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Zoom vira sucesso com avanço da Covid-19

Em pouco mais de um mês, app ganha 12 milhões de adeptos graças à agilidade para conectar grandes grupos

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Austin (EUA)

Em meio ao cancelamento de aulas presenciais em razão da Covid-19, uma anedota circula entre estudantes nos Estados Unidos. Todos estão indo para a mesma escola, a "Zoom University", mas pagam preços diferentes.

As universidades americanas —das mais prestigiadas e caras às menos reconhecidas— migraram suas aulas para a modalidade online. Quase todas optaram pelo aplicativo Zoom, uma ferramenta de vídeo que permite salas virtuais com dezenas de pessoas ao mesmo tempo conectadas.

Criada em 2011, a empresa com sede em São Francisco viu suas ações na Nasdaq dispararem com a pandemia da Covid-19 e a consequente migração de aulas e de reuniões corporativas para plataformas online. Em janeiro, a ação custava US$ 68 (R$ 340). Na última sexta (20), era vendida a US$ 130 ( R$ 650), com a empresa avaliada em US$ 36 bilhões (mais de R$ 150 bi).

O número de usuários do Zoom cresceu exponencialmente no período. Em nota, a empresa informou não divulgar "dados como número de usuários locais e globais". Em levantamento encomendado pela Folha, a consultoria de mercado mobile Apptopia mapeou o total de downloads de aplicativos no mundo em 2020.

Entre 1 de fevereiro e 12 de março, o Zoom foi baixado por mais de 12 milhões de usuários de smartphone, o dobro do registrado pelo Skype, aplicativo de ligações de vídeo. No Brasil, houve 290 mil downloads, com o pico no mês de março, após o aumento de casos de Covid-19.

"Sinto que da noite para o dia todo mundo percebeu que precisava ter uma ferramenta como o Zoom para conectar seu pessoal", afirmou Eric S. Yuan, fundador e diretor executivo do grupo, durante conferência com investidores no início de março.

Yuan nasceu na província de Shandong, no leste da China, onde se formou em matemática e ciência da computação. Em perfil publicado na revista Forbes em 2019, o empresário contou que ao ver uma entrevista de Bill Gates, criador da Microsoft, nos anos 1990, decidiu migrar para os Estados Unidos.

Até de conseguir se instalar no país, teve seu visto negado oito vezes. Em abril de 2019, entrou para o grupo dos bilionários dos EUA, após abrir o capital da sua companhia na Nasdaq.

Antes de virar a preferida das universidades americanas, a empresa já dominava o mercado corporativo. Como superou gigantes como Skype, Google, Facebook, Microsoft, que também possuem ferramentas chamadas de vídeo?

"Não há uma única explicação para o crescimento em relação aos rivais", afirma Adam Blacker, vice-presidente de tendências da Apptopia. "O que pode estar acontecendo é que pessoas que usam o aplicativo no trabalho ou para aulas estão agora utilizando também para encontro pessoais [após as determinações de quarentena]. Como o Zoom atende a uma variedade de necessidades, atrai novos usuários", completa.

Para Paul Condra, analista tecnologia da PitchBook, consultoria de mercado de capitais, a explicação é mais simples. "As pessoas escolhem porque funciona", afirma em entrevista ao New York Times.

Professores conseguem compartilhar apresentações durante as aulas online e podem separar os alunos em grupos para tarefas.

Como outras empresas de tecnologia, tais quais o streamer de audio Spotify e rede social Linkedin, o Zoom oferece serviços gratuítos e pagos. Não assinantes têm limites de tempo e do número participantes em conferências, o que não acontece com quem paga.

O fato de lucrar com uma calamidade global é um tema na empresa. Com o agravamento da Covid-19, o Zoom abriu sua versão paga para usuários de áreas mais atingidas vírus, como regiões da Itália e da China. O grupo anunciou também que escolas na Áustria, Dinamarca, França, Irlanda Polônia, Romênia e nos EUA terão acesso livre.

Com versão do site e aplicativo em português, o Zoom não tem sede no Brasil. Enquanto cresce no mundo, desperta controvérsia em relação ao uso que faz dos dados de seus clientes.

"O contrato com o usuário permite que a empresa tenha acesso a dados para anúncios, o que é um risco", diz Dr. Gabriela Zanfir-Fortuna, do Future of Privacy Forum, ONG que monitora proteções de privacidade e normas éticas em empresas de tecnologia.

Fortuna explica que assinantes de contas corporativas, como empresas e universidades, podem rastrear ações dos participantes das aulas e conferências online.

Uma das ferramentas permite, por exemplo, que o professor seja avisado se um dos alunos estiver por mais de 30 segundos navegando em outro site durante a aula online.

Procurada pela Folha, a empresa não respondeu aos questionamentos sobre privacidade dos usuários.

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