Descrição de chapéu Saiu no NP

1998: Em entrevista ao NP, Bussunda revela ter sido assediado e que esposa sabia de tudo

Humorista falou de sua carreira, de ter fugido de 50 crianças no Pará e sobre ter sido ciumento 'doentio'

O humorista Bussunda, um dos apresentadores do programa de televisão Casseta & Planeta
O humorista Bussunda, um dos apresentadores do programa de televisão Casseta & Planeta - Publius Vergilius - 11.nov.1998/Folhapress
Luiz Carlos Ferreira
São Paulo

Sério, responsável, tranquilo e um respeitável pai de família. Foi com esses atributos que a repórter Cristina Rigitano traçou um breve perfil do saudoso humorista carioca Cláudio Besserman Vianna, o Bussunda, após entrevistá-lo para o suplemento semanal Domingão NP,  encartado no Notícias Populares em 29 de novembro de 1998.

Com então 35 anos de vida, casado com Angélica Nascimento desde 1989 e pai da pequena Júlia, de 5 anos, Bussunda integrava um dos humorísticos de maior audiência da TV brasileira, o “Casseta e Planeta Urgente!”, desde a estreia do programa em 1992.

Na entrevista, o humorista falou de seu início no humor quando escrevia para revista "Casseta Popular" no começo dos anos 80 e da chegada a Globo em 1988, como redator do "TV Pirata", outra atração humorística de sucesso na emissora.

Entre os quadros do "Casseta e Planeta", Bussunda destacou as sátiras ao ex-presidente Lula e aos ex-jogadores Ronaldo e Marcelinho Carioca, que no programa ganhou o pseudônimo Marrentinho, atacante do pior time do mundo, o Tabajara Futebol Clube.

Ao falar dos fãs, o humorista relembrou um episódio inusitado em que ele e os amigos do "Casseta" Hélio de la Peña e Beto Silva tiveram que correr de cerca de 50 crianças de uma excursão escolar num parque em Belém do Pará, que reconheceram os humoristas. 

 

A carreira de Bussunda no cinema começou com uma participação especial no filme “Como Ser Solteiro” (1998). Em 2001, fez a dublagem do personagem Shrek,  animação homônima lançada pela DreamWorks Picture.

 

Dois anos depois, ao lado dos outros cassetas, protagonizou a comédia “A Taça do Mundo é Nossa”, parceria que se repetiu em 2006, com o longa “Seus Problemas Acabaram!”.

O humorista, que também era escritor e jornalista esportivo, morreu em 16 de junho de 2006, aos 44 anos, vítima de um infarto. Ele estava em Munique, na Alemanha, onde cobria a Copa do Mundo com os cassetas Beto Silva, Hélio de la Peña e Cláudio Manoel.

Leia a íntegra da entrevista de Cláudio Besserman Vianna, o Bussunda, concedida ao Notícias Populares

 

Como vocês viraram comediantes de TV? 

Na verdade a gente começou escrevendo humor, primeiro para um jornal que a gente fazia, o “Casseta Popular”. Depois, fomos convidados para escrever o “TV Pirata”. Nós e o pessoal do “Planeta Diário”. Depois, a gente se juntou. Do “Casseta Popular” éramos eu, Cláudio (Manoel), Marcelo (Madureira), Beto (Silva) e Hélio (De La Peña). O Hubert e o Reinaldo vieram do “Planeta Diário”. Ainda tinha Pedro Cardoso, Miguel Falabella, Patrycia Travassos, muitos autores entraram ao mesmo tempo. Ficamos escrevendo “TV Pirata” por três anos. Quando acabou, os autores se dividiram para fazer projetos e programas para casa. Acabamos fazendo shows do “Casseta e Planeta”, que faziam um certo sucesso no Rio. O pessoal da Globo foi ver. O Daniel Filho (diretor da Globo) falou: "Vocês têm que ir para a frente da câmera". E fizemos o projeto.

No início foi difícil? Ficaram tímidos diante das câmeras? 

Como ator? Completamente. Eu, do grupo, fui o primeiro a ficar diante das câmeras. Antes, eu fazia um programa na TVE em que entrevistava adolescentes. Ganhei uma certa cancha de câmera. Mesmo assim, era meio duro. Era engraçado. Ajudou a criar certa identificação com o público o fato da gente não ser ator. Todo mundo achava que poderia estar ali, fazendo o que a gente fazia. Era só botar uma peruca, falar do mesmo jeito… Aí a gente foi aprendendo, pegando. Você pega um gostinho pela coisa…

Seu visual ajudou no trabalho na TV? 

Acho que sim. E tem a coincidência do Bussunda, apelido de infância que é um nome que pega. É sonoro, que nem Brizola. As pessoas gostam. Passo nas ruas, gritam: “Bussunda.” E, obviamente, por ser essa coisa gorda, sempre engraçada, ajuda.

