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PCO tenta justificar violência imposta a tucanos, que pretendem seguir em atos contra Bolsonaro

Militantes da sigla de esquerda tentaram expulsar manifestantes do PSDB paulistano de protesto no sábado (3)

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São Paulo

​A soma de um número positivo com um número negativo dá menos que o número positivo original. É assim que Antonio Carlos, dirigente nacional do PCO e professor de matemática, explica o fato de o partido não defender a união da esquerda com o centro ou com a direita para pressionar pelo impeachment de Jair Bolsonaro.

Partido sem expressão nas urnas, o PCO entrou em conflito com militantes do PSDB da capital paulista na tentativa de expulsá-los da manifestação na avenida Paulista, no último sábado (3).

Essa briga, com empurrões e agressões, ao lado de atos de vandalismo ao fim do protesto, ecoou nas redes bolsonaristas como exemplos de baderna e violência da esquerda.

O desentendimento provocou reações diversas entre tucanos, com o alto escalão lamentando o episódio —e o perfil do partido nas redes sociais estendendo a responsabilidade a toda a esquerda. O diretório municipal de São Paulo descreveu o ato como isolado e defendeu a presença nas ruas ainda assim.

Grupo com camisetas e bandeiras do PSDB participa dos protestos contra Bolsonaro em São Paulo - Flávio Ferreira/Folhapress

O presidente do PSDB paulistano, Fernando Alfredo, afirmou que ele e tucanos seguirão participando de atos de esquerda e também eventuais protestos do centro e da direita pelo impeachment.

"Vamos continuar indo, não temos apego a ideologia. Estamos preocupados em tirar Bolsonaro", diz ele, acrescentando que o diretório municipal irá apresentar um pedido de impeachment.

Apesar da briga isolada, Fernando Alfredo afirmou que não sofreu hostilidades e recebeu apoio. Sobre o vandalismo disse ser "um episódio ridículo de pessoas que não sei que movimento representam".

Os principais partidos de esquerda e seus líderes não comentaram ou condenaram, em redes sociais, o confronto entre PCO e PSDB. Antes da briga, os presidentes do PT, Gleisi Hoffmann, e do PSOL, Juliano Medeiros, exaltaram a participação do PSDB e a união pelo impeachment.

Antonio Carlos diz à Folha que "o partido não agrediu ninguém". "O que houve foi um desentendimento, que a nosso ver é relativamente normal diante da revolta, não só de militantes do PCO, mas de companheiros do PT e outros, que estavam revoltados com a presença oportunista do PSDB."

O dirigente partidário diz também que a ação de vandalismo não foi organizada pelo PCO, embora não a condene. Parte dos manifestantes ateou fogo em lixo, destruiu agência bancária, estação de metrô e ponto de ônibus, pichou fachadas e entrou em confronto com a Polícia Militar.

"Repudio atos violentos de minorias que usam agressões para tentar impor suas ideias", afirmou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

"Sou um democrata e sempre defendi manifestações pacíficas. Não será um extremo que vencerá o outro extremo. Minha solidariedade aos militantes do PSDB e todos os brasileiros de bem que saíram às ruas e sofreram agressões nesse sábado. A polícia de SP está investigando e punirá os delinquentes fantasiados de manifestantes", completou.

A posição do PCO contrasta com a dos demais partidos e movimentos de esquerda, que, em geral, têm pregado a ampliação dos atos pelo impeachment para que a pressão popular se converta em maioria no Congresso.

Nesse sentido, o ato do último sábado foi mais diverso que os anteriores, ao agregar o PSDB paulistano; o presidente do PSL de São Paulo, deputado federal Junior Bozzella; a deputada federal Tabata Amaral (sem partido-SP); o partido Cidadania; centrais sindicais; movimentos como Agora!, Livres e Somos 70%; alas de partidos como PV, Rede, Avante, PSB e PDT, além dos partidos e movimentos que já encabeçavam as manifestações, sobretudo ligados a PT e PSOL.

O PCO faz parte da Campanha Nacional Fora Bolsonaro. O fórum, que está por trás das mobilizações de rua contra o presidente, deve discutir a questão da briga ao longo desta semana. Nos bastidores, há desde a posição de que o partido deveria ser expulso até os que defendem diálogo para convencer a sigla a impedir violência.

Para Antonio Carlos, não há espaço para que outros grupos da mobilização censurem ou cerceiem a participação do PCO. "Seria uma usurpação dos direitos no que diz respeito a cada organização."

Nas redes sociais, houve manifestações de simpatizantes e políticos da esquerda para condenar os atos de violência e tentar separar o PCO do restante do movimento.

"A grande novidade foi a ampliação, agregando PDT, PSB, além de PSDB-SP, Cidadania e lideranças como Tabata Amaral. O sectarismo de seitas radicais não deve contaminar o ambiente de frente ampla", escreveu o deputado federal Orlando Silva (PC do B-SP).

A Central de Movimentos Populares (CMP), ligada ao PT, divulgou um ato de repúdio a agressões, afirmando que militantes do PCO agrediram membros do movimento sem-teto e da CMP.

"O movimento estuda com seus advogados quais providências legais podem ser tomadas para coibir novos episódios de violência. Não aceitamos a agressão sectária a trabalhadores(as) por parte de pessoas vestidas com as cores da revolução, que tentam dividir o movimento que está nas ruas para derrubar o governo Bolsonaro", diz o texto.

