Siga a folha

Descrição de chapéu

Riscos na retomada

Reabertura requer plano estratégico para mitigar impacto da epidemia no emprego

Lucas Rocha, 25, tem carteira assinada por uma boate em Florianópolis, mas está sem trabalhar, e portanto sem receber, desde março. Têm se apoiado no benefício emergencial do governo para trabalhadores intermitentes para garantir renda - Anderson Coelho/Folhapress

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Com a reabertura progressiva da economia, surgem dados que mostram uma significativa diminuição do número de trabalhadores que ficaram afastados do mercado pela pandemia. Na terceira semana de agosto eram 4 milhões, ante quase 20 milhões no início de maio.

A volta à atividade é boa notícia, mas não um indicativo de normalização do mercado de trabalho, que terá sequelas mais duradouras.

A crise radicalizou as diferenças em várias dimensões. Muitos setores permeáveis à tecnologia foram vitoriosos, com a aceleração da digitalização, enquanto serviços mais cotidianos ainda amargam ocupação inferior a 50% da capacidade.

Da mesma forma, trabalhadores de alta qualificação puderam, em maior proporção, trabalhar de casa, diferente de outros com menor escolaridade e de ocupações informais, que precisaram contar mais com o auxílio emergencial.

O corte de R$ 600 para R$ 300 no suporte governamental, a partir de outubro, é a preparação para sua extinção no final do ano, como reafirmou o presidente Jair Bolsonaro nesta semana.

Sem o auxílio e com menor restrição à movimentação, é provável que volte a crescer a busca por trabalho. Na pandemia, foram fechados 10,4 milhões de empregos. Nos cálculos do IBGE, no entanto, entre fevereiro e junho a taxa de desemprego subiu de 11,4% para 13,2%, o que parece pouco.

A razão é que 9,9 milhões de pessoas (9,3% da população ativa) deixaram de procurar vagas e, portanto, de integrar o rol de desempregados captados pela pesquisa.

A população economicamente ativa, aquela empregada ou em busca de trabalho, deve aumentar o desemprego caso não consiga uma ocupação. É provável que isso ocorra, pois serviços fortemente empregadores, como entretenimento, turismo, alimentação fora do domicílio, entre outros, não devem voltar à normalidade até meados do ano que vem.

O quadro fica mais dramático se forem considerados os desalentados, que abarcam principalmente jovens, mulheres e pessoas de baixa escolaridade. Hoje, são 24 milhões de pessoas desempregadas, que trabalham menos do que gostariam ou que estão em desalento.

É verdade que os indicadores recentes sugerem uma forte recuperação na segunda metade do ano. A retração do PIB em 2020 pode ficar em torno de 5%, bem melhor que o projetado há algumas semanas.

Mas o desafio maior está mais adiante. Mesmo se a volta do crescimento surpreender, é plausível que isso ocorra com menos empregos. Não será fácil evitar que a desigualdade seja ainda mais radicalizada no pós pandemia, ainda mais com um governo sem diagnóstico ou planos de envergadura.

editoriais@grupofolha.com.br

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas