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1969: Embaixador americano é alvo de sequestro no Rio de Janeiro

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O embaixador norte-americano no Brasil, Charles Burke Elbrick, sequestrado em 1969.
O embaixador norte-americano no Brasil, Charles Burke Elbrick, sequestrado em 1969. - 1969/Folhapress

A Semana da Pátria está tensa. Após o afastamento de Arthur da Costa e Silva da Presidência no domingo (31) e a formação da Junta Militar, que assumiu o país, ação de esquerda resultou nesta quinta (4) no sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, no Rio. 

Membros da Dissidência Comunista da Guanabara, que adotou o nome do MR8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), e da ALN (Ação Libertadora Nacional) sequestraram Elbrick quando ele passava de Cadillac pela rua Marques, em Botafogo. 

Duas semanas antes, Elbrick dispensou a segurança oferecida pelo governo brasileiro, alegando que estava havia pouco tempo no Brasil e era pouco conhecido.

Os 12 sequestradores exigiram, além da divulgação na mídia de manifesto contra o regime militar, a troca do embaixador pela liberdade de 15 presos políticos, entre eles Vladimir Palmeira, José Dirceu e Ricardo Zaratini.

O carro com Elbrick foi bloqueado perto das 14h por dois Fuscas, um azul, guiado por Cid Benjamin, e outro vermelho, com João Lopes Salgado e Vera de Araújo Magalhães e que parou atrás do Cadillac. 
Após a abordagem, Paulo de Tarso, Manoel Cyrillo Netto, Cláudio Torres e Virgílio Gomes da Silva invadiram o carro do embaixador armados. José Sebastião Rios de Moura ficou de sentinela.

Após renderem Elbrick e seu motorista, os sequestradores abandonaram o Cadillac. O motorista, Custódio Abel da Silva, foi deixado no veículo com um bilhete com as exigências para o resgate.

Ao ser levado para a Kombi verde dirigida por Sérgio Rubens Torres, Elbrick tentou fugir, mas foi impedido por uma coronhada na testa. Ele ficou mais de 70 horas na casa alugada por Fernando Gabeira na rua Barão de Petrópolis, em Santa Tereza. 

No Itamaraty, o chanceler Magalhães Pinto, além de lidar com as autoridades dos EUA, sofreu pressão das Forças Armadas, que eram contra a libertação dos presos.

Sob olhar dos EUA, a Junta Militar cedeu. Assim, mesmo após descobrirem o cativeiro, agentes do Centro de Informações da Marinha e da polícia não invadiram a casa para evitar riscos a Elbrick.

Os 15 presos políticos foram levados ao México —chegaram na manhã de 7 de setembro. Às 18h30 do mesmo dia, o embaixador foi deixado perto do Maracanã, após um jogo entre Flamengo e Bangu, ação que facilitou a fuga dos sequestradores.

Após o caso, a Junta Militar editou os Atos Institucionais 13, que trouxe o “banimento do território nacional de pessoas perigosas para a segurança nacional”, e 14, que admitiu a aplicação da pena de morte ou prisão perpétua em casos de “guerra externa, psicológica adversa, revolucionária ou subversiva”.
Dos 12 envolvidos no sequestro, 8 foram presos — Virgílio Lopes da Silva e Joaquim Câmara Ferreira morreram torturados na prisão. Ficaram livres Franklin Martins (autor do manifesto), José Sebastião, João Lopes e Sérgio Torres. Gabeira relatou o caso no livro “O que é isso, companheiro?”, que virou filme.
Elbrick morreu em 1983, aos 75 anos.

Em 2015, depoimento revelado pelos EUA trouxe fala dele: “Eu os classificaria [os sequestradores] de fanáticos inteligentes”.

Primeira página da Folha de S.Paulo de 5 de setembro de 1969
Primeira página da Folha de S.Paulo de 5 de setembro de 1969 - Folhapress


Jair dos Santos Cortecertu

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