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O que a Folha pensa Governo Lula

Apoio ao RS não deveria ser partidarizado

Lula erra ao nomear potencial candidato do PT a governador para chefiar pasta destinada a coordenar socorro ao estado

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Paulo Pimenta, ministro extraordinário para apoio à reconstrução do Rio Grande do Sul - Gabriela Biló/Folhapress

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contaminou a tarefa de lidar com a tragédia climática do Rio Grande do Sul, já complexa ao extremo, com um lance de oportunismo político rasteiro.

Transferiu-se o ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta, deputado federal licenciado pelo PT gaúcho, para o comando da recém-criada secretaria extraordinária do Executivo federal de apoio à reconstrução do estado.

Mais do que escudeiro da comunicação e da propaganda de Lula, Pimenta é tido como candidato ao governo estadual. Sua nomeação causou, previsivelmente, mal-estar político geral —com razão ou não, seus atos estarão sob suspeita de partidarismo.

O diálogo com prefeitos e outras autoridades gaúchas será entrecortado pelo ruído da disputa eleitoral neste ano, com ecos para 2026. Em uma emergência, qualquer dificuldade adicional é grave.

Não ajuda, ademais, que Lula tenha promovido um ato político em São Leopoldo (RS) e dito em discurso que ainda pretende disputar "umas dez eleições".

A missão de socorrer o Rio Grande do Sul apenas começou, e medidas relevantes já foram tomadas em âmbito federal.

Providenciaram-se dinheiro e servidores para auxílios e obras de emergência; benefícios sociais foram antecipados; parte da dívida do estado com a União será perdoada; haverá ajuda para quem teve a casa danificada ou destruída.

Muito mais será necessário, e os planos devem levar em conta critérios ambientais, econômicos e sociais. Nesse sentido, pode-se defender coordenação federal que comece por administrar a ajuda e dialogar com os demais âmbitos de governo, entre outros interlocutores.

As aplicações federais diretas na emergência gaúcha já se aproximam de R$ 20 bilhões em até três anos, excluídos os eventuais subsídios de crédito, a serem despendidos em até dez anos.

Trata-se sem dúvida de uma cifra relevante, dado que a receita total do governo do estado ronda os R$ 80 bilhões ao ano. O trabalho não se esgota aí, entretanto.

Para dizer a que veio, a nova pasta do primeiro escalão brasiliense deveria projetos da reconstrução —vale dizer, diretrizes e normas que deem conta de recuperar o Rio Grande do Sul em bases que mitiguem riscos de desastres naturais e que repensem partes da economia e do território.

Em termos ambientais, socioeconômicos e financeiros, é projeto gigantesco, que exige estratégia e quadros de alta reputação técnica e administrativa. Pode-se discutir a melhor forma de coordenar todos os esforços e recursos. O que não se pode é transformar uma crise real numa disputa partidária.

editoriais@grupofolha.com.br

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