Dia do Pedestre: por uma cidade mais caminhável
É preciso mudar a maneira como a cidade enxerga o pedestre
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De acordo com a pesquisa Origem e Destino do Metrô, publicada recentemente, andar é o meio mais usado de transporte na região metropolitana de São Paulo, incluindo 31% de viagens diretamente até o destino e também os mais de 36% de viagens em transporte público, que normalmente incluem trechos a pé.
No entanto, historicamente, o planejamento da mobilidade em São Paulo tem negligenciado essa parcela enorme da população, o que explica as pontes que não permitem a passagem de pedestres, calçadas esburacadas e, pior, que pedestres continuem a ser o maior grupo de pessoas mortas no trânsito.
Para mudar esse quadro, aproveito o Dia do Pedestre, comemorado nesta quinta-feira (8), para fazer algumas sugestões ligadas à maneira como a capital paulista trata o andar a pé.
A primeira é assumir a importância do andar a pé nas políticas e na administração públicas. Nas grandes cidades do mundo, o andar a pé tem ganhado espaço. Aqui, temos acompanhado ações erráticas ao longo das várias gestões.
Como, por exemplo, o mesmo decreto municipal que estabelece uma inédita e bem-vinda verba de R$ 400 milhões para o conserto de passeios também extingue o órgão que centralizava as políticas de calçadas, deixando a responsabilidade de implantação para as subprefeituras. Ficamos sem uma área que centralize as grandes estratégias para o andar.
Na frente da legislação, pode-se dizer que temos leis suficientes, mas que precisam ser regulamentadas e aplicadas. É o caso das calçadas irregulares, em que apenas 2% das multas emitidas são efetivamente pagas. Existe uma importante proposta de lei, já aprovada na Câmara Municipal, que estabelece mecanismos para financiar a estrutura e os investimentos na caminhabilidade —o Estatuto do Pedestre—, mas não há notícia de sua regulamentação por parte da prefeitura.
Nenhum plano ficará completo se não contemplar especificamente a periferia. Apesar de pesquisa recém-publicada pela Rede Nossa São Paulo mostrar descontentamento em todos os bairros, os resultados também revelam que é na periferia que os problemas são mais graves.
Por conta de uma negligência histórica, as periferias têm falta de calçadas, travessias perigosas, falta de sinalização e uma disputa desigual com os carros. É preciso tratá-las com mais carinho ainda do que a região central, para garantir que as pessoas possam sair de suas casas e chegar à escola, à padaria ou à farmácia.
A mesma coisa pode ser dita a respeito da acessibilidade. No último sábado (3), foi muito bonito ver cadeirantes sendo conduzidos até o Parque do Carmo, na zona leste, em vans da prefeitura para curtir a Festa das Cerejeiras. Enquanto houver pessoas com deficiências físicas que as impeçam de sair de casa, a cidade não terá alcançado a cidadania plena.
Por fim, é bom lembrar que o caminhar é muito mais do que chegar de A a B. É também uma maneira de experimentar a cidade. Pesquisa qualitativa feita para a tese “O pedestre e a cidade: mobilidade e fruição em São Paulo”, de minha autoria, mostra que, dadas condições mínimas de infraestrutura e segurança, andar pode ser muito prazeroso.
Segundo homens e mulheres entrevistados, andar permite liberdade de escolha de trajetos, acesso às compras, encontrar pessoas, parar e até sonhar, como nessa inspiradora descrição de um entrevistado: “As melhores ideias da minha vida tirei caminhando”.
Uma politica consistente de caminhabilidade pode levar a um resultado surpreendente: melhorar a qualidade de vida na capital.
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