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1970: Depois de 14 meses exilado, o cantor Chico Buarque está de volta ao Brasil

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São Paulo

O relógio marcava 8h. No aeroporto do Galeão, do Rio, uma série de personalidades, entre eles Altamiro Carrilho, Paulinho da Viola, MPB-4, Trio Mocotó, Nelson Motta e Betty Faria, aguardava com expectativa. Muita gente, além de jornalistas e fotógrafos, também esperava, dentro e fora do saguão.

Aquele que todos queriam ver foi o terceiro a descer do avião vindo de Roma. Era Chico Buarque de Hollanda, acompanhado da mulher, Marieta Severo, da filha de 11 meses, Silvia, e da babá Margarita, que veio conhecer o Brasil.

Depois de 14 meses exilado na Itália, o cantor e compositor foi recebido com enorme festa nesta sexta (20). Altamiro e seu grupo tocaram “A Banda”. Betty Faria, à frente da torcida Jovem Flu, levou enorme bandeira do Fluminense.

Ele até se assustou quando jornalistas furaram o bloqueio e o cercaram. “Tinha que vir até aqui, ver os amigos e dar um mergulho na praia”, disse. Foi preciso a polícia abrir caminho para Chico chegar à rua, carregado pelos amigos.

A alegria contrastava com o duro período fora de casa.

Chico Buarque, acompanhado de Marieta Severo e da filha Silvia, no desembarque no Galeão em 1970
Chico Buarque, acompanhado de Marieta Severo e da filha Silvia, no desembarque no Galeão em 1970 - 20.mar.1970/Folhapress

Em 4 de janeiro de 1969, a Folha noticiou a ida do cantor. Em “Chico Buarque foi à Europa”, disse: “Em companhia de sua mulher, Marieta Severo, que está esperando bebê, Chico Buarque viajou ontem, às 21h30, diretamente para Roma (...) Sua estada na Europa deverá prolongar-se até o fim do mês...”.

Mas, na viagem, o cantor decidiu morar em Roma. O motivo foi de segurança, devido às fortes ameaças da ditadura.

Ao livro “Chico Buarque - Para Todos” (1999), de Regina Zappa, ele disse que ficou na Itália após aviso de Caetano Veloso, que se exilou na Inglaterra após ser preso por militares. “Lembro da carta do Caetano, levada por Nelsinho Motta, quando Caetano saiu da prisão e foi para Londres. A carta dizia: ‘O tenente amigo mandou dizer para você nem pensar em voltar’.”

O início na Itália até foi calmo. “Em cartas a amigos, Chico diz que continua jogando botão, seu divertimento predileto (além da música, é claro) e sempre que pode joga futebol de salão no time de Gianni Morandi [cantor italiano]”, informou a Folha em 25 de fevereiro de 1969.

Mas houve muitas dificuldades. “Na Itália, eu comecei um trabalho e, posso dizer, não é fácil ficar conhecido de uma hora para outra. Nossa música é muito respeitada, mas é muito difícil firmá-la mesmo”, disse ele.

Ao mesmo tempo em que compôs “Samba e Amor”, “Apesar de Você”, “Agora Falando Sério” e “Samba de Orly”, escreveu para “O Pasquim” e até jogou futebol, foi na Itália que viu o nascimento de Silvia. “Falavam que, se voltássemos, Chico iria do aeroporto para o xadrez. Tínhamos as roupas do corpo, umas tantas nas malas e nada mais. Mesmo grávida de minha primeira filha, a Silvinha, perdi 8 kg em dois meses! Precisei arranjar ginecologista às pressas”, disse Marieta, à revista Cláudia, em 2013.

Antes de decidir retornar ao Brasil, Chico recebeu, como relatou ao livro de Regina Zappa, um conselho de Vinicius de Moraes, o de voltar ao país fazendo barulho. E isso não faltou já na sua chegada.

Primeira Página da Folha de 20 de março de 1970
Primeira Página da Folha de 20 de março de 1970 - Reprodução
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