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Microsoft quer dominar ferramentas de trabalho e fazer de 2021 o ano do Teams

Empresa volta com agressividade para abocanhar fatia de mercado, e disputar espaço com Slack e outras plataformas

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Richard Waters
Londres | Financial Times

Se 2020 foi o época das reuniões em vídeo, 2021 pode ser o ano para os apps que popularizaram durante a crise consolidarem sua posição central na vida profissional.

Na corrida para reconstruir o trabalho, à sombra da pandemia, ninguém tem ambições maiores do que a Microsoft. Isso pode fazer do Teams, o serviço de comunicação e colaboração da companhia, seu produto mais importante em muitos anos.

De acordo com Satya Nadella, o presidente-executivo da Microsoft, o Teams, construído com base no Office, está a caminho de se tornar uma plataforma digital tão significativa quanto os navegadores de internet ou os sistemas operacionais dos computadores.

Logo da Microsoft - Gerard Julien/AFP

Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, ele definiu o novo software de computação em nuvem como uma “camada de organização” que une todos os recursos de que um trabalhador precisa em um lugar só, e serve de plataforma para que outros desenvolvedores possam oferecer seus serviços. O resultado: instrumentos de colaboração, reunião em vídeo, chat, e outros aplicativos de negócios, todos acessíveis por meio de uma única interface.

Se o mundo do trabalho ainda não viu nada parecido, existe pelo menos um paralelo na esfera do consumo. “Na China, o WeChat é a internet, e esse é um grande exemplo”, disse Nadella. “Não há um equivalente ocidental. O Teams provavelmente é o que chega mais perto disso, na área do trabalho”.

O entusiasmo do chefe da Microsoft é compreensível. O Teams –em companhia de apps de empresas como Zoom e Google– serviu como traço de união digital para manter muitos negócios em operação ao longo de 2020. O número de usuários ativos do Teams cresceu a 115 milhões por dia pelo final de setembro, ante 13 milhões na metade de 2019.

Em um dia representativo do terceiro trimestre, usuários do Teams passaram 30 bilhões de minutos –mais de quatro horas por pessoa, em média– fazendo coisas como participar de videoconferências, trabalhar em documentos compartilhados e revisar reuniões. Se considerarmos o quanto um novo software de negócios demora para se estabelecer, normalmente, é possível definir o Teams como sucesso instantâneo, e como uma importante porta de entrada nova para a vida de trabalho digital.

A Microsoft “quer ser o portal cativo por meio do qual o usuário experimenta tudo mais”, disse Jim Gaynor, analista da Directions on Microsoft, uma empresa independente de pesquisa. “Eles tentaram isso repetidamente. O Teams é o mais próximo que já chegaram de realizar esse objetivo”.

Criar um “espaço de trabalho” único como esse também é um eco das ambições da Microsoft no período em que ela dominava os computadores pessoais, disse Wayne Kurtzman, analista da IDC. “Essa era a promessa original do Windows –o círculo foi fechado”.

'Eles estão avançando rápido'

O Teams de forma alguma pareceu um sucesso instantâneo, antes da pandemia. Foi desenvolvido inicialmente para concorrer com o Slack, um app pioneiro para comunicação de trabalho, que ameaçava roubar território da Microsoft entre os trabalhadores de comunicação. Mas quando surgiu a pandemia, o vídeo ganhou importância como principal propulsor no crescimento do Teams.

O foco da Microsoft está mudando, agora, para fazer do Teams um canal por meio do qual os usuários acessam seus apps do Office. E a empresa também o promove como plataforma para outros desenvolvedores, o que permitirá o desenvolvimento de uma nova geração de apps leves que ela espera que sejam criados por terceiros, à medida que as empresas reordenam todos os seus processos de trabalho em torno do Teams.

Há um mês o Slack aceitou uma proposta de aquisição pela Salesforce, o que representa um sinal dos avanços conquistados pela Microsoft. O preço de US$ 27 bilhões (R$ 143 bilhões) foi uma grande vitória para os acionistas do Slack, mas também uma admissão de que o caminho da empresa para se tornar uma força dominante no mundo do software tinha sido bloqueado. O Zoom, o software sensação de 2020, enfrenta desafio semelhante, agora que a Microsoft decidiu concentrar esforços nas reuniões por vídeo.

“Eles tinham o Slack na mira e agora declararam vitória”, disse Art Schoeller, analista da Forrester. “É muito claro: agora a atenção deles está voltada ao Zoom, e estão avançando rápido”.