Já o presidente do diretório zonal do PT do centro de São Paulo, Charles Gentil, divulgou uma carta em solidariedade ao PCO. "Sou um pacifista radical; o que não quer dizer que não tenha um radical apreço por revolucionários e revolucionárias", diz.

O presidente do PT paulistano, Laércio Ribeiro, afirma que a posição de Gentil é isolada e que o partido ainda não deliberou sobre o assunto.

​Na reunião da Campanha Nacional Fora Bolsonaro para preparar a manifestação, na última quinta-feira (1º), a fala de Antonio Carlos destoou ao pregar contra a recepção aos tucanos e contra a união com setores da direita na apresentação de um superpedido de impeachment.

"Se a direita vier para as ruas, nós vamos enfrentar pelos meios que forem necessários. Não vamos chamar conciliação com os que derrubaram Dilma, prenderam Lula. São inimigos do povo e estão no nosso movimento para derrotá-lo", disse.

Em conversa com a Folha, o dirigente afirmou que a Polícia Militar que mata negros é comandada por Doria e que, historicamente, a união com a direita, nas Diretas, Já ou no Fora, Collor, não rendeu frutos para os trabalhadores.

Antonio Carlos disse ainda que os tucanos não foram ao ato para apoiar o impeachment, dado que o partido não assinou nenhum pedido, mas para aparecer com bandeiras da campanha de Bruno Covas (PSDB) à prefeitura em 2020, em uma "atitude provocativa".

"A aliança com o PSDB não acrescentou em nada, é só para desmoralizar a manifestação", afirma, ressaltando que os partidos de direita não têm militância para engrossar os protestos e que a pressão popular deve ser ampliada sim, mas com a integração de trabalhadores.

O líder do PCO diz que não condena a violência e o vandalismo no protesto. "Estamos num Estado muito violento e criminoso contra uma parcela da população. Não somos solidários à repressão da PM", afirma.

As imagens de depredação viralizaram nas redes bolsonaristas e, em relação a isso, Antonio Carlos diz que Bolsonaro criticaria o ato "mesmo se a gente rezasse o pai-nosso". "A arma da direita para se defender é semear confusão e intrigas."

O PCO defende o impeachment de Bolsonaro e o voto em Lula em 2022, mas é visto com distância entre os partidos de esquerda. Em 2018, por exemplo, o PCO defendeu anular o voto em vez de apoiar Fernando Haddad (PT) no segundo turno e, em 2020, tampouco demonstrou apoio a Guilherme Boulos (PSOL) contra Covas em São Paulo.

Durante a manifestação, militantes do PCO tentaram arrancar bandeiras de tucanos, que foram alvos de chutes, cusparadas e ovadas. Houve empurra-empurra. A briga envolveu membros da Diversidade Tucana, ala LGBTQIA+ do partido.

O PSDB, cujo diretório nacional não havia aderido à manifestação, criticou a violência.

"Ainda estamos ainda em período delicado da pandemia e é nosso dever não estimular aglomerações. Por outro lado, qualquer militante do partido é livre para se posicionar politicamente. Dito isso, lamentamos e condenamos as agressões aos nossos simpatizantes ou aos de qualquer posição política como as que ocorreram no evento do município de São Paulo. Foram atitudes que agridem a democracia", afirmou o presidente do PSDB, Bruno Araújo.

"O ato isolado de 10 pessoas não pode ser configurado como intolerância de toda esquerda. Mais uma vez a direção nacional se pronuncia sem sabedoria. Nós não vamos nos acovardar, a rua é nossa e o país também. Vamos retomar o Brasil. Prefiro ir para a rua apanhar do que ficar do gabinete emitindo nota em Twitter", reagiu Fernando Alfredo, líder do PSDB na capital.

Eduardo Leite (PSDB), governador gaúcho que disputa com Doria a vaga de presidenciável tucano, já havia se manifestado contra a adesão aos atos por considerá-los partidários. Após a briga, ele criticou a esquerda.

"Cenas de agressão aos representantes do meu partido e sua expulsão de uma manifestação que deveria ser livre, servem para lembrar a todos sobre a importância da escolha que o país irá fazer nas próximas eleições. Não existe avanço na repetição de erros."

Para integrantes do MBL (Movimento Brasil Livre), a violência reforçou a necessidade de que sejam organizadas manifestações pelo impeachment pela direita, de forma separada, apesar de eventual adesão da esquerda ser bem-vinda, dizem. O MBL deve anunciar em breve a data desse protesto.

Já Bozzella, do PSL, mantém a posição realizar atos conjuntos e amplos. Ele reconhece haver black blocks na esquerda, mas não descarta que as ações de violência sejam perpetradas por bolsonaristas infiltrados.

"É grave o posicionamento agressivo de um ala minoritária desse outro extremo radical. Não vai se conseguir combater um extremo com outro extremo. Mas sou contra manifestações separadas, pois isso dividiria ainda mais o país. [...] Existe um mal maior a ser combatido neste momento, que é o bolsonarismo, que só será extirpado através da união de todos que respeitam a civilidade."

O Instituto Presbiteriano Mackenzie, que foi alvo de vandalismo, afirmou em nota não compactuar com atos dessa natureza. "O Mackenzie tem 150 anos de serviços prestados à educação, à cultura e, atualmente, também à saúde. Sempre praticou o respeito à democracia, às instituições e à liberdade de expressão. [...] Nada justifica a violência."

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