Descrição de chapéu Saiu no NP

1990: Carro quebra e sociólogo deixa múmia de mil anos na costureira

Repercussão do caso agitou bairro da Lapa, em São Paulo

O sociólogo Emílio Ernesto Arzeno Gougeon (à esq.) e o legista Daniel Romero Muñoz, no Instituto Médico Legal, em São Paulo
O sociólogo Emílio Ernesto Arzeno Gougeon (à esq.) e o legista Daniel Romero Muñoz, no Instituto Médico Legal, em São Paulo - 15.fev.1990/Folhapress
 
Claudia Crescente
São Paulo

Em fevereiro de 1990, uma caixa foi deixada na casa da costureira Antoniete Rother, no bairro da Lapa, na zona oeste de São Paulo, por um de seus clientes, que prometeu voltar para buscá-la. Depois de alguns dias, não podendo mais resistir à curiosidade, a enteada da costureira, Elori Lídia Kostiw abriu o "presente" e encontrou uma estranha surpresa: uma múmia, aparentemente feminina.

O caso agitou o bairro e uma série de hipóteses surgiu para explicar o defunto incomum. Em 13 de fevereiro, o "Notícias Populares" noticiava se aquilo era obra de um cientista maluco ou até mesmo de um amante macabro, que quis preservar sua adorada para a eternidade.

A múmia, porém, parecia vir de outros tempos. Tudo indicava que era uma índia, pois dentro da caixa foram encontradas tranças de tecido ou fibra vegetal coloridas, pedaços de coco e uma rede de dormir. Enquanto as fofocas rolavam, a polícia tentava identificar quem era o tal cliente da costureira, a quem ela chamava de "Emílio". Segundo ela, não havia nada de anormal no comportamento do homem.

Com a ajuda do "NP", o mistério se espalhou pela cidade e alcançou o dono da relíquia. Preocupado com a repercussão do caso, Emílio, ligou para o delegado do 7º DP (Lapa) e prometeu aparecer para esclarecer a origem da múmia, que, enquanto isso, aguardava em uma geladeira no IML (Instituto Médico Legal).

Na tarde de 15 de fevereiro, Emilio Ernesto Arzeno Gougeon, um sociólogo uruguaio, deu as caras na delegacia e explicou que a múmia era uma índia inca, que tinha entre 800 e mil anos. Disse ainda que deixou a caixa na casa da costureira porque seu carro tinha sofrido uma pane perto dali e precisou entregá-lo para um mecânico. De acordo com o sociólogo, ele precisou fazer uma viagem a Minas Gerais, mas pretendia voltar para reaver a caixa.

A múmia, aliás, nem era dele: pertencia a um colecionador e foi emprestada a Emílio para que fizesse um "tour" por museus do Brasil e do exterior. No momento em que seu carro pifou, o sociólogo estava a caminho do Museu de Antropologia da USP, onde o objeto seria estudado por especialistas.

De mistério a múmia passou a celebridade, e todos agora queriam uma oportunidade para estudá-la. Como contou o "NP" em reportagem de 18 de fevereiro, o corpo da mulher fora descoberto no norte do Chile e agora ia ficar de quarentena no IML, onde especialistas do Departamento de Antropologia Forense do instituto iriam analisá-la melhor para determinar sua etnia e idade no momento do óbito.

O jornal relatou ainda que, na comuna de Arica, no norte chileno, já haviam sido encontradas outras múmias. Os cadáveres eram desidratados e tinham suas vísceras removidas antes de serem recobertos com resinas especiais e sepultados. O clima desértico da região também ajudou a conservar os corpos, de acordo com os estudiosos ouvidos pelo "Notícias Populares".

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado anteriormente na legenda da foto em destaque, o nome do legista que está ao lado do sociólogo Emílio Ernesto Arzeno Gougeon é Daniel Romero Muñoz e não Carlos Belmonte Printe

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