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O que a Folha pensa Governo Lula

Ministros dão mostras de sensatez, Lula não

Planejamento e Fazenda fomentam debate crucial sobre controle de gastos, mas chefe de governo volta a preferir demagogia

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Fernando Haddad, ministro da Fazenda, e Simone Tebet, ministra do Planejamento - Adriano Machado/Reuters

Há um descompasso evidente na política econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Enquanto as pastas da Fazenda e do Planejamento dão sinais de compreender a necessidade de mudar as atuais regras insustentáveis de expansão do gasto público, o presidente da República volta a alimentar o descrédito nos planos de ajuste.

As demonstrações mais explícitas de sensatez partiram da ministra Simone Tebet, do Planejamento, em entrevista ao jornal Valor Econômico. Ali, mesmo medindo palavras, ela expõe o avanço de estudos internos para a contenção de despesas "no atacado".

Entre elas destaca-se a desvinculação entre o salário mínimo e os benefícios previdenciários e sociais. Outra providência, também considerada correta por esta Folha, seria rever os desembolsos mínimos em educação, corrigidos pelo crescimento da receita.

Fernando Haddad, da Fazenda, fez um movimento importante ao recomendar publicamente a leitura de um artigo de Bráulio Borges, da Fundação Getulio Vargas.

No texto, o economista defende medidas de aumento de arrecadação, base da estratégia governista, mas também desatrelar o mínimo da Previdência e alterar os pisos da educação e da saúde.

Nada disso deveria ser encarado como retrocesso nas políticas sociais —ao contrário, trata-se de estabelecer prioridades, preservando recursos para os estratos mais carentes, e evitar que um novo colapso orçamentário eleve a inflação, os juros, o desemprego e a pobreza.

A valorização do salário mínimo terá mais condições de prosseguir se deixar de sobrecarregar as contas do INSS, garantida a correção das aposentadorias pela inflação.

As dotações para saúde e educação devem ser estabelecidas à luz da situação orçamentária e de metas setoriais. As transformações demográficas implicarão maior necessidade de recursos para a primeira e menor para a segunda.

Alheio às preocupações expressadas por seus auxiliares, Lula se entrega à demagogia inconsequente. Em entrevista a emissoras de rádio nesta terça (7), desdenhou das metas fiscais e fez comparação descabida entre a dívida pública brasileira —excessiva para um país emergente— e as de países ricos que pagam juros muito menores.

Declarações como essas, repetidas desde o início do governo, fazem despencar a credibilidade da política econômica, cujas diretrizes são de responsabilidade intransferível do Executivo federal.

Compreende-se assim por que Haddad, em meio esforço inglório de advogar a busca pelo equilíbrio do Orçamento, limita suas cobranças a um Congresso de fato perdulário. O ministro, afinal, não pode culpar o próprio chefe.

editoriais@grupofolha.com.br

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