Descrição de chapéu
O que a Folha pensa cracolândia

Além da repressão

Retomar espaço ocupado pela cracolândia é dever; resta amparar os dependentes

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Usuários de crack se concentram na avenida Rio Branco, em São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

Menos de dois meses após migrar para a praça Princesa Isabel, no centro de São Paulo, a cracolândia foi alvo de mais uma megaoperação policial nesta quarta-feira (11).

Até agora, como observado há décadas em ações do tipo, o resultado são algumas prisões, apreensões de porções de drogas e dispersão dos usuários pela região —uma pequena parcela aceitou ser encaminhada para serviços de acolhida e atendimento de saúde.

Até 18 de março, o feirão do tráfico ocupava a praça Júlio Prestes, a poucos metros dali. A mudança de local, segundo a Polícia Civil, se deu de forma pacífica por ordem da facção criminosa que comanda o fluxo. Este estaria sufocado após uma série de detenções, despejos e emparedamento de hotéis ilegais.

A blitz conduzida por Prefeitura de São Paulo e governo do estado trouxe duas consequências imediatas, ainda que longe de definitivas.

A primeira, positiva, desobstruiu um marco histórico tomado por barracas de traficantes e centenas de dependentes químicos. Por enquanto, guardas-civis ocupam o espaço 24 horas por dia para evitar nova invasão —expediente também empregado no antigo endereço. Projeto municipal prevê cercar a área de 16,6 mil m² com grades e transformá-la num parque.

Se o perímetro da praça está sob controle, o mesmo não ocorre nas adjacências. Grupos de usuários, de variados tamanhos, perambulavam pela região central nesta quinta (12) para se fixar em um novo ponto.

Muitos se espalharam por calçadas e vias próximas, formando minicracolândias. Carros da Guarda Civil Metropolitana tentavam dissipar as aglomerações e frear a renitente venda de crack.

O vaivém frenético de toxicômanos já preocupa moradores e comerciantes. Alguns chegaram a baixar as portas, com medo de saques.

Em artigo publicado na Folha, o secretário-executivo de Projetos Estratégicos, Alexis Vargas, da gestão Ricardo Nunes (MDB), defendeu a pulverização. A concentração de usuários, diz ele, facilita o comércio de entorpecentes e prejudica a intervenção estatal para um tratamento mais humanitário.

É cedo para avaliar se a estratégia vai funcionar, mas vale observar que, à primeira vista, o acolhimento imediato dos remanescentes está aquém da exitosa recuperação dos espaços públicos, ambos deveres das autoridades paulistas.

Caberá aos responsáveis, daqui por diante, a complexa missão de conciliar operações repressivas ao estabelecimento de sólido arcabouço social, que de fato ampare esses cidadãos sob a ótica da saúde e ofereça o mínimo de dignidade.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.