Manifestantes e policiais entram em confronto durante protesto contra Netanyahu nos EUA

Premiê de Israel fala ao Congresso; ativistas pedem fim do apoio americano a Tel Aviv

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Washington

Milhares de manifestantes protestaram em Washington contra o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, que discursou ao Congresso dos Estados Unidos nesta quarta (24). Houve confronto com a polícia, e pelo menos duas pessoas foram presas.

A polícia do Capitólio chegou a usar spray de pimenta contra parte do grupo que, segundo as autoridades, "tornou-se violento e desobedeceu a ordem de se afastar da linha policial".

Um grupo que se concentrou em frente à estação de trem Union, próxima do Capitólio, ateou fogo em uma bandeira americana que estava hasteada em frente ao local e em um boneco de Netanyahu. Um monumento localizado na praça foi pichado por um homem com a frase "Hamas está vindo". Houve confronto com a polícia no local.

A polícia legislativa do Congresso Americano impede o avanço de manifestantes pró-Palestina em Washington, capital dos EUA - Umit Bektas - 24.jul.24/Reuters

Carregando bandeiras da Palestina, os participantes acusaram Netanyahu de ser um criminoso de guerra e criticaram tanto as lideranças dos partidos Democrata e Republicano no Legislativo quanto o governo Joe Biden por supostamente serem complacentes com as ações de Israel na Faixa de Gaza.

"Isso é um genocídio. Pessoas como [o líder do governo na Câmara] Hakeem Jeffries e [o líder do governo no Senado] Chuck Schumer acham que é adequado trazer Netanyahu para o Congresso? Isso é imperdoável", afirma Sandra. Com tinta vermelha no rosto para simular sangue, ela carregava um cartaz com a frase "democratas contra o apartheid e o genocídio".

"Nós, eleitores democratas, estamos de olho. Biden, [o secretário de Estado, Antony] Blinken, [o conselheiro de Segurança Nacional, Jake] Sullivan deviam sentir vergonha", disse.

Desde o início do conflito em Gaza, cujo estopim foram os ataques de 7 de outubro que deixaram 1.200 mortos, mais de 39 mil palestinos morreram durante a ofensiva israelense.

"Temos um criminoso de guerra aqui. Isso não é aceitável. Exigimos que ele seja preso e expulso", afirmou Tayyab, 24, que fez a viagem de cerca de duas horas de Baltimore a Washington para participar do protesto.

O grupo começou a se reunir por volta das 11h (horário local) nas proximidades do Capitólio e marchou em direção à sede do Congresso americano pouco antes de o discurso de Netanyahu começar, às 14h. A área, no entanto, estava fortemente policiada, e as vias de acesso, interditadas.

O clima no protesto era tenso. A reportagem presenciou pessoas gritando com policiais, chamando-os de porcos e afirmando que eles deveriam estar atrás do verdadeiro criminoso, dentro do Congresso. Também viu dois carros da polícia pichados com a frase "Gaza livre" e palavrões.

Um grupo de policiais de Nova York, que estava na capital americana para auxiliar no esquema de segurança, expulsou, por sua vez, manifestantes que estavam sentados na sombra em um gramado —fazia sol e mais de 30º C.

Nas duas prisões observadas pela reportagem, um grupo de policiais que estava concentrado em um bloqueio se dirigiu ao protesto repentinamente e trouxe uma pessoa de volta à área de bloqueio.

A polícia não justificou as prisões, que despertaram revolta nas pessoas ao redor. Muitos gritavam que o manifestante alvo da prisão não havia feito nada de errado.

Os manifestantes se concentraram em seguida em frente à estação de trem Union, próxima do Capitólio. Por volta das 15h, a aparente prisão de um manifestante gerou um confronto com a polícia.

Também houve tensão com pessoas que vieram ao protesto para defender Israel. Um grupo de ex-soldados israelenses viajou do país aos EUA há três dias, por iniciativa própria, segundo eles, para defender sua atuação na guerra.

Os manifestantes pediam a libertação da Palestina, o fim da ocupação israelense e a interrupção do apoio dos EUA a Israel. Um grande boneco de Netanyahu com as mãos sujas de sangue circulava no protesto.

O perfil dos manifestantes era diverso, mas predominantemente jovem. Havia famílias com crianças e muitas mulheres vestindo o hijab, o véu islâmico.

Usando um uniforme militar, William Chan, 48, carregava uma placa na qual dizia ser um veterano do Exército e que não seria cúmplice de genocídio. "Eu servi de 1999 a 2011, e em 2002 e 2003 fui enviado ao Iraque. Percebi depois que aquela guerra era um grande erro, e me dediquei a não deixar isso acontecer de novo. O 7 de Outubro se parece muito com o 11 de Setembro e queria que alguém tivesse falado comigo naquela época o que eu estou falando para as pessoas agora", disse.

"Eu fui parte de crimes de guerra no Iraque, mas o universo me deu uma segunda chance para ser melhor. Todos merecem uma segunda chance, até Netanyahu, mas ele precisa ir para a prisão primeiro", comentou, rindo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.