Descrição de chapéu China Coronavírus

Protestos se espalham pela China, na maior onda desde que Xi assumiu o poder

Manifestações contra política de Covid zero sustentada pelo regime ocorrem em cidades como Pequim e Xangai

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Pequim e Xangai | Reuters

Protestos contra a restritiva política chinesa de Covid zero sustentada pelo regime de Xi Jinping se multiplicaram neste domingo (27), com cenas registradas em cidades como Pequim, Wuhan e Xangai e em universidades. A onda de atos pode ser a maior na China continental desde que o líder assumiu o poder.

A sequência de desobediência civil começou depois de um incêndio atingir um prédio residencial e deixar dez pessoas mortas na noite de quinta-feira (24) na região chinesa de Xinjiang, que esteve sob um dos bloqueios mais longos do país. Para manifestantes na capital Urumqi, a manutenção da política de Covid zero pode ter causado as mortes.

Em uma rua cercada de pessoas com máscaras, um homem entra em confontro com policiais que usam coletes amarelos
Polícia entra em confronto com um homem que bloqueava a rodovia Wulumuqi, em Xangai, em área em que manifestantes se concentravam - Hector Retamal/AFP

Nas primeiras horas da madrugada desta segunda-feira (28) em Pequim, dois grupos de manifestantes, totalizando pelo menos mil pessoas, reuniram-se ao longo do terceiro anel viário da capital chinesa, perto do rio Liangma, recusando-se a se dispersar. "Não queremos máscaras, queremos liberdade", dizia um dos grupos. "Não queremos testes de Covid, queremos liberdade."

A China vem registrando recordes de novos casos da doença há dias. Neste sábado (26), foram quase 40 mil novas infecções, segundo dados oficias. Ao longo dos últimos dias, a média móvel de casos, que leva em conta a média dos sete dias anteriores, tem se aproximado de 26 mil —no início do mês, estava em torno de 2 mil.

O país defende a política de Covid zero como forma de evitar a sobrecarga de seu sistema de saúde. A estratégia envolve confinamentos em larga escala, restrições de viagens e testes em massa e manteve as mortes por coronavírus muito mais baixas do que em outros lugares, mas tem sido um golpe para a economia do país.

Também tem, como mostram as cenas deste fim de semana, escalado a insatisfação. As manifestações ocorrem apenas um mês após o 20º Congresso do Partido Comunista Chinês conferir a Xi um inédito terceiro mandato à frente da potência asiática.

Em Xangai, cidade mais populosa da China, centenas de manifestantes entraram em confronto com a polícia neste domingo, no terceiro dia de protestos. Antes, muitos deles levantaram folhas de papel em branco como um símbolo de protesto contra a censura.

De acordo com vídeos que circularam em redes sociais, houve gritos de "suspendam o bloqueio de Urumqi, suspendam o bloqueio de Xinjiang, suspendam o bloqueio em toda a China". As filmagens não puderam ser verificadas. Um grupo também teria gritado "abaixo o Partido Comunista, abaixo Xi Jinping", em um raro protesto público contra a liderança do país e a ditadura de partido único.

Durante o domingo, a polícia manteve forte presença na rodovia Wulumuqi e isolou as ruas ao redor, de acordo com vídeos. À noite, centenas de pessoas se reuniram novamente perto de um dos cordões de isolamento, algumas segurando folhas de papel em branco.

"Estou aqui por causa do incêndio em Urumqi. Estou aqui pela liberdade. O inverno está chegando. Precisamos de liberdade", um manifestante afirmou à Reuters. Uma testemunha entrevistada pela agência afirmou ter visto ao menos sete pessoas serem presas.

"Nós só queremos direitos humanos básicos. Não podemos sair de casa sem fazer um teste", disse um manifestante de 26 anos que pediu para não ser identificado. "Os manifestantes não estão sendo violentos, mas a polícia está prendendo sem motivo. Eles tentaram me agarrar, mas as pessoas ao meu redor agarraram meus braços com tanta força que consegui escapar."

Na Universidade Tsinghua, em Pequim, dezenas de pessoas realizaram um protesto pacífico contra as restrições. Elas cantaram o hino nacional chinês, de acordo com imagens e vídeos publicados em redes sociais. Em um vídeo que não pôde ser verificado, um estudante universitário incitou a multidão a falar. "Se não ousarmos falar porque temos medo, as pessoas ficarão desapontadas conosco."

Em Wuhan, onde a pandemia começou há três anos, manifestantes foram às ruas neste domingo, derrubando barricadas, tendas de teste de Covid e exigindo o fim dos bloqueios, de acordo com vídeos nas redes sociais. Pessoas também foram às ruas de Chengdu, capital da província de Sichuan, no sudoeste do país.

Outras cidades que registraram protestos são Lanzhou, no noroeste, onde os moradores destruíram tendas para testagem da Covid neste sábado e Nanjing, que registrou vigília com velas em uma universidade.

A onda de protestos públicos é rara na China continental, onde dissidentes são presos, a mídia social recebe censura e grupos independentes de direitos humanos foram banidos. Para Dan Mattingly, professor de ciência política na Universidade de Yale, nos EUA, as manifestações vão deixar o PC Chinês sob pressão.

"Há uma boa chance de que uma resposta seja a repressão, com prisão e ações judiciais contra manifestantes", disse Mattingly. Ainda assim, diz o especialista, as manifestações estão longe da proporção vista no episódio conhecido como massacre da praça da Paz Celestial em 1989.

Muitos dos que presenciaram os protestos disseram se lembrar da onda de manifestações que tomou Hong Kong, ex-colônia britânica, em 2019. Os atos pediam mais democracia na região e foram reprimidos pelo regime, que ampliou a presença e instaurou a rígida Lei de Segurança Nacional, hoje base jurídica para prender opositores e jornalistas sob a acusação de que eles ameaçaram a soberania nacional e flertaram com agentes estrangeiros uma vez que participaram ou apoiaram verbalmente os atos que emergiam nas ruas honconguesas.

A dúvida, agora, é sobre qual será a resposta à insatisfação que emana dos protestos nas principais cidades chinesas.

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