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1969: Carlos Marighella, líder da ALN, é morto em São Paulo pela Operação Bandeirante

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O baiano  Carlos Marighella, líder da ALN, em 1968.
O baiano Carlos Marighella, líder da ALN, em 1968. - Acervo UH/Folhapress
Jair dos Santos Cortecertu e Cristiano Cipriano Pombo
São Paulo

Carlos Marighella, 58, morreu. O ex-deputado e líder do grupo armado ALN (Ação Libertadora Nacional) foi morto nesta terça-feira (4), por volta das 20h30, por agentes da Operação Bandeirante, comandados pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, do Dops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social). 

O corpo de Marighella foi encontrado dentro de Volkswagen azul, chapa 24-69-28, na alameda Casa Branca, na altura do nº 806, nos Jardins, em São Paulo. Além do guerrilheiro, a policial Estela Borges Morato, que estava à paisana e de tocaia, e um protético que passava pelo local morreram. 

Comunicado do Dops informa que o cerco tornou-se possível a partir da prisão, no início de novembro de 1969, de Yves do Amaral Lesbaupin e Fernando Brito, freis dominicanos do convento das Perdizes, que, após interrogatório, revelaram planos da ALN e o local onde estaria Marighella.

Segundo a Operação Bandeirante (Oban), aparato de repressão fundado em 1º de julho de 1969, ao ir ao encontro dos freis, Marighella recebeu ordem de prisão, mas correu para o carro, “momento em que fez menção de sacar, de dentro de uma pasta, dois revólveres que estavam nela”. O guerrilheiro foi alvo de uma rajada de metralhadora e morreu, “caindo morto dentro do carro”. 
 

O baiano Carlos Marighella morto pela Oban, em 1969.
Carlos Marighella morto pela Oban, em 1969. - Acervo UH/Folhapress


Em 1996, dossiê da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos, do Ministério da Justiça, contestou o Dops. Segundo o documento, baseado no laudo cadavérico do líder da ALN —feito à época pelo médico legista Harry Shibata—, Marighella foi morto com tiro no peito, à queima-roupa, após dominado pela polícia. O corpo da vítima foi arrastado para dentro do carro e deixado em “posição impossível”.

Segundo Nelson Massini, médico legista que fez a análise do laudo cadavérico de Marighella, o guerrilheiro levou quatro tiros. “A distribuição dos tiros não corresponde a uma rajada de metralhadora [...] Não há perfuração no carro que justifique os ferimentos. O ferimento no tórax, além de ter sido à queima-roupa, foi disparado de cima para baixo”, disse Massini.

Ainda, diz o médico, pela colocação dos pés (para fora do carro), o guerrilheiro não poderia cair naquela posição depois de levar um tiro no peito. 

Nascido em  Salvador (BA), em 1911, Marighella ingressou no Partido Comunista Brasileiro quando estudava engenharia. Ele foi um dos fundadores do PCB da Bahia. A militância e a oposição ao governo de Getúlio Vargas o levaram duas vezes à prisão (1937 e 1939). Foi libertado com a anistia em 1945 e o fim do Estado Novo.

Eleito deputado federal pela Bahia, Marighella teve mandato cassado em 1947, quando o PCB foi posto na ilegalidade. Em SP, atuou na Baixada Santista e foi  homem de confiança de Luís Carlos Prestes.
Em 1966, rompeu com Prestes e adotou a luta armada. Em 67, com outros dissidentes do PCB, fundou a ALN, que, com tática de guerrilha urbana, queria a queda do regime. 

Em junho de 1969, Carlos Marighella, que era casado com Clara Charf, escreveu o “Minimanual do Guerrilheiro Urbano”. Em 15 de agosto, liderou grupo que invadiu a Rádio Nacional, em Piraporinha (SP), e levou ao ar manifesto contra a ditadura.

Assaltos a bancos e carros-fortes e o sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, em setembro, estão entre as ações da ALN. 

Primeira página da Folha de S.Paulo de 5 de novembro de 1969
Primeira página da Folha de S.Paulo de 5 de novembro de 1969 - Folhapress
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