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Maurício Antônio Lopes: O mundo mudou, e a Embrapa também

Empresa foca setores com pouco interesse privado

Soja plantada sobre milho em área de experimentos de ILPF (integração lavoura-pecuária-floresta) da Embrapa em Sinop (MT) - Gabriel Cabral - 6.dez.17/Folhapress

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O mundo está em franca mudança, o que nos impõe a necessidade de renovação sistemática dos ângulos de visão para melhor ajuste de rumos em direção ao futuro.

A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que acaba de completar 45 anos, é um bom exemplo no dinâmico setor do agronegócio. Por muito tempo na liderança da pesquisa em melhoramento genético e no fornecimento aos produtores de sementes de importantes culturas, como a soja, a empresa viu sua participação nos mercados mais competitivos ser reduzida, em função da aprovação das legislações de patentes e proteção de cultivares no fim dos anos 90.

Com mecanismos para a proteção da propriedade intelectual, enormes investimentos privados alcançaram os setores mais dinâmicos do agronegócio, como o de genética e sementes. Em vez de aplicar recursos públicos para competir nesse mercado, a Embrapa fortaleceu sua atenção a setores estratégicos que pouco interessavam às empresas privadas.

O melhoramento de pastagens tropicais é exemplo de uma escolha estratégica que ajuda a nossa pecuária a alcançar posição de grande destaque no mundo. Se no futuro a pesquisa privada se interessar por esse setor, a Embrapa reduzirá sua pesquisa em pastagens e destinará esforços a outros setores ainda carentes de pesquisa e inovação.

Embora o risco de oligopolização decorrente de concentração nos mercados de genética e insumos ocorra em todo o mundo e preocupe os produtores brasileiros, infelizmente está além da capacidade da pesquisa pública contrapor-se a tal movimento.

Não faria sentido a Embrapa optar por reduzir seu escopo de atuação e concentrar recursos escassos para competir com empresas privadas em mercados extremamente intensivos em capital. Para solucionar tais imperfeições de mercado, políticas públicas e mecanismos de livre concorrência é que precisam ser eficientemente mobilizados.

A pesquisa pública funciona de maneira semelhante a uma "locomotiva limpa-trilhos", que vai à frente, assumindo missões de maior risco e prazos longos, para que as empresas encontrem caminho livre para investir com segurança. Abertos os caminhos, a pesquisa pública, com desapego, busca novos desafios.

A pesquisa agropecuária brasileira tem cumprido muito bem essa função, de acordo com o que atestam seus impactos na transformação do cerrado, na tropicalização de cultivos, no zoneamento agrícola de risco climático, na agricultura de baixa emissão de carbono, no apoio ao Código Florestal, na inteligência territorial estratégica e logística, entre outros.

Todas essas medidas são implementadas com recursos escassos, pois o Brasil ainda investe pouco em ciência. Ainda assim, a Embrapa, do mesmo modo que sua contraparte francesa, o Institut National de la Recherche Agronomique (INRA), mantém uma relação percentual de 80/20 para os orçamentos de pessoal e operações. E busca incessantemente, por meio de parcerias público-privadas, a proporção internacionalmente ideal, de 70/30.

Sua credibilidade e relevância seguem cada vez mais fortalecidas, conforme atestam os 24,5 milhões de downloads recebidos em 2017 no seu rico acervo de informações, além das inúmeras práticas e processos agropecuários melhorados, centenas de variedades de cereais, raízes, tubérculos, hortaliças, pastagens, frutas temperadas e tropicais disponibilizados aos produtores em todos os cantos do país.

A empresa continuará se ajustando às transformações no planeta e na sociedade de modo a seguir entregando valor, impacto e orgulho para todos os brasileiros.

Maurício Antônio Lopes

Formado em agronomia e presidente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) desde 2012

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