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Descrição de chapéu Eleições na Venezuela

Ex-presidentes se dizem impedidos de ir à Venezuela por regime de Maduro

Após vaivém, Caracas fecha fronteiras terrestres, como em 2018; imigrantes residentes na Colômbia relatam terem documentos retidos ao cruzarem para lado venezuelano

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Caracas

No embalo da disputa de narrativas que marca as eleições na Venezuela, ex-presidentes da América Latina aliados à dobradinha opositora Edmundo González e María Corina Machado disseram nesta sexta-feira (26) terem sido impedidos de voar do Panamá a Caracas.

Do grupo fazem parte os ex-presidentes Mireya Moscoso (Panamá), Vicente Fox (México), Jorge "Tuto" Quiroga (Bolívia) e Miguel Ángel Rodríguez (Costa Rica). Eles afirmaram terem sido orientados pela companhia Copa Airlines a sair da aeronave porque, enquanto estivessem presentes, o voo não tinha permissão para partir.

Cidadãos se aglomeram ao redor de membros da Guarda Nacional Bolivariana na ponte Simon Bolívar após fronteira terrestre Colômbia-Venezuela ter sido fechada, em Villa del Rosario; fronteiras aéreas venezuelanas seguem abertas - AFP

O trio não está credenciado como observador eleitoral do processo de votação que ocorrerá neste domingo (28), mas iria a Caracas como convidado de María Corina, a principal líder opositora. Nos últimos dias, figuras-chaves do chavismo disseram que eles não eram bem-vindos e que não tinham permissão para entrar no país.

O primeiro a abordar o tema foi o recém-empossado presidente do Panamá, José Raúl Mulino, desagravo de Nicolás Maduro. No X, disse que um avião da Copa com os ex-líderes não pôde sair do aeroporto de Tocumen. Ainda que com horas de atraso, o voo partiu da Cidade do Panamá, como se podia checar no sistema online da companhia.

Quando a reportagem procurou a assessoria de Mulino, a informação era a de que, quando o voo estava prestes a decolar, a torre de controle de Barranquilla, na Colômbia, informou que aeronaves da Copa eram impedidas no espaço aéreo venezuelano, proibição que só cairia horas depois. Nenhum aviso oficial de Caracas havia sido feito ao Panamá.

Pouco depois, o chanceler panamenho afirmou que fez uma reprimenda a Caracas e que o Ministério de Transportes venezuelano teria dito que nenhum outro voo seria impedido de ir ao país.

A campanha de Edmundo González também afirmou na tarde desta sexta que uma delegação do conservador Partido Popular (PP), da Espanha, composta por deputados e senadores, não pôde entrar na Venezuela. Caracas tampouco comentou esse tema, e todas as autoridades com quem a reportagem tentou falar não atenderam às chamadas ou responderam às mensagens enviadas.

Ainda nas redes sociais, a autoridade aérea venezuelana afirmou ser falsa qualquer informação de que o espaço aéreo do país tenha sido fechado. De fato, pessoas que estavam no aeroporto caraquenho relataram que os voos estavam chegando normalmente.

A Copa Airlines não havia comentado o caso.

O mesmo não ocorre nas fronteiras terrestres do país, com Brasil, Colômbia e Guiana, fechadas nesta madrugada após um vaivém de informações. Inicialmente os militares venezuelanos haviam mencionado que o fechamento terrestre teria início no começo da semana, o que foi adiado e quase cancelado.

O Fanb (Força Armada Nacional Bolivariana da Venezuela) informou que o acesso de civis e de veículos nas fronteiras por terra estaria impedido de 0h01 desta sexta até a manhã da próxima segunda (29).

O fechamento das fronteiras terrestres ocorre em todas as eleições, em horário e dia acordado entre os governos, não sendo novidade. A Venezuela o fez em suas eleições presidenciais de 2018. E a Colômbia, um dos países fronteiriços com a Venezuela, fechou suas fronteiras no processo eleitoral de 2022, quando Gustavo Petro foi eleito.

Relatos in loco, no entanto, dão conta de que imigrantes venezuelanos que vivem na Colômbia, maior destino da diáspora do país vizinho, estão tendo seus documentos retidos ao cruzar a fronteira.

Algumas dessas pessoas teriam tido permissão de agentes da Guarda Nacional Bolivariana para entrar em seu país natal. "Isso é para que não possamos votar no domingo, um absurdo", diz José Hurtado, 62, que vive em Cúcuta, na Colômbia, mas que tem residência eleitoral em San Antonio, na Venezuela, e se encaminhava para votar no fim de semana.

"Eu vou votar por Edmundo. Aliás, todo mundo aqui nesta região vai, mas isso que tem a ver?". Nos portões fechados do posto aduaneiro, havia um pequeno protesto, de cerca de 20 pessoas, que reclamavam o mesmo. "Nos ajudem" e "queremos votar", diziam.

Embora o fechamento das fronteiras terrestres aconteça sempre na semana anterior à eleição, a população fronteiriça tem a possibilidade de continuar transitando. O fechamento fora anunciado suspenso pelas autoridades venezuelanas e colombianas na quinta (25), mas, na manhã desta sexta, já havia placas metálicas impedindo o trânsito.

Os ex-presidentes que continuam no Panamá e afirmam terem sido impedidos de viajar à Venezuela integram o Grupo Idea, que reúne políticos conservadores da Espanha e da América Latina e apoia Edmundo González no processo eleitoral venezuelano.

Além deles, Alejandro Bongiovanni, um deputado conservador da Argentina, disse ter sido deportado da Venezuela e colocado em um voo com destino ao Panamá.

Enquanto isso, em Caracas, outros ex-líderes, esses convidados pelo regime, chegaram e foram encaminhados ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) para falar com a imprensa. Entre eles, Ernesto Samper (Colômbia) e Leonel Fernández (República Dominicana), que a jornalistas elogiaram o sistema eleitoral da Venezuela.

"Estamos muito satisfeitos com o que vi de perto do processo eleitoral venezuelano. É um dos sistemas mais blindados da América Latina", disse Samper. Horas depois, numa entrevista coletiva no Panamá, a mensagem daqueles ex-líderes que ali estavam era bem distinta. O grupo acusou Maduro de asfixiar a democracia e forçar seus cidadãos a emigrarem, levando a crises de refugiados na vizinhança.

Celso Amorim chegou a Caracas no começo da noite de sexta. Assessor especial para assuntos internacionais de Lula, ele viajou para observar o pleito. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) também havia sido convidado e mandaria dois técnicos, mas desistiu após Maduro questionar o sistema eleitoral brasileiro.

Organizações de imigrantes venezuelanos que vivem no Brasil enviaram carta à ministra Cármen Lúcia, que preside o TSE, pedindo que o órgão reveja sua decisão e envie observadores para apoiar a lisura do processo eleitoral.

Colaborou Sylvia Colombo

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