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Descrição de chapéu Congresso Nacional

Kassab me inviabilizou e não vou ser presidente da Câmara por causa dele, diz Marcos Pereira

Dirigente do Republicanos diz que Hugo Motta, apontado seu candidato à sucessão de Lira, era seu 'trunfo'

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Brasília

O presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), atribui ao dirigente do PSD, Gilberto Kassab, a sua desistência de concorrer à sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na Câmara dos Deputados.

"Considerando que o Gilberto inviabilizou a minha candidatura, eu decidi ir por esse caminho", afirmou, em entrevista à Folha.

O presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), em discurso na Câmara dos Deputados. - Waldemir Barreto/Agência Senado

Pereira abriu mão da disputa nesta terça-feira (3) para dar lugar ao líder do seu partido na Casa, Hugo Motta (PB). Para ele, o parlamentar é capaz de reunir consenso em torno do seu nome, algo que ele não conseguiu fazer.

O presidente do Republicanos tentava convencer Kassab desde a semana passada a abrir mão da pré-candidatura do líder do PSD na Câmara, Antonio Brito (BA), para apoiá-lo. Brito e Kassab, porém, rechaçaram essa hipótese.

"[A relação] segue a mesma, eu só vou olhar para ele [Kassab] lembrando que ele me impediu de ser o presidente da Câmara", disse Pereira.

O sr. vinha dizendo há muito tempo que não desistiria, que seguiria até o fim. O que aconteceu?

O Arthur Lira tinha um compromisso comigo, de me apoiar depois da eleição que nós o apoiamos em 2021. Mas eu tinha que mostrar uma viabilidade mínima. Ele me chamou semana passada e fez uma análise política: "Você precisa unificar. Se você conseguir unificar Isnaldo [Bulhões Jr. (MDB-AL)] e [Antonio] Brito (PSD-BA), se eles te apoiarem, você será meu candidato".

Falei com Brito, e ele perguntou se eu já tinha falado com o [Gilberto] Kassab [presidente do PSD]. Então eu fui ao Kassab, em São Paulo, na sexta (30), e fiz um apelo, dizendo que a decisão da presidência da Câmara estava nas mãos dele. Disse a ele: "se você me apoiar, vou ser eternamente grato e devedor a você. Se você não me apoiar, eu também vou lembrar, todas as vezes que olhar para você, que não fui presidente da Câmara por sua causa".

O que Kassab disse?

O que ele disse para mim, disse para todos: "não é agora, não é o momento, lá para frente a gente até pode convergir, mas agora não." Quando ele diz não para mim, para os conselheiros dele, para o governador de São Paulo [Tarcísio de Freitas] e para o presidente da República [Lula], eu chego à conclusão que não consigo reunir as condições para unificar o meu bloco e ser o candidato do Lira.

Por que desistiu agora e não depois?

Se não consigo reunir agora, neste momento em que está havendo uma convergência de todos os atores, inclusive do Lira, do governo, de todo mundo, lá na frente é óbvio que ficaria mais difícil. Prevaleceu o pragmatismo. Sempre que conversava com os líderes de todos os partidos, eles diziam: "Marcos, a sua candidatura é legítima, você é um nome forte, mas se eventualmente der alguma zebra aí, você tem um trunfo: o Hugo Motta". Então, considerando que o Gilberto inviabilizou a minha candidatura, decidi ir por esse caminho. Não tenho mágoa do caminho da decisão que eles [Brito e Kassab] tomaram.

O sr. diz que não vai ter mágoas, mas a relação com o Kassab segue a mesma?

Sim. Eu só vou olhar para ele lembrando que ele me impediu de ser presidente da Câmara, mas não vou...

Não vai ter reflexos em São Paulo?

Não. Nós temos várias prefeituras que ele é vice do meu partido, o meu é vice do dele. Política é a arte do possível, você não faz na política o que você quer. Eu queria muito ser candidato e ser presidente, mas também não ia, pelo pragmatismo que me é peculiar, para uma aventura.

Depois da sua decisão, o senhor falou com Kassab?

Eu liguei para ele, mas ele não atendeu e não retornou.

Nem Brito?

Tentei falar também, mas não consegui.

A intenção do Republicanos agora é atrair tanto o Brito quanto o Elmar Nascimento (União)?

Quem vai conduzir o processo junto à Casa é Arthur Lira. Eu conversei com ele ontem [terça] e falei que ele é o condutor do processo. Na nossa conversa, ficou acertado que nós vamos tentar trazer todos, agora a gente pode fazer um movimento nessa linha. Acho que [Brito] não virá agora, mas lá na frente acho que é possível. Como o Elmar também não virá agora, pelo menos é o que eu li na imprensa.

Hugo Motta é o candidato de Lira?

Acho que sim. Ele não anunciou ainda.

O sr. já pensava na possibilidade de lançar Hugo Motta?

Comecei a pensar a partir da conversa com o Kassab. Eu ainda tinha esperança da conversa do Tarcísio [com Kassab] e da conversa dele com o presidente Lula. A gota d'água para a decisão foi a conversa dele com Lula. É muita coragem, né? Dizer não para o governador de São Paulo e para o presidente da República.

Quantas vezes o sr. conversou nos últimos meses com o presidente Lula para tratar da sucessão?

Três, sendo a terceira ontem [terça]. Todas as vezes ele deixou claro que ele não vai interferir no processo, todas as vezes deixou claro que o Arthur tem o direito de fazer o seu sucessor e que ele queria fazer isso alinhado com o Arthur. Defendeu que fosse uma candidatura de consenso.

Ele pediu que o sr. tentasse unir as forças da Câmara? Pediu, falou para mim: "você não acha que você consegue fazer um ajuste com o Brito?" Ainda até sugeriu: "você não acha que ele poderia ser o seu vice?"

Isso não é uma interferência no processo?

Não é interferir, é fazer sugestão.

Há uma ala do PT que ficou incomodada com o nome de Motta pela proximidade dele com Eduardo Cunha. Isso é um obstáculo?

Isso não tem nada a ver. Não é problema e não é obstáculo. Ele foi do MDB em dois mandatos e está nos últimos dois no Republicanos. Ninguém pode pagar pelos problemas de outros.

Eduardo Cunha está no Republicanos hoje.

Ele está no partido, mas não tem nada a ver, é lá no Rio de Janeiro. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Cunha não teve nenhuma influência?

Nisso? De jeito nenhum. Zero.

Hugo Motta será um candidato governista ou ele vai ser…

Ele vai ser um candidato independente da Casa. Não tem como ser governista. Aliás, a maior dificuldade que eu ouvia e ouço na Casa em relação ao Brito é porque ele tende a ser governista. Ele rechaça essa hipótese, mas é o que eu ouço.

Lula ou algum ministro pediu que o Republicanos apoie o petista em 2026?

Não.

O governador Tarcísio de Freitas deixará o Republicanos?

Pergunte a ele. [Meu sentimento] é que não, que ele não vai deixar. Não posso dizer nunca, não tem essa palavra na política.

Ele será candidato em 2026 à presidência?

Ele diz que não, diz que é candidato à reeleição.

RAIO-X

Marcos Pereira, 52 anos

Deputado federal pelo segundo mandato, é presidente do Republicanos e bispo licenciado da Igreja Universal. Nascido em Linhares, interior do Espírito Santo, é advogado, formado em direito pela Unip e mestre pelo IDP (Instituto de Direito Público). Presidente do Republicanos desde 2011, foi ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços do governo de Michel Temer , de 2016 a 2018.

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