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Votação estável ao longo da apuração não indica fraude em São Paulo

Post usa resultados parciais da eleição municipal para questionar, erroneamente, lisura do processo eleitoral na cidade

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São Paulo

Um post no Facebook afirma, sem evidências, que o resultado das parciais de votação das eleições à Prefeitura de São Paulo aponta para uma fraude –o mesmo conteúdo está se espalhando em correntes no WhatsApp. O texto, verificado pelo Comprova, lista as porcentagens de votos dos quatro primeiros concorrentes em diferentes momentos da apuração e argumenta que seria impossível que os porcentuais para cada candidato permanecessem os mesmos durante toda a noite. Não há nenhuma prova para essa alegação.

As porcentagens de votos válidos para cada candidato permaneceram estáveis durante a apuração porque não houve grande variação nos votos de cada zona eleitoral. O postulante à reeleição, Bruno Covas (PSDB), venceu em todas as regiões da cidade. Guilherme Boulos (PSOL) ficou em segundo lugar em quase todas as zonas eleitorais –exceto em Parelheiros e no Grajaú, na zona sul paulistana, onde Jilmar Tatto (PT) conquistou essa colocação.

Movimentação na Universidade Anhanguera, na zona sul de São Paulo, no primeiro turno - Zanone Fraissat/Folhapress

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) explicou que “a estabilidade no percentual de votos em candidatos durante a totalização não constitui indício de fraude e indica apenas homogeneidade nos votos recebidos durante a totalização”. O tribunal comunicou ainda que “os resultados da totalização das eleições são completamente transparentes e podem ser verificados por qualquer cidadão”.

Números do post

Os dados dos resultados parciais divulgados no post estão corretos. O TSE confirmou que a votação foi mesmo homogênea, e também foi possível verificar os números comparando-os com notícias publicadas ao longo do dia do primeiro turno. O UOL informou que a primeira parcial divulgada pelo TRE-SP foi às 17h32, com 0,39% das urnas apuradas. Os resultados são iguais aos informados no post verificado aqui.

Por volta das 22h15, Jovem Pan e Estadão reportaram os resultados com 37,7% das urnas apuradas e a porcentagem de votos dos quatro primeiros candidatos bate com o informado nas redes. Cerca de 20 minutos depois, a CNN informou a atualização, com 57,7% das urnas apuradas e os números também são os mesmos dos do post.

Para o cientista político Marco Antonio Carvalho Teixeira, coordenador do curso de Administração Pública da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, “a explicação é que os eleitores da cidade tiveram a mesma percepção dos candidatos”. Segundo ele, a população votou “independentemente da classe social ou do território”.

“Não tivemos aquela história de que, ao entrar as urnas da Capela do Socorro, tal candidato vai ser mais beneficiado; ou que com as urnas de Itaquera, tal candidato vai ter mais votos e pode virar o jogo”, diz ele. Para Teixeira, “ao que parece”, foi a primeira vez que a votação ocorreu de forma tão estável em uma grande capital brasileira.

“Talvez uma das razões seja o fato de que não houve uma discussão acalorada em que a dimensão ideológica, classista, separou muito as pessoas. O primeiro turno não foi pautado pela opção por esse ou aquele candidato porque ele representa melhor determinada região. Pode ser que o segundo turno promova isso.”

O porcentual de votos de Covas variou entre 44,52% (Jardim Paulista) e 25,39% (Valo Velho). No total, o tucano conquistou 32,85% dos votos válidos. Os votos para Boulos variaram de 31,89% (Pinheiros) a 15,85% (Vila Maria). O candidato do PSOL obteve 20,24% dos votos válidos.

Verificação

Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos que viralizam nas redes sociais ligados às eleições municipais, às políticas públicas do governo federal e à pandemia.

Ao afirmar que houve fraude na contagem dos votos, o post segue a campanha que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem feito, questionando a lisura do sistema de urnas eletrônicas. Isso coloca em risco a credibilidade do resultado das eleições.

O post, que teve mais de 550 compartilhamentos até 17 de novembro, é apenas uma das publicações que estão viralizando na rede, na contramão do fato de que o Brasil usa as urnas eletrônicas há 24 anos e nunca houve nenhum caso de fraude comprovado, segundo o TSE.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos; que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano; ou que é retirado de seu contexto original e usado em outro, de modo que seu significado sofra alterações.

A investigação desse conteúdo foi feita por Folha, Poder360 e Estadão a e publicada na terça-feira (17) pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 28 veículos na checagem de conteúdos sobre coronavírus e políticas públicas. Foi verificada por UOL, Jornal do Commercio, GZH, Correio, NSC, Bereia, Piauí, AFP e A Gazeta.

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