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Coração da galáxia

Buraco negro na Via Láctea revela o poder da ciência para iluminar o cosmos

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Primeira imagem do buraco negro supermassivo Sagitário A*, no centro da nossa galáxia - EHT

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A imagem do objeto Sagitário A* não é a primeira de um buraco negro, primazia que coube ao corpo celeste M87, 1.500 vezes maior, com anúncio em 2019. Mesmo assim, pela vizinhança e pela similaridade com o registro anterior, o ciclope no centro da Via Láctea pode desvelar segredos relevantes.

O anel de cor laranja com a região de sombra no meio ilustra o que se previa e hoje se sabe sobre a estrutura dos buracos negros: um disco luminoso a girar vertiginosamente em torno de um corpo supermaciço. A pantagruélica força gravitacional do objeto suga tudo ao redor, até a luz, daí o "olho" preto.

A beleza da descoberta vai bem além do efeito estético que torna apreensível, para a mente leiga, um fenômeno paradoxal da física. Ela assinala a capacidade da ciência para deduzir e confirmar, ainda que 107 anos depois, algo tão íntimo na estrutura do cosmos.

A previsão sobre a existência de buracos negros data de 1915 e partiu do físico alemão Karl Schwarzschild. Tratava-se de construção puramente matemática, fundada em cálculos a partir da teoria da relatividade de Albert Einstein.

A confirmação só se tornou possível por meio do desenvolvimento tecnológico de telescópios e da colaboração científica internacional. O consórcio EHT reúne oito aparelhos potentes, três deles no hemisfério Sul (Chile e Antártida), cujos registros foram conjugados para gerar a imagem do M87 —hoje há 11 dispositivos no grupo).

SgrA* e M87, no entanto, diferem não só pelas massas (equivalentes, respectivamente, a 4 milhões e 6,5 bilhões de sóis). O primeiro se encontra relativamente perto em termos astronômicos, 26 mil anos-luz (247 quatrilhões de quilômetros), com o segundo a 53,5 milhões de anos-luz, 2.000 vezes mais longe.

O gás a circundar SgrA* circula próximo à velocidade da luz, dando-lhe a volta em poucos minutos antes de cair no abismo relativístico, contra dias ou semanas no caso do M87. Isso dificultou as observações desse alvo mais óbvio, no coração de nossa galáxia.

A comparação dos dois registros, com suas disparidades em tamanho e distância, produziu características parecidas e coerentes com os modelos teóricos. A proximidade de SgrA*, contudo, deve favorecer a obtenção de informações úteis para entender a gravidade.

Os pioneiros Einstein (1879-1955) e Schwarzschild (1873-1916) morreram muito antes de tais imagens virem à luz. Cabe aos privilegiados de hoje reverenciar sua memória, um monumento ao não suficientemente apreciado poder da ciência para esclarecer o mundo.

editoriais@grupofolha.com.br

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