Ex-conselheiros de Trump propõem plano que condiciona ajuda à Ucrânia a diálogo com a Rússia
Autor de proposta diz que retorno de ex-presidente foi positivo, mas campanha de republicano diz que só declarações dele mesmo ou de porta-vozes são consideradas oficiais
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Dois dos principais conselheiros de Donald Trump durante seu mandato apresentaram a ele um plano para encerrar a guerra da Rússia na Ucrânia. Segundo a proposta, em caso de vitória do republicano nas eleições, os Estados Unidos só enviariam mais armas à Ucrânia se o país entrar em negociações de paz com a Rússia.
O general da reserva Keith Kellogg, um dos conselheiros de segurança nacional de Trump, afirmou que os EUA, ao mesmo tempo, alertariam Moscou de que qualquer recusa em negociar a paz resultaria em um aumento no apoio dos americanos a Kiev.
Segundo o plano elaborado por Kellogg e Fred Fleitz, que serviram como chefes de gabinete no Conselho de Segurança Nacional de Trump, haveria um cessar-fogo com base nas linhas de batalha prevalecentes durante as negociações de paz.
Eles apresentaram sua estratégia a Trump, e o ex-presidente respondeu favoravelmente, disse Fleitz. "Não estou afirmando que ele concordou com isso ou concordou com cada palavra, mas ficamos satisfeitos com o retorno que recebemos", disse ele.
No entanto, o porta-voz de Trump, Steven Cheung, disse que apenas declarações feitas por Trump ou membros autorizados de sua campanha devem ser consideradas oficiais.
A estratégia delineada por Kellogg e Fleitz é o plano mais detalhado até agora por aliados de Trump. O ex-presidente americano afirma que poderia resolver rapidamente a Guerra da Ucrânia se derrotar Joe Biden na eleição de 5 de novembro, embora não tenha discutido detalhes para essa ação.
A proposta marcaria uma grande mudança na posição dos EUA sobre a guerra e enfrentaria oposição de aliados europeus e dentro do próprio partido Republicano.
O governo russo disse que qualquer plano de paz proposto por um possível governo Trump teria que refletir a realidade do momento, mas que o presidente russo Vladimir Putin permanecia aberto a negociações.
"O valor de qualquer plano está nos detalhes e em levar em conta a realidade do momento da guerra. O presidente Putin disse repetidamente que a Rússia continua aberta a negociações, levando em conta a realidade da guerra. Permanecemos abertos a negociações", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, à Reuters.
O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia não respondeu a pedidos de comentários sobre o plano.
ADESÃO À OTAN SUSPENSA
Os elementos principais do plano foram apresentados em um artigo de pesquisa divulgado pelo Instituto de Política America First, um grupo simpático a Trump no qual Kellogg e Fleitz ocupam cargos de liderança.
Kellogg disse que seria crucial levar Rússia e Ucrânia à mesa de negociações rapidamente se Trump vencer a eleição.
"Dizemos aos ucranianos, 'Vocês têm que vir à mesa, e se não vierem, o apoio dos Estados Unidos acabará'", disse ele. "E você diz a Putin, 'Ele tem que vir à mesa; se não vier, então daremos aos ucranianos tudo o que precisam para acabá-lo no campo de batalha'"
De acordo com o artigo, Moscou também teria o estímulo de negociar com a promessa de adiar a adesão da Ucrânia à Otan, a aliança militar liderada pelos EUA, por um período prolongado.
Fleitz disse que a Ucrânia não precisa ceder formalmente território à Rússia sob seu plano. Ainda assim, ele afirma que Kiev provavelmente não recuperaria o controle efetivo de todo o seu território a curto prazo. "Nossa preocupação é que isso se tornou uma guerra de atrito que vai matar toda uma geração de jovens", disse ele.
Uma paz duradoura exigiria garantias de segurança adicionais para a Ucrânia, disseram Kellogg e Fleitz. Fleitz acrescentou que "armar a Ucrânia até os dentes" provavelmente seria um elemento-chave disso.
"O presidente Trump afirmou repetidamente que uma das principais prioridades em seu segundo mandato será negociar rapidamente o fim da guerra", disse o porta-voz de Trump, Steven Cheung. "A guerra entre Rússia e Ucrânia nunca teria acontecido se Donald Trump fosse presidente."
A campanha de Biden disse que Trump não está interessado em enfrentar Putin. "Donald Trump elogia Vladimir Putin sempre que pode e deixou claro que não vai se opor a Putin ou defender a democracia", disse o porta-voz da campanha do atual presidente, James Singer.
VANTAGEM
Alguns republicanos estariam relutantes em pagar por mais recursos para a Ucrânia sob o plano. Os EUA gastaram mais de US$ 70 bilhões em ajuda militar para Kiev desde a invasão de Moscou, em fevereiro de 2022.
"O que [os apoiadores de Trump] querem fazer é reduzir a ajuda, se não cortar o fornecimento", disse Charles Kupchan, membro sênior do Conselho de Relações Exteriores. Putin afirmou neste mês que a guerra poderia terminar se a Ucrânia concordasse em abandonar suas ambições de ingressar na Otan e entregar quatro províncias do leste e sul reivindicadas pela Rússia.
Durante uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas na semana passada, os embaixadores francês e britânico reiteraram sua visão de que a paz só pode ser buscada quando a Rússia se retirar do território ucraniano, posição compartilhada por Kiev.
Vários analistas também expressaram preocupação de que o plano de Kellogg e Fleitz poderia dar a Moscou a vantagem nas negociações. "O que Kellogg está descrevendo é um processo inclinado para a Ucrânia desistir de todo o território que a Rússia ocupa agora", disse Daniel Fried, ex-secretário assistente de Estado que trabalhou na política russa.
Durante uma entrevista em podcast na semana passada, Trump descartou o envio de tropas dos EUA para a Ucrânia e se mostrou cético em relação à adesão da Ucrânia à Otan. Ele indicou que cortaria rapidamente a ajuda a Kiev se eleito em novembro.
Biden tem consistentemente pressionado por mais recursos a Kiev, e seu governo apoia uma eventual entrada do país à Otan. Em junho, Biden e o presidente ucraniano Volodimir Zelenski assinaram um acordo de segurança bilateral de 10 anos.
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