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CPI da Covid Congresso Nacional

Pânico de Bolsonaro ganha corpo no roteiro dado por Mandetta à CPI da Covid

Ex-ministro humilha governistas mal preparados; caso Pazuello sugere apagão na tática do Planalto

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São Paulo

Em seu esperado depoimento de abertura da CPI da Covid, Luiz Henrique Mandetta jantou adversários e apresentou um previsível arco narrativo sobre a responsabilidade de Jair Bolsonaro na aurora da pandemia que já matou quase 410 mil brasileiros.

O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta durante o depoimento à CPI da Covid no Senado - Jefferson Rudy - 4.mai.2021/Agência Senado/via AFP

Previsível, decantado até na cola formulada na Casa Civil para os governistas, mas nem por isso menos devastador para o presidente.

Não é o caso de esperar grandes revelações na CPI da Covid, salvo o Duda Mendonça eventual —em 2005, na CPI dos Correios, a inesperada admissão do publicitário que ganhara caixa dois do PT quase implodiu o primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Nada disso ocorreu nesta terça (4), claro, e o nicho bolsonarista raiz do eleitorado deverá seguir em negação e em retirada.

Isso dito, o roteiro consignado por Mandetta é um passo a passo de como o negacionismo manietou o combate de saída ao Sars-CoV-2. Ele já havia falado antes em um livro e inúmeras entrevistas, mas a crise aguda dá tempestividade ao relato mais amarrado.

Não por acaso, a ausência súbita do ex-ministro Eduardo Pazuello de seu depoimento, pelo anunciado contato com infectados com a Covid-19, sugere tanto um apagão tático do Planalto quanto uma precaução sanitária.

Ato contínuo ao anúncio de que o general não iria depor nesta quarta (5), os governistas da comissão buscaram fazê-lo depor virtualmente —o que claramente facilitaria o controle da fala do notoriamente mercurial ex-ministro.

Não deu certo, pela atuação do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM).

Seja como for, a questão colocou em evidência o caráter de profecia autorrealizável da fala de Mandetta, que remete para o estágio atual da crise, com Bolsonaro atrapalhando até agora a vacinação e lutando contra restrição de circulação de vírus.

Todos sabiam o que seria descrito, mas a ênfase colocada em pontos como a ignorância deliberada em nome da imunidade de rebanho e à promoção criminosa da hidroxicloroquina até com mudança proposta de bula deu tintas dramáticas ao relato.

Já o trecho sobre como Bolsonaro, seus filhos e o Itamaraty de Ernesto Araújo tratavam os contatos com a China, dificultando qualquer cooperação, deveria ser estudado um dia no Instituto Rio Branco.

Chamou a atenção a moderação do relator, Renan Calheiros (MDB-AL), que vinha com sangue nos olhos nos últimos dias. Em suas perguntas, o alagoano deixou Mandetta falar, e só buscou nominar o papel de Bolsonaro no fim de sua intervenção.

Isso pode ser meramente uma cortina de fumaça, ainda mais com a pretensão do relator de ajudar a candidatura de Lula ao Planalto no ano que vem —e de operar sua eventual volta à presidência do Senado.

Nesse sentido, nada mais simbólico do que a CPI começar com o líder petista fazendo uma turnê por Brasília. Por outro lado, há nuances: o Senado é uma Casa conhecida por sua atávica tendência à acomodação.

Mandetta, escaldado pelos seus tempos de ministro, brilhou como depoente. Humilhou governistas mal preparados, com respostas objetivas a questionamentos fáceis como os elaborados por Eduardo Girão (Podemos-CE).

Num momento anedótico, ainda expôs Ciro Nogueira (PP-PI) ao ridículo, ao apontar que a questão apresentada pelo prócer do centrão havia sido cozida no smartphone do ministro Fábio Faria (Comunicações).

O ex-ministro escapou com alguns arranhões. Recebeu um ou dois golpes de menor intensidade que absorveu, como questionamentos sobre barreiras sanitárias.

Mas a principal questão à mão não interessava nem aos opositores, nem aos governistas: destrinchar a associação de Mandetta com Bolsonaro, que não virou um negacionista da ciência em março de 2020.

Os primeiros não queriam enfraquecer a testemunha; os segundos, não buscariam expor o presidente. Tanto foi assim que a abordagem do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), apelou ao realismo mágico. Elogiou o ex-ministro e disse que Bolsonaro seguiu o trabalho iniciado por ele.

Mandetta, que vem sendo vendido pelo seu DEM como presidenciável e até ganhou assento no manifesto conjunto com outros cinco nomes que se colocam contra Lula e contra Bolsonaro, apesar de ser visto por eles mais como um eventual aliado ou vice de chapa, evitou proselitismo de cunho eleitoral explícito.

Ao fim, se o Planalto esperava dividir com Mandetta algo do horror associado a Eduardo Pazuello, falhou.

Ganhou em troca a carta-bomba divulgada pelo ex-ministro e seu presciente trecho final: "Recomendamos, expressamente, que a Presidência da República reveja o posicionamento adotado, acompanhando as recomendações do Ministério da Saúde".

Completou em 28 de março de 2020 Mandetta: "A adoção de medidas em sentido contrário poderá gerar colapso do sistema de saúde e gravíssimas consequências à saúde da população".

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