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Brasil avalia que reconhecimento de González por EUA prejudica solução diplomática

Aliados de Lula fazem paralelo com período em que Juan Guaidó foi reconhecido por países como presidente interino

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Brasília

Integrantes do governo Lula (PT) dizem que a decisão dos Estados Unidos de reconhecer o opositor Edmundo González como presidente eleito na Venezuela prejudica a solução diplomática buscada por Brasil, Colômbia e México.

Na quinta-feira (1º), o secretário de Estado americano, Antony Blinken, divulgou uma nota reconhecendo a vitória da oposição do ditador Nicolás Maduro.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, participa de uma entrevista coletiva durante viagem oficial à Mongólia, em Ulaanbaatar, capital do país. - REUTERS

Até então, Washington tinha manifestado "preocupações sérias" de que a proclamação de Maduro como vencedor não refletia a vontade do povo venezuelano e, assim como o Brasil, cobrado a apresentação de documentos que corroborassem o resultado anunciado pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral).

O gesto americano foi seguido por Uruguai, Equador, Costa Rica e Panamá. "Era esperado, mas não ajuda", disse à Folha Celso Amorim, assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais.

Na avaliação de auxiliares de Lula, o governo Joe Biden se precipitou com o posicionamento, que segundo eles prejudica a costura por uma saída que evite o acirramento da disputa na Venezuela.

Maduro disse na quinta que 1.200 pessoas já haviam sido presas nos protestos que eclodiram no país após sua contestada reeleição. Ele prometeu prender mais mil. Até o momento, 11 civis morreram nos protestos, segundo a ONG Foro Penal, que acompanha a situação de presos políticos na Venezuela.

Integrantes do governo Lula dizem ainda que o reconhecimento de González atrapalha sobretudo porque tira da mesa de negociação a possibilidade do levantamento das sanções impostas pelos EUA à Venezuela —o Brasil é tradicionalmente crítico das sanções.

Além do mais, aliados de Lula dizem que o reconhecimento de González alimenta a hostilidade entre EUA e Venezuela e vira um argumento para Maduro alegar estar enfrentando o imperialismo americano.

A decisão dos EUA também pode criar resistências para que González aceite sentar numa mesa de negociação com Maduro, ainda de acordo com conselheiros de Lula.

A principal frente de ação do Brasil é uma articulação com México e Colômbia, países que evitaram fazer críticas duras contra Maduro. Os três países divulgaram na quinta um comunicado conjunto no qual pediram uma verificação imparcial dos resultados da eleição na Venezuela.

No texto, eles pedem ainda "máxima cautela e contenção" para evitar a "escalada de episódios violentos" no país.

Os líderes de Brasil, México e Colômbia adotaram diferentes tons ao comentar a situação. Gustavo Petro (Colômbia) afirmou ter "graves dúvidas" sobre a legitimidade do resultado publicado pelo regime de Maduro. O presidente Lula disse não ver nada de anormal nas eleições e afirmou que a arbitragem final deveria caber à Justiça.

Por fim, o mexicano Andrés Manuel López Obrador declarou que outros países não deveriam "meter as mãos nem o nariz" no processo.

De acordo com integrantes do governo brasileiro, o próximo passo articulado por Brasil, México e Colômbia é um encontro entre os chanceleres desses países, possivelmente em Caracas.

Dentre as discussões, está a possibilidade de uma reunião entre Maduro e González sem a presença de María Corina Machado, líder da oposição e candidata impedida de concorrer na disputa. A hipótese foi publicada pelo El País e confirmada pela Folha.

Maduro reagiu à decisão dos EUA e afirmou que os americanos deveriam tirar o nariz da Venezuela. "Os Estados Unidos saem para dizer que a Venezuela tem outro presidente. Os Estados Unidos devem tirar o nariz da Venezuela, porque o povo soberano é quem governa na Venezuela, quem nomeia, quem escolhe", disse o ditador, segundo a agência AFP.

Amorim, em entrevista ao programa do jornalista Kennedy Alencar, afirmou que a possibilidade de isolamento da Venezuela preocupa o Brasil, assim como a hipótese de perseguição aos chavistas caso a oposição chegue ao poder. Ele disse ainda estar decepcionado com a demora de Maduro em apresentar as atas.

Um integrante do governo disse ainda que a decisão do Departamento de Estado americano é uma espécie de "Guaidó 2", em referência a Juan Guiadó, líder da oposição que se autoproclamou presidente venezuelano em 2019. Ele está exilado nos EUA desde 2023.

O ponto levantado por assessores de Lula é a impossibilidade, neste momento, de reconhecer a vitória de qualquer um dos lados.

A reeleição de Maduro foi anunciada pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela) após o pleito de domingo (28). Segundo o presidente do órgão, Elvis Amoroso, o ditador havia recebido 52% dos votos, contra 43% de González, com 97% das urnas apuradas.

A eleição foi marcada por controvérsias e falta de transparência. Maduro disse que apresentará as atas, mas ainda não o fez.

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