Conhecer a fundo o próprio diagnóstico é essencial para tratar insuficiência cardíaca
Menos de 50% dos pacientes recebem orientação adequada sobre piora de sintomas e o que fazer, afirmou especialista
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Em um cenário no qual quase 50% dos pacientes que são internados por insuficiência cardíaca no país voltam a ser hospitalizados em até seis meses após a alta, como indicou pesquisa realizada em 2014 pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, falta à medicina dedicar maior atenção para que os pacientes compreendam a doença.
“A gente joga muito no colo do paciente o controle da doença e deixa de lado a responsabilidade do médico. Menos de 50% recebem orientação adequada em relação à piora de sintomas e ao que fazer”, afirmou Sabrina Bernardez Pereira, coordenadora dos Protocolos Assistenciais Gerenciados e do Escritório de Valor do Hospital do Coração (HCor).
Conhecer o próprio diagnóstico permite ao paciente avaliar o que é ou não apropriado, como limites de ingestão de sódio, de água e de atividade física —nenhum desses itens precisa ser banido quando identificado um coração fraco, a não ser que haja contraindicação médica, destacou Sabrina.
“Sem conhecer a minha doença, eu não consigo tratar. Não adianta recorrer ao 'dr. Google' porque eu não vou conseguir separar a literatura boa da ruim. É preciso voltar atrás para a medicina paternalista e gastar 10 minutos a mais na consulta”, disse Sabrina durante o seminário Coração Fraco, realizado pela Folha nesta segunda-feira (25), no auditório do Jornal.
O evento teve o patrocínio da Novartis e apoio da Rebric e do Instituto Lado a Lado Pela Vida.
Para Salvador Rassi, presidente do Departamento de Insuficiência Cardíaca da Sociedade Brasileira de Cardiologia, o tratamento para insuficiência cardíaca evoluiu significativamente nas últimas décadas.
“Sou de uma geração que começou a tratar nos anos 80. A mortalidade era muito alta; a qualidade de vida dos pacientes, muito ruim”, destacou. Por outro lado, Rassi reconhece que o acesso aos medicamentos, hoje, nem sempre é facilitado.
“Fui a uma farmácia popular na semana passada. Cheguei lá com uma lista de medicamentos para insuficiência e perguntei quais deles eu conseguiria levar sem pagar, ou seja, por quais o governo pagava. Só tinha um.”
A disponibilidade de um tratamento completo para pacientes, lembrou Rassi, é fator primordial para redução de internação e, consequentemente, para redução de gastos no setor da saúde. “Isso não é culpa do médico ou do paciente, é do sistema de saúde”, disse.
Descobrir a causa da insuficiência cardíaca, rastrear doenças desconhecidas, monitorar hábitos de vida e buscar por uma medicação adequada são etapas indispensáveis para uma boa administração da doença, segundo Marcelo Westerlund Montera, coordenador do Centro de Insuficiência Cardíaca do Hospital Pró-Cardíaco, do Rio de Janeiro.
“Eu tenho que enxergar o indivíduo holisticamente porque a insuficiência cardíaca não é como AVC e infarto. É uma síndrome que envolve várias coisas, e cada uma delas impacta no controle da doença. É preciso gerenciamento junto a outros especialistas”, disse.
Neste ponto, os participantes da mesa concordaram que nem sempre uma consulta possui o tempo necessário para abordar tantos aspectos da vida de um paciente, daí a importância de um tratamento que envolva múltiplos profissionais.
“Uma alta hospitalar feita por um médico é uma coisa. Por uma equipe multidisciplinar, é outra. Quando uma enfermeira pergunta se o paciente entendeu, é absurdo ver como muitas vezes ele não entendeu nada. Quando a receita que chega para ele é manuscrita, e não digitada, é pior ainda”, disse Rassi.
Esclarecimento é tão importante para evitar a falta de adesão ao tratamento quanto para evitar a taxa de reinternação. “A insuficiência cardíaca traz consigo uma polifarmácia e o paciente não entende por que tem que tomar tudo aquilo, ou então para de tomar porque está sentindo algum efeito adverso”, disse Sabrina.
Segundo a representante do HCor, há também muitos pacientes que negam a doença em função de depressão associada.
Montera destacou que um dos principais determinantes de piora de todas as doenças cardiovasculares é o problema nutricional. “As pessoas evitam ir a um nutricionista porque acham que vão ter que comer chuchu", afirmou.
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