Os críticos da Microsoft afirmam que a companhia recorreu a táticas agressivas, que eram comuns de sua parte antes que Nadella assumisse como presidente-executivo, em 2014. Isso incluiu a oferta do Teams como acessório gratuito do pacote Office, o que fez do app uma escolha natural para qualquer organização que já pague pelo pacote de produtividade da Microsoft, amplamente utilizado.

“É o manual de jogo da Microsoft, executado vezes sem conta: fazer pacotes e eliminar os intermediários”, disse Schoeller. “O Slack não tinha como reagir”.

As táticas de negócios da empresa indicam que a Microsoft “voltou a ser agressiva como concorrente”, depois de passar alguns anos mostrando um lado mais gentil ao planeta, sob o comando de Nadella, disse Gaynor. Os apps leves podem servir para contornar os controles criados por departamentos empresariais de tecnologia, ajudando a Microsoft a ampliar seus negócios mas criando o tipo de “provedor terceirizado de informática” a que as grandes empresas tentam resistir.

Enquanto isso, críticos como o Slack e a Salesforce acusam a Microsoft de tentar criar uma plataforma de software “fechada” que manteria os usuários presos aos serviços da empresa, em contraste com a plataforma mais aberta que esses concorrentes estão tentando desenvolver.

“Creio que eles provavelmente deveriam se olhar no espelho, antes de sair falando”, rebateu Nadella. Como plataforma aberta, o Windows ajudou empresas como o Slack a encontrar mercado, e rivais têm liberdade para integrar seus serviços aos da Microsoft.

Jared Spataro, que comanda o serviço 365 da Microsoft, disse que a companhia não tem escolha a não ser permitir que os clientes integrem seus demais aplicativos aos serviços da Microsoft. “Muitas empresas adotam abordagens heterogêneas, e essa é a realidade; por isso precisamos nos manter abertos, a bem de nossa existência”, ele disse.

Para além do 'trabalhador do conhecimento'

A questão agora é determinar o tamanho da plataforma que o ano pandêmico de 2020 criou para o Teams, bem como para seus principais rivais.

Quando a crise de saúde acabar, o trabalho parecerá bem diferente do que era antes, afirmou Nadella. Os trabalhadores exigirão mais flexibilidade quanto a locais e horários de trabalho. Isso vai exigir uma combinação do que ele chama de instrumentos de software “síncronos e assíncronos” em um pacote único: reuniões em tempo real combinadas a software de colaboração e serviços de mensagens que permitam que as pessoas trabalhem nas horas que mais lhes convierem.

“Creio que haverá uma mudança estrutural”, ele disse. Isso vai exigir instrumentos de software que darão flexibilidade aos trabalhadores “enquanto continuam a construir capital social e conhecimento dentro da empresa, ao permitir que pessoas trabalhem juntas em tarefas importantes”.

Para a Microsoft, atrair trabalhadores ao Teams pode elevar o engajamento com os demais apps da companha e reduzir a probabilidade de que os clientes troquem de fornecedor. Também pode abrir novas oportunidades “bem além de nosso mercado tradicional de trabalhadores do conhecimento, que sempre dominou nossa história”, disse Nadella.

No topo de sua lista estão os chamados trabalhadores “da linha de frente” em setores como o varejo e a saúde, que não usam o Microsoft Office atualmente mas executam funções que poderiam ser integradas processos de trabalho mais amplos, dentro de suas empresas, por meio do Teams.

Um engajamento mais profundo por meio de um serviço em nuvem como esse pode produzir novas vantagens para a Microsoft: uma profusão de dados indisponíveis para os concorrentes. Com informações sobre os hábitos de trabalho cotidianos de milhões de trabalhadores, a empresa deve ficar em posição forte para desenvolver novos serviços digitais e para descobrir novas maneiras de ganhar dinheiro, disse Gaynor.

Ela também poderá estudar “indicadores cruciais de comportamento”, acrescentou Kurtzman, da IDC, aprendendo como as pessoas usam a nova geração de software de colaboração em nuvem e o que as torna mais produtivas.

A Microsoft já está trabalhando em maneiras de informar os gestores sobre as operações de suas forças digitais de trabalho, disse Spataro. Mas ele disse que isso não incluiria informações sobre indivíduos, e apenas dados agregados. “Nunca queremos criar uma ferramenta de vigilância”, ele disse.

Tradução de Paulo Migliacci

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