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Ativistas pró-Palestina veem Kamala com desconfiança, e Gaza vira nó para campanha da vice

Insatisfação com o presidente se estende à sua vice, e muitos eleitores planejam não votar

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Washington

A substituição de Joe Biden por Kamala Harris renovou as esperanças de muitos democratas com engajamento do eleitorado negro e jovem, mas pode não ser suficiente para recuperar o apoio dos simpatizantes do partido críticos ao apoio dado pelo atual governo a Israel.

Kamala falou sobre o conflito em Gaza pela primeira vez desde que se tornou a provável candidata democrata nesta quinta-feira (25). Em comunicado, ela condenou as ações de alguns dos participantes da manifestação contra o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, na véspera.

O ato, que reuniu milhares de pessoas na estação de trem Union, em Washington, ocorreu ao mesmo tempo em que o líder discursava na sede do Congresso dos Estados Unidos.

Sandra protesta contra discurso de Netanyahu no Congresso dos EUA - Folhapress

"Condeno quaisquer indivíduos que se associam com a brutal organização terrorista Hamas, que prometeu aniquilar o Estado de Israel e matar judeus", afirma a vice na nota, fazendo referência às mensagens que diziam que o "Hamas está vindo" pichadas em um monumento no local do protestos.

"Apoio o direito de protestar pacificamente, mas sejamos claros: o antissemitismo, o ódio e a violência de qualquer tipo não têm lugar em nossa nação."

Ao longo da guerra Israel-Hamas, as falas de Kamala foram com frequência mais duras do que as de Biden em relação a Tel Aviv e à tragédia humanitária na região.

No entanto, mesmo que defenda uma posição diferente de Biden se eleita, o fato de continuar servindo no seu governo limita a margem de manobra de Kamala para divergir do mandatário na campanha.

Diversos manifestantes com quem a Folha conversou durante o protesto disseram que, em sua visão, a vice é tão responsável quanto Biden pela atuação americana no conflito no Oriente Médio.

Ao mesmo tempo, eles afirmam que ainda há tempo de Kamala se diferenciar de Biden. Alguns viram com bons olhos o fato de ela não ter participado da sessão legislativa em que o premiê israelense discursou —enquanto vice, Kamala é presidente do Senado, mas sua equipe havia avisado na semana passada que ela não participaria por um conflito de agenda.

"Biden desistiu da candidatura por causa do nosso movimento", disse William Chan, 48. Vestindo um uniforme militar, ele afirmava ser veterano do Exército e ter servido no Iraque em 2002 e 2003.

A visão de Chan ecoa a perspectiva de muitos defensores do voto não comprometido nas primárias, uma campanha que, na prática, tentou boicotar a nomeação de Biden como o candidato do partido. O esforço, no entanto, não foi o suficiente para ameaçar a candidatura do presidente, que só desistiu após forte pressão sofrida em razão de seu desempenho desastroso em um debate contra Donald Trump.

Ainda assim, o movimento se viu revigorado com a saída do octogenário, chamado de "Joe genocida", da corrida. "Se Kamala quer ser presidente, ela precisa repensar sua política para o Oriente Médio", completou Chan.

Carregando um cartaz com a frase "democratas contra o apartheid e o genocídio", Sandra expressou opinião semelhante. "Se Kamala quiser ser eleita, ela não precisa só reconhecer o Estado Palestino por meio de um longo plano para a paz, tem que ser algo rápido. Ela precisa reconhecer que houve um genocídio em Gaza", disse.

"Se Kamala não cortar as relações com Israel, não terá meu voto", afirmou o jovem Tayyab, de 24 anos. De família muçulmana, ele mora em Baltimore (Maryland), e viajou cerca de duas horas a Washington para participar da manifestação.

"Ela não está no discurso do Netanyahu por uma preocupação com a sua imagem, todos nós sabemos que ela vai se encontrar com ele na quinta", disse, em referência à reunião bilateral prevista entre os dois.

Manifestantes pró-Palestina protestam contra fala do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, que discursou no Congresso dos EUA em Washington - Nathan Howard - 24.jul.24/Reuters

De origem palestina, Hind, 31, mora nas proximidades da capital americana. Ela diz que não vê diferença entre Kamala e Biden, e que a vice teria que mudar suas visões se quiser que a eleitora mude as dela. A jovem não pretende votar em ninguém para presidente em novembro.

Esse é o mesmo plano de Mohamed, 25. De Cleveland (Ohio), ele afirma que votou em Biden em 2020, mas se arrependeu. "Kamala é a mesma coisa, não se importa com nada que não a sua própria agenda. É triste, porque ela é uma mulher não branca, está na minoria. Mas está do lado errado", disse.

Na visão do jovem, "o sistema todo é corrupto". Ele não estava sozinho —o mesmo pensamento era expresso em um grande cartaz com a frase "toda a p. do sistema precisa acabar", acompanhada das imagens de Trump (chamado de fascista), Biden (chamado de genocida) e Kamala (chamada de assassina).

Alguns manifestantes, no entanto, se mostraram mais abertos a votar na vice, se não por um genuíno apoio, ao menos por pragmatismo.

"Espero que Kamala seja diferente de Biden, mas não acho que será. Mas eu vou votar nela. Também ia votar no Biden. Na verdade, eu vou votar em qualquer um que não seja o Trump", disse Ted, 43, que veio da Filadélfia, localizada no estado-pêndulo da Pensilvânia, para o protesto.

Já Lia, 20, não pretendia votar quando Biden era o candidato, mas agora diz estar repensando a decisão. "Não tenho certeza o que acho de Kamala, mas é interessante que ela não esteja no Congresso hoje para ver o Netanyahu", disse.

A exceção encontrada pela reportagem foi Chloe, 21. Estudante de cinema em Maryland, ela disse que até chorou quando Kamala se tornou a candidata (quase) oficial democrata. "Como uma pessoa queer, eu já ia votar no Biden por falta de opção, porque o outro é muito pior. Mas o fato de Kamala estar concorrendo agora é tão bom", afirmou.

Manifestantes protestam contra Biden, Kamala e Trump, afirmando que os três são iguais em sua política para o Oriente Médio - Folhapress

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