Manifestantes chineses estão recorrendo a folhas de papel em branco para expressar sua raiva pela política de Covid zero imposta pelo regime, em atos de dissidência reunindo milhares que têm ocupado as ruas de diversas cidades do país há alguns dias.

Imagens e vídeos que circulam online mostram estudantes de universidades em cidades como Nanjing e Pequim segurando folhas de papel em branco em protestos silenciosos, uma tática usada em parte para fugir da censura ou prisão e que já havia sido empregada anteriormente nos protestos pró-democracia em Hong Kong.

A onda de atos, provavelmente a maior já enfrentada pelo líder Xi Jinping desde que assumiu o poder, foi desencadeada por um incêndio em um apartamento que matou 10 pessoas na quinta (24) em Urumqi. Nesta cidade do extremo oeste algumas pessoas ficaram confinadas por até cem dias, alimentando especulações de que as medidas de bloqueio contra a Covid podem ter impedido a fuga dos moradores.

Em Xangai, uma multidão que começou a se reunir na noite de sábado (26) para fazer uma vigília à luz de velas pelas vítimas de Urumqi ergueu folhas de papel em branco, segundo testemunhas e vídeos.

Um vídeo amplamente compartilhado, que não pôde ser verificado de forma independente, mostrou uma mulher solitária nos degraus da Universidade de Comunicação da China, na cidade de Nanjing, com um pedaço de papel antes de um homem entrar em cena e pegar o papel.

Outras imagens mostraram dezenas de pessoas subindo os degraus da universidade com folhas de papel em branco, iluminadas contra o céu noturno por lanternas de seus telefones celulares. Mais tarde, um homem pode ser visto repreendendo a multidão por seu protesto.

"Um dia você vai pagar por tudo que fez hoje", disse ele, em vídeos vistos pela agência de notícias Reuters. "O Estado também terá que pagar o preço pelo que fez", gritaram as pessoas na multidão.

Manifestações semelhantes já haviam ocorrido em Hong Kong, em 2020, logo após Pequim impor medidas que praticamente eliminaram os protestos no território. Uma delas foi tornar ilegal as bandeiras e faixas com slogans usadas pelos ativistas no ano anterior.

"Este pedaço de papel branco representa o terror branco", disse a estudante Carrie, de 17 anos, ao site Rappler, das Filipinas, usando um termo chinês para perseguição política.

Protestos generalizados são raros na China, onde o espaço para dissidência foi praticamente eliminado, forçando os cidadãos a desabafar nas redes sociais, onde brincam de gato e rato com os censores.