Já pensou em emagrecer? 

Pensar eu já pensei muito (risos). Até consigo. Ano passado estava com 130 kg. Perdi 15 kg. Estou com 115 kg. Mas, na verdade, penso em emagrecer para jogar bola. Esse ano consegui entrar em forma. Estou malhando todo dia, mas não emagreço. Me mantenho nesse peso. Pelo menos estou me sentindo bem.

É casado? 

Sou casado há nove anos. Tenho uma filha de cinco anos.

É marido ciumento? 

Não, quer dizer, tenho um ciúme normal. Já fui um namorado doentio. Tinha um ciúme maluco. Agora, não. Mas não vou dar mole.

Era um namorado Massaranduba [personagem do Casseta e Planeta], de dar “porraaaaaaaaaaada”? 

Não. Era de sofrer, de achar que estava sendo traído. Agora não dou mole. Ah, “vou sair com um ex-namorado". Não tem a menor chance.

Como sua filha é tratada pelos colegas de escola? Brincam por ser a filha do Bussunda? 

Brincam. Eu vou na escola, nas festas. Tem uma professora que a chamava de Bussundinha, coitada. Mas ela gosta. Por enquanto, ela curte. Leva os amigos lá para casa e diz: “Agora vamos brincar com o Montanha".

Em casa, é bem-humorado ou é só na TV? 

Bem-humorado eu sou. Dificilmente fico de mau humor. Mas as pessoas, às vezes, se surpreendem porque não sou brincalhão o tempo inteiro. Sou muito na minha. Sou calmo. Gosto de ficar parado. Não sou de ficar puxando piada, animação o tempo. Mas dificilmente fico mal-humorado. 

Houve alguma situação em que teve que fugir dos fãs? 

Uma vez foi muito engraçado. Tava eu, Hélio e o Beto. A gente ia dar show em Belém do Pará. Fomos passear no parque, domingo à tarde. Umas crianças nos viram. Eram umas 50 crianças de escola. A gente falou: “Cara, vamos fugir.” Saímos correndo e as crianças atrás. Entramos num museu. Vimos o museu todo. Quando a gente saiu, tinha uma fila enorme na porta e a polícia organizando fila. Tivemos que ficar mais de duas horas dando autógrafos. Esses lugares assim, Nordeste, Norte e tal, são muito carentes de ver pessoas famosas. Nêgo, às vezes, vem e toca em você. Pra ver se é real. Incrível. Esses lugares são mais difíceis, não dá. No Rio e em São Paulo é mais tranquilo de sair.

Já recebeu pedido mais ousado? 

Já (risos). Quando a gente começou a fazer show. Éramos ídolos musicais. Tínhamos o assédio como popstar. Rolavam uns pedidos meio esquisitos que eu não posso nem dizer quais foram (risos).

Te pediram em namoro? 

É, querendo ir pro meu quarto, até.

E você não deixava? 

Não, porque, por acaso, minha mulher era produtora da gente. Não dava nem pra tentar. As meninas passavam os torpedos através dela. Ela lia antes de me entregar.

Existe censura na Globo? 

Não. Na verdade, nossa censura é o departamento jurídico da Globo. Porque você não pode chamar de ladrão um cara que não foi comprovado que é ladrão.

Na rua, te pedem muito para contar piada? 

Não, me contam muita piada.

Sem graça ou com graça? 

90% sem graça

Já aproveitou alguma? 

Já. A gente aproveita muito. Agora, 90% são piadas completamente sem graça ou já conhecidas, porque conhecemos quase todas. Aí dou aquele risinho, rá, valeu. Mas, quando contam uma boa, vai pro ar.

Antes de ser humorista, qual era a sua profissão? 

Estudei jornalismo. Não me formei, mas trabalhei como assessor de imprensa do Marcelo Cerqueira (candidato a prefeito do Rio) e estagiei no Museu da Imagem e do Som.

Quem são os humoristas que você admira? 

Vários. Renato Aragão, que para mim é o melhor humorista do Brasil. No exterior, Steve Martin.

Dos artistas que participaram do programa, quem você achou mais divertido? 

Teve muita coisa legal. Eu acho mais legal quando o cara não é ator. O Romário foi muito legal. Chitãozinho e Xororó foi sensacional, o Ronaldinho da maratona foi muito bacana.

Teve um problema com o Chitão e Xororó de não querer colocar a roupa? Não queriam se vestir de Batman e Robin? 

Eu ouvi isso, mas, quando cheguei para gravar, eles estavam vestidos de Batman. Então, não sei até que ponto houve esse problema. Acho que eles não queriam botar uma roupa muito ridícula. O legal do convidado é fazer com que ele se divirta participando. A gente não tem a menor vontade de constranger. Fica legal quando ele está se divertindo.

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