'Não tem nada de grave, nada de anormal', diz Lula sobre eleição contestada na Venezuela

Trata-se da primeira declaração do presidente desde pleito; mais tarde, ele falou com Joe Biden por telefone

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta terça-feira (30) não ver "nada de anormal" em relação à eleição na Venezuela, ocorrida no domingo (28) e na qual foi declarada a reeleição do ditador Nicolás Maduro.

"O PT reconheceu, a nota do partido dos trabalhadores reconhece, elogia o povo venezuelano pelas eleições pacíficas que houveram. E ao mesmo tempo ele reconhece que o colégio eleitoral, o tribunal eleitoral já reconheceu o Maduro como vitorioso, mas a oposição ainda não. Então, tem um processo. Não tem nada de grave, não tem nada de assustador", disse.

O presidente Lula participa de cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília
O presidente Lula participa de cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília - Gabriela Biló - 26.jul.24/Folhapress

"Eu vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial. Não tem nada de anormal. Teve uma eleição, teve uma pessoa que disse que teve 51%, teve uma pessoa que disse que teve 40 e pouco por cento. Um concorda, o outro não. Entra na Justiça e Justiça faz", completou.

Esta foi a primeira declaração de Lula sobre o resultado da eleição, que vem sendo questionado por um grupo de líderes regionais e pela oposição do país. O governo brasileiro, por sua vez, soltou uma nota pedindo a divulgação das atas, sem felicitar Maduro.

A declaração foi feita em entrevista à TV Centro América, afiliada da TV Globo em Mato Grosso, na manhã desta terça. A entrevista foi gravada fora da agenda, e trechos foram divulgadas à tarde pela rede GloboNews.

Lula disse ainda que, se for confirmada a veracidade das atas de votação, há obrigação de se reconhecer o pleito, e falou de uma proposta de nota conjunta com México e Colômbia.

"Na hora que tiver apresentado as atas, e for consagrado que a ata é verdadeira, todos nós temos a obrigação de reconhecer o resultado eleitoral da Venezuela. Há uma proposta que está sendo feita de que Brasil, México e Colômbia assinassem uma nota conjunta. Não acho que é necessária muita coisa não", disse.

Os governos do Brasil, da Colômbia e do Chile estão negociando uma declaração conjunta. As chancelarias desses países adotaram posições parecidas, no sentido de pedir a divulgação de dados individualizados, mas até a noite desta terça o documento conjunto ainda não tinha sido publicado.

"É necessário apenas o seguinte: presidente Maduro sabe perfeitamente bem que, quanto mais transparência houver, mais chance ele terá de ter tranquilidade para governar a Venezuela. Porque nós, eu enquanto cidadão do planeta Terra, cidadão brasileiro, enquanto presidente, acho que é preciso acabar com a ingerência externa nos outros países", afirmou ainda Lula.

"Venezuela tem o direito de construir o seu modelo de crescimento e de desenvolvimento sem que haja um bloqueio. Um bloqueio que mata Cuba há 70 anos, que penaliza o Irã, a Venezuela. Cada um constrói o seu processo democrático, cada um tem o seu processo eleitoral", completou.

Na noite de segunda (29), a executiva nacional do PT afirmou, em nota, que o processo eleitoral que elegeu Maduro foi uma "jornada pacífica, democrática e soberana". O partido cumprimentou o povo venezuelano pela eleição e declarou ter certeza que o CNE (Conselho Nacional Eleitoral), que apontou a vitória de Maduro, "dará tratamento respeitoso para todos os recursos que receba, nos prazos e nos termos previstos na Constituição da República Bolivariana da Venezuela".

Na tarde desta terça, Lula conversou com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, por telefone para discutir a crise que eclodiu na Venezuela após as eleições. Os EUA aplicam sanções econômicas aos três países citados por Lula na entrevista: Irã, Cuba e Venezuela. A conversa durou cerca de 30 minutos.

De acordo com comunicados divulgados pelo Planalto e pelo governo dos EUA, os líderes concordaram na necessidade de que as informações detalhadas da votação fossem publicadas.

A nota da Casa Branca diz ainda que os dois concordaram que o resultado da eleição representa um momento crítico para a democracia na região, e se comprometeram em continuar coordenados neste tema.

O CNE, órgão controlado pelo chavismo, declarou vencedor Maduro. O resultado foi imediatamente contestado pela oposição, cujo candidato foi o diplomata Edmundo González, e por um grupo de países na região.

Eclodiram protestos na Venezuela, que desde a segunda (29) deixaram seis pessoas mortas e mais de 740 detidas.

O governo Lula, aliado histórico do chavismo, ainda não felicitou Maduro. Em nota divulgada na segunda, o Itamaraty defendeu a publicação pelo CNE "dados desagregados por mesa de votação".

Enviado por Lula para acompanhar o pleito, o assessor internacional da presidência, Celso Amorim, também defendeu a publicação das atas das mesas eleitorais. Ele disse, porém, que até o momento nem a oposição nem o governo comprovaram terem vencido o pleito.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, manifestou na segunda "grave preocupação" com a possibilidade de o resultado não refletir a vontade da população e pediu uma apuração "justa e transparente".

No dia seguinte, uma porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca afirmou que há sinais claros de que o resultado eleitoral anunciado pelo CNE não reflete a vontade do povo venezuelano expressada na votação.

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