Descrição de chapéu Eleições na Venezuela

Petro vai na contramão de Lula e diz ter 'graves dúvidas' sobre vitória de Maduro

Presidente da Colômbia sugere que regime de Maduro deve permitir observação internacional do pleito

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Bogotá (Colômbia) | AFP

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, pediu nesta quarta-feira (31) uma análise transparente do resultado das eleições presidenciais da Venezuela diante do que chamou de "graves dúvidas" sobre a legitimidade do resultado oficial do pleito.

Ele se referia ao anúncio do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano da madrugada de segunda (29), quando o órgão afirmou que, com 80% das urnas apuradas, Maduro teria obtido 51,2% votos, enquanto González teria apoio de 44,2% —diferença que tornaria a vitória do líder irreversível, segundo o regime.

"Convido o governo venezuelano a permitir um escrutínio transparente [da votação], com contagem de votos, [divulgação das] atas [eleitorais] e supervisão de todas as forças políticas nacionais, além da presença de observadores internacionais profissionais", escreveu o colombiano na plataforma X.

Um homem em um terno escuro está em pé atrás de um púlpito, falando ao microfone. Ao fundo, há uma bandeira da Colômbia, com as cores amarela, azul e vermelha. O ambiente é bem iluminado, com uma decoração que sugere um evento formal.
O presidente colombiano, Gustavo Petro, durante Congresso em Bogotá, na Colômbia, em 20 de julho; após questionamentos dos resultados das eleições venezuelanas, ele pediu análise transparente - Nathalia Angarita - 20.jul.24/Reuters

"As graves dúvidas que cercam o processo eleitoral venezuelano podem levar seu povo a uma profunda e violenta polarização, com consequências graves", prosseguiu.

Este foi o primeiro comentário público do líder, primeiro chefe de Estado de esquerda da Colômbia, sobre a situação da Venezuela. Ele havia discutido o tema a portas fechadas com seu conselho de ministros na terça (30), porém —mesmo dia em que o chanceler colombiano, Gilberto Murillo, insistiu que as autoridades de Caracas comprovem a vitória do chavismo por meio da divulgação das atas do pleito.

A declaração de Petro reforça o coro de países e entidades internacionais que pede que o regime permita que observadores independentes confirmem o resultado oficial.

Também nesta quarta, os chanceleres dos países que compõem o G7, que reúne algumas das maiores economias do mundo, pediram em nota a divulgação de "resultados eleitorais detalhados com total transparência". Assinam o documento todos os membros do grupo: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido.

Na véspera, o Peru foi além, reconhecendo o opositor Edmundo González como presidente eleito. O anúncio foi seguido pela ruptura, por parte da Venezuela, dos laços diplomáticos com o país andino.

Antes, Caracas tinha expulsado diplomatas de Lima e da Argentina, Chile, Costa Rica, Panamá, República Dominicana e Uruguai depois que essas nações divulgaram um comunicado conjunto exigindo maior transparência da Venezuela. Dirigentes de algumas dessas nações, como os presidentes da Argentina, Javier Milei, e do Uruguai, Luis Lacalle Pou, ainda acusaram o governo Maduro de ter manipulado os resultados.

A declaração de Petro destoa daquela feita por outro presidente latino-americano de esquerda: Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em entrevista a um canal afiliado à TV Globo na manhã da terça, o petista disse não ver nada de anormal em relação à contestada reeleição de Maduro e descreveu a situação como "um processo" em curso.

"Vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial. Não tem nada de anormal. Teve uma eleição, teve uma pessoa que disse que teve 51%, teve uma pessoa que disse que teve 40 e pouco. Um concorda, o outro não", afirmou Lula na ocasião, acrescentando que quem deveria arbitrar a decisão é a Justiça.

Lula é um aliado histórico do chavismo, e chegou a receber o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, com honras em maio de 2023.

Antes das eleições deste fim de semana, porém, a relação entre o Brasil e o regime vinha estremecendo.

Em março, o governo brasileiro criticou pela primeira vez o processo eleitoral em Caracas, devido ao veto da ditadura à candidatura de Corina Yoris a presidente —ela representava o principal nome da oposição, María Corina Machado, impedida de concorrer.

Depois, em junho, Lula destacou a importância da presença de observadores internacionais no pleito em conversa com Maduro. O ditador tinha acabado de revogar um convite que tinha feito à União Europeia para que enviasse uma missão de observação eleitoral.

Nos dias que antecederam a votação, o petista disse ter ficado assustado com uma declaração de Maduro sobre a possibilidade de "um banho de sangue" caso fosse derrotado. O ditador ironizou a fala do brasileiro e, em resposta a ela, disse que "quem se assustou que tome um chá de camomila".

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