, período em que muitas mulheres ainda não sabem que estão grávidas, entrou em vigor nesta quarta (1º) no estado do Texas, após a Suprema Corte dos Estados Unidos não se pronunciar sobre um pedido de veto feito por entidades que defendem o direito à prática.

Promulgado em maio pelo governador do estado, o republicano Greg Abbott, o chamado Ato da Batida do Coração não faz exceções para estupro ou incesto e é o mais restritivo do tipo no país. A Suprema Corte ainda pode aceitar o recurso de organizações de defesa dos direitos civis, incluindo a União Americana de Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês) e a Planned Parenthood, que questionam a constitucionalidade do ato.

Mulheres vestidas com roupas em referência à série 'The Handmaid's Tale' protestam contra projeto de lei antiaborto do lado de fora da sede do Legislativo do Texas, em Austin - Sergio Flores - 29.mai.21/Getty Images/AFP

A medida deve banir quase a totalidade dos abortos no Texas, já que de 85% a 90% das mulheres que passam pelo procedimento atualmente estão grávidas de mais de seis semanas. Assim, várias clínicas que realizam o procedimento devem fechar, afirmam as entidades que protestam contra a lei.

O presidente dos EUA, Joe Biden, reagiu, chamando a lei de radical e prometendo defender o direito constitucional das americanas ao aborto. Segundo ele, a regra vai "complicar enormemente o acesso das mulheres aos serviços de saúde, especialmente em comunidades negras ou de menores recursos".

"Esta lei radical do Texas viola descaradamente o direito constitucional estabelecido no caso Roe vs. Wade e mantido como precedente por quase meio século", afirmou o democrata em um comunicado, referindo-se à decisão histórica da Suprema Corte em 1973 que estabeleceu o direito ao aborto nos EUA.

Depois desse marco, que permitiu a interrupção da gravidez enquanto o feto não é viável —até por volta de 22 a 24 semanas—, nenhum outro estado conseguiu restringir o direito ao aborto no início da gravidez.

Pela legislação texana, qualquer pessoa poderá processar uma clínica por realizar um aborto depois que as batidas do coração do feto forem detectadas, o que acontece em torno da sexta semana de gestação.

O denunciante —que nem precisa morar no Texas ou ter qualquer relação com a grávida— pode também processar quem tiver auxiliado o aborto, como quem pagou pelo procedimento ou até o motorista de táxi que levou a mulher até a clínica, algo sem precedente no país.

O ato vai mais longe, premiando as pessoas por vigiarem umas às outras. Quem denunciar uma clínica pode receber ao menos US$ 10 mil (hoje, o equivalente a mais de R$ 50 mil) de indenização paga pelo réu, se o caso for bem-sucedido. Para a ACLU, a iniciativa "cria um esquema de caça a recompensas que encoraja a abertura de processos judiciais contra qualquer um que eles acreditem ter violado a proibição".

Clínicas que realizam aborto no estado funcionaram até a meia-noite, quando o ato entrou em vigor, correndo para atender o máximo possível de pacientes antes de a proibição começar a valer.

Em seu perfil no Twitter, a democrata Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados, declarou que o ato anula as proteções às mulheres e afirmou que vai lutar pela manutenção do direito ao aborto no país.

Além do Texas, outros estados republicanos tentaram aprovar atos parecidos, mas a Suprema Corte tinha barrado todos até agora. O tribunal deve examinar nas próximas semanas um caso envolvendo uma lei estadual do Mississippi que proíbe o aborto após a 15ª semana de gravidez, exceto em casos de emergência médica ou anomalia fetal grave.

​Espera-se que o julgamento comece em outubro deste ano e vá até junho de 2022.

Encorajados por um Judiciário cada vez mais conservador, estados americanos aprovaram um número recorde de medidas antiaborto neste ano. Segundo o Instituto Guttmacher, especializado em direito reprodutivo, foram 90 restrições já no primeiro semestre, superando o total de 2011.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas