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Fernando Canzian

Lula está nu

Não há muita perspectiva para investimentos produtivos sustentarem o PIB

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Fernando Canzian
Fernando Canzian

Foi secretário de Redação, editor de política, do Painel, do programa "TV Folha" na TV Cultura e correspondente em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.

São Paulo

"Só quando a maré baixa é que descobrimos quem estava nadando pelado." Atribuída ao investidor Warren Buffett, a máxima expôs nesta semana a fragilidade de Lula na economia.

Bastou o mercado global ver sinais de que os EUA não baixarão os juros tão cedo, frente a pressões inflacionárias, que as perspectivas para emergentes desajustados azedaram. Moedas locais perderam valor, com impactos na inflação, à medida que investidores correram para títulos dos EUA.

Caso do Brasil, onde o arcabouço fiscal oferece baixa credibilidade de que diminuirá a relação entre a dívida bruta e o tamanho do PIB —indicador de solvência do país. No fim de 2023, a proporção era de 74,3%, mas o mercado (Focus) enxerga 87% em 2030.

O presidente Luiz Inacio Lula da Silva (PT) no Palacio do Planalto - Gabriela Biló - 28.mar.24/Folhapress - Folhapress

O mecanismo não é complicado. Investidores preferem garantir entre 5,25% e 5,50% ao ano em papéis do Tesouro dos EUA, para uma inflação de 3,5%, do que arriscar dinheiro no Brasil. Ou, alternativamente, exigem juros maiores do Tesouro brasileiro —e eles subiram para 6% ao ano (mais IPCA) nesta semana, ante 5,5% em janeiro (caso das NTN-B).

Há duas saídas para reduzir a relação dívida/PIB. Crescer mais ou fazer superávits primários, a economia no gasto para abater dívida. Até aqui, o Brasil não cortou despesas; e aumenta impostos para fazer superávits. Mas não está funcionando.

Do lado do PIB, o país cresceu 3% em 2022 e 2,9% em 2023, níveis turbinados, respectivamente, por gastos bilionários de Jair Bolsonaro na eleição e a PEC da Transição (R$ 145 bilhões) de Lula.

O anabolizante do gasto acabou. Passa-se agora ao aumento do crédito; e as novas concessões de empréstimos cresceram 9,1% em 12 meses até fevereiro. É sustentável? Só se o juro cair, algo incerto agora.

Não há também muita perspectiva para investimentos produtivos sustentarem o PIB. Quem investirá numa nova fábrica ou comércio se, sem fazer nada, ganha-se 6% ao ano, mais inflação, emprestando a um governo gastador?

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