G7 em transição
Encontro no Japão atestou mudança no cenário global que Lula demorou a entender
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Da segunda metade dos anos 1990 até meados da década passada, a Rússia desfilava como ator assíduo nos encontros da elite mundial, e a China recebia chancelas de democracias ricas para participar com isonomia dos negócios globais.
As preocupações com a segurança internacional concentravam-se nas ameaças terroristas, e mal passavam de uma franja ruidosa os movimentos extremistas e neopopulistas nas nações democráticas.
Esse cenário mudou. O expansionismo russo abriu um cisma entre o Kremlin e as democracias do hemisfério norte, que agora tentam apartar a China da vanguarda tecnológica enquanto enfrentam robustas forças políticas domésticas hostis aos princípios liberais.
Voltou a reclamar atenção o estrago planetário que nações armadas até os dentes com ogivas e mísseis nucleares poderiam provocar.
Nesse contexto deve ser entendido o encontro de cúpula do G7 (EUA, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Japão e Canadá), ocorrido neste fim de semana em Hiroshima, que teve o Brasil entre os convidados extraordinários.
A invasão russa da Ucrânia e as preocupações com a saliência econômica e geoestratégica chinesa ressaltam-se no extenso documento final divulgado pelo grupo.
No primeiro caso, a mensagem foi a de que as potências democráticas apoiarão a Ucrânia o quanto for necessário. No segundo, alertas sobre movimentações de Pequim no Mar do Sul da China, o clamor por uma solução pacífica em Taiwan e a orientação para reduzir a dependência econômica do gigante asiático completaram o recado.
Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se viu deslocado dos eixos das conversas na cidade japonesa, foi por não ter compreendido essa transformação geopolítica a tempo de evitar dizer e fazer as bobagens que cometeu na campanha e no início do governo.
A retórica presidencial, ao por exemplo descrever a agressão russa como violação territorial da Ucrânia, pareceu desta vez mais ajustada. É essa qualificação que a Carta de 1988 inspira quando elenca a autodeterminação dos povos e a não intervenção como bases das relações internacionais do Brasil.
As trapalhadas do passado, no entanto, dificultam o credenciamento brasileiro como um ator importante no encaminhamento da paz. A bem da verdade, uma mediação brasileira de uma guerra que se passa no leste da Europa seria improvável em qualquer hipótese.
Até pela sua dilatada distância geográfica e política do teatro das operações, o Brasil pode dar-se ao luxo de errar sem maiores consequências nesse caso. O mais importante é o governo Lula aproveitar o episódio para livrar-se de concepções diplomáticas ultrapassadas.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters