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O que a Folha pensa STF

Boulos e Janones

Suspeita de 'rachadinha' deve ser examinada à luz dos fatos, não de deturpações

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Deputado sentando no plenário da comissão
Guilherme Boulos (PSOL-SP), deputado federal durante sessão do Conselho de Ética da Câmara - Ranier Bragon - 15.mai.24/Folhapress

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) tem por hábito aproveitar diversas oportunidades de vociferar contra desvios de comportamento ou infrações penais cometidas por políticos em todos os níveis da Federação. Quando lhe toca passar do discurso à ação, porém, as alianças partidárias parecem ainda falar mais alto.

Como relator do Conselho de Ética da Câmara no processo de cassação de André Janones (Avante-MG), o pré-candidato a prefeito de São Paulo deixou o compadrio prevalecer sobre os fatos e votou pelo arquivamento do caso.

Verdade que não foi a primeira vez —e nem se imagina que terá sido a última, infelizmente— que o corporativismo deu o tom na Casa. Chamou a atenção, contudo, a inépcia de Boulos ao tentar preservar Janones, que integrou a linha de frente da campanha de Lula (PT) nas redes sociais em 2022.

O pedido de cassação trata da suspeita de "rachadinha" no gabinete de Janones e, por ironia, partiu do PL, sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro, cujo sobrenome se liga a mais de um escândalo semelhante.

Segundo ex-assessores do deputado, ele teria embolsado parte do salário pago aos auxiliares. Para comprovar a denúncia, um deles gravou uma conversa em que o próprio parlamentar explica que o repasse do dinheiro teria o objetivo de quitar dívidas contratadas na campanha municipal de 2016.

Com autorização do Supremo Tribunal Federal, abriu-se um inquérito, e a Polícia Federal avança em sua investigação, com quebra de sigilo bancário e fiscal.

Janones diz que o áudio foi tirado de contexto, que nunca recebeu dinheiro dos assessores e que não era deputado na ocasião da conversa —ocorre que, como mostrou reportagem da Folha, o próprio teor da reunião indica o contrário.

No afã de endossar a defesa do aliado, Boulos apegou-se ao último ponto e, pior, deturpou a decisão do STF para fazer crer que tudo teria se passado em 2016.

O relatório de Boulos ainda será examinado por seus pares, e nada impede que a maioria decida arquivar o caso. Seja como for, que votem sem corporativismo e à luz dos fatos, não de adulterações.

editoriais@grupofolha.com.br

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