Da Cultura à sinecura
Novo cargo concedido a Regina Duarte é acinte que reflete loteamento do setor
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Foi fugaz e turbulento o casamento da atriz Regina Duarte com o governo Jair Bolsonaro. Na quarta-feira (20), menos de três meses após assumir a Secretaria Especial da Cultura, a artista deixou o cargo.
As partes se esforçaram para mostrar que o divórcio não ocorreu de forma litigiosa. Em vídeo gravado ao lado do presidente, uma esfuziante Regina anunciou que passará a comandar a Cinemateca Brasileira —numa vergonhosa concessão de sinecura vendida ao público como saída honrosa.
Com a saída da atriz, acentua-se a barafunda que se instalou desde o início do ano passado na gestão federal do setor, palco de tumulto administrativo, infâmia ideológica e trocas de comando sucessivas.
Rebaixada de ministério a secretaria, a Cultura primeiro esteve vinculada à pasta da Cidadania. Depois, foi instalada no inexpressivo Ministério do Turismo. Em março, com Regina Duarte, já contava a passagem de quatro titulares —após uma alusão grotesca ao nazismo ter derrubado o diretor teatral Roberto Alvim.
Vista inicialmente como uma esperança de apaziguamento entre o governo e a comunidade artística, a atriz logo demonstrou falta de capacidade para a função. Terminou engolfada pela guerrilha bolsonarista e por intervenções externas.
Mais uma vez, a autonomia prometida por Bolsonaro revelou-se um embuste, e Regina teve liberdade mínima para nomeações.
Protagonizou ainda episódios constrangedores, como a desastrosa entrevista à CNN Brasil, quando mostrou nostalgia pelo ufanismo dos tempos ditatoriais, e a omissão diante de mortes de nomes importantes das artes nacionais.
Seja pelo histórico recente, seja pela aversão bolsonarista às artes e à educação, pouco se pode esperar do sucessor de Regina. O ataque à cultura, de todo modo, não se dá apenas no topo, e se espraia para os órgãos ligados à secretaria.
Estes, hoje, servem de abrigo a apaniguados do presidente, caso da Fundação Nacional de Artes, são veículo de torpe tentativa de revisionismo histórico, como a Fundação Palmares, ou empregam pessoas sem qualquer qualificação na área, a exemplo do que ocorre no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Instituições de Estado vão, assim, sendo minadas pelo aparelhamento ideológico e pela ignorância orgulhosa. A direita faz, de modo desavergonhado, o que acusava a esquerda de fazer.
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