Pressionado nas redes, Bolsonaro defende Kassio, ataca Doria e apela a arsenal ideológico
Na noite de Natal, presidente fez transmissão de mais de uma hora com participação de Romero Britto
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Pressionado em sua bolha nas redes sociais nas últimas semanas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) usou uma live de mais de uma hora de duração na noite de Natal, nesta quinta-feira (24), para defender o ministro Kassio Nunes Marques, do STF (Supremo Tribunal Federal), atacar o governador João Doria (PSDB-SP) e acenar para seu eleitorado conservador.
O presidente lançou mão de todo seu arsenal ideológico. Citou armas, cloroquina, queimadas na Amazônia, fez comentário homofóbico e gordofóbico, atacou a imprensa, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde), o comunismo, o PT, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e ONGs (organizações não-governamentais) e falou de Venezuela, de Cuba e de patriotismo.
A live teve participação do artista plástico Romero Britto, que disse que um quadro que fez com o rosto de Bolsonaro era "priceless" (impagável, em português).
O presidente tem sido atacado por seus próprios apoiadores desde a semana passada, quando seu indicado para o STF votou no julgamento em que a corte decidiu permitir que o Estado imponha restrições a quem não tomar vacina contra Covid-19.
As cobranças se asseveraram no domingo (20), depois que Kassio Nunes Marques suprimiu um trecho da Lei da Ficha Limpa que determinava que o prazo de oito anos de inelegibilidade começava a ser contado após o cumprimento da pena.
O encaminhamento dado por Kassio foi alvo de críticas de movimentos de defesa da Ficha Limpa, que viram na decisão desmonte da lei e estímulo à corrupção.
"Quanto mais lei se faz, né... tudo que é abuso, é demais, atrapalha. Lei demais atrapalha. Mas, tudo bem, ele não acabou com a Lei da Ficha Limpa não. Sem querer defender o ministro do Supremo Tribunal Federal Kassio Nunes. Repito, ele definiu a questão apenas de início da contagem do tempo da inelegibilidade", afirmou Bolsonaro na transmissão.
Na defesa de seu escolhido para o STF, Bolsonaro falou a favor até do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Kassio votou favoravelmente a Lula contra decisão que excluiu a delação do ex-ministro Antonio Palocci da ação penal que investiga o petista por suposta doação ilegal de terreno para construção do Instituto Lula.
Assim, ajudou a manter o entendimento de que o ex-juiz Sergio Moro agiu politicamente ao incluir a colaboração de Palocci aos autos do processo às vésperas das eleições de 2018.
"Aí veio: ‘ele votou para absolver o Lula. O que foi votado foi embargo de declaração. Não tem nada a ver com mérito. Nada. Quando você vê ali questão de obscuridade, contradições. E ele [Kassio] viu lá que não tinha nenhuma contradição. Muito pelo contrário. Mas o pessoal vai 'ele votou para absolver o Lula'. E se tiver que votar pra absolver o Lula no processo, que vote. Ou tudo quando se acusa uma pessoa, tudo que ela é acusada, passa a ser verdadeiro?”, disse Bolsonaro.
Bolsonaro citou críticos que dizem que não votarão mais nele em 2022 por causa da indicação de Kassio.
"Paciência. Eu lamento. Não posso obrigar você a votar em mim, se eu vier candidato no futuro, não sei. Você é dono do seu voto", disse o presidente.
Kassio entrou na corte em novembro, na vaga do ministro Celso de Mello. Em julho de 2021, Bolsonaro poderá indicar outro nome, desta vez para a vaga do ministro Marco Aurélio Mello. Se conseguir a reeleição, indicará os substitutos dos ministros Ricardo Lewandowski (maio de 2023) e Rosa Weber (outubro de 2023).
Bolsonaro disse querer indicar pessoas com o mesmo perfil de Kassio Nunes Marques.
"O outro que eu vou indicar é o padrão dele. Pode ter certeza disso", disse.
"Indiquei dois [ministros do STF]. Alguns dizem que eu devo disputar a reeleição. Se for reeleito, mais dois. São quatro. Você passa a ter gente que pensa como você —porque dentro do Supremo também tem gente que atira para tudo o que é lado, mais à esquerda, mais à direita, mais para o centro—, mas mais alinhado com o meu perfil", afirmou Bolsonaro.
"Se você quer que o Supremo, em pouco tempo, esteja, em grande parte, alinhado no perfil parecido com o meu, tudo bem. Agora, você quer para a esquerda, continue dando pancada em mim", prosseguiu o presidente.
Bolsonaro também vem sendo cobrado por seus apoiadores por não se manifestar sobre a situação do blogueiro Oswaldo Eustáquio. Preso na semana passada por descumprir restrições impostas pelo Supremo ao se deslocar até o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, o blogueiro foi hospitalizado na noite de segunda-feira (21).
De acordo com a defesa de Eustáquio no inquérito em que o paranaense é investigado pela prática de atos anti-democráticos, ele consertava o chuveiro de sua cela no presídio da Papuda quando caiu sobre a pia e fraturou uma vértebra.
Sobre este assunto, Bolsonaro não se manifestou na live.
A respeito da pressão para que tome medidas mais drásticas, o presidente disse que não pode lançar o país numa aventura, mas ponderou que "todo mundo sabe que tudo tem limite" e que não aceitará nenhum "movimento conspiratório" para tirá-lo do cargo.
Outro assunto da transmissão desta semana foi o governador João Doria, adversário de Bolsonaro.
O presidente criticou a viagem que Doria fez a Miami logo após endurecer as medidas restritivas em São Paulo por causa do agravamento da pandemia de Covid-19. Em um dos momentos em que atacou o rival, defendeu que as pessoas se armassem.
"Quero o cidadão de bem armado. O povo armado acaba esta brincadeirinha de 'vai ficar todo mundo em casa e eu vou passear em Miami'. Ah, pelo amor de Deus, oh, calça apertada, calcinha apertada, isso não é coisa de homem, porra. Fecha São Paulo e vai passear em Miami. Que negócio é esse, pô? É coisa de quem tem calcinha apertada. Isso é um crime", disse Bolsonaro.
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