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1970: Oban afirma ter desbaratado a VAR-Palmares

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São Paulo

Em ação envolvendo Exército, Marinha, Aeronáutica e Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo), nos últimos dias, a Operação Bandeirantes divulgou nesta terça (27) que desarticulou a VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária), com a prisão de 24 pessoas.

Ao todo, a Oban prendeu 320 membros de organizações de esquerda que combatiam a ditadura e apreendeu armas.

Após ter desmantelado a Aliança Libertadora Nacional, com a morte de Carlos Marighella, a Oban chegou ao aparelho de João Batista de Souza, do setor de operações da VAR-Palmares, no Jardim Ana Maria, em Santo André (SP). No local, apreendeu 56 fuzis Mauser FO, 60 sabres, quatro metralhadoras Ina, uma metralhadora Urko, uma Fal e duas carabinas, entre outras armas.

Essa prisão foi decisiva. A partir dela, chegaram ao apartamento, na capital paulista, de Benedito Antonio Ferraz, em 14 janeiro. Também foram estourados os aparelhos de Franklin Delano José de Lemos, o de Antonio Francisco Xavier (vulgo Danilo) e Alfredo Nosomu Sukumu (Mauro), e o de Maria Joana Teles Cubas, em Osasco (SP).

O caso mais grave foi na rua Penha França, 634, quando o PM Boaventura Rodrigues da Silva foi morto. Foram “estourados” ao todo 66 locais e recolhidos NCr$ 22 mil (R$ 150 mil).

Dos presos, 241 estão no Deops, 36, no Deic, 9, no Departamento da Polícia Federal, e 34 em outros locais. Na lista estão Manoel Cyrillo de Oliveira Netto e Paulo de Tarso Venceslau, que atuaram no sequestro do embaixador Charles Burke Elbrick, em 4 setembro de 1969.

Outra presa é Dilma Vana Rousseff Linhares, detida em 16 de janeiro. Aos 22 anos, ela é apontada pela Oban como coordenadora do setor de Massas Populares, oriunda da Colina (Comando de Libertação Nacional). Seu codinome é “Luiza” (ela teria outros) e  atua em SP desde dezembro de 1969 por ordem da VAR-Palmares para fazer uma reestruturação. 

A ofensiva para desbaratar a VAR começou em setembro de 1969. Dilma foi capturada ao se encontrar em um bar, no centro de São Paulo, com um militante, que foi preso, torturado e usado pela ditadura para atrair colegas. Quando Dilma aproximou-se, ele tentou avisá-la, em vão. Presa, ela foi levada à cadeia na rua Tutoia.

Apesar de a polícia divulgar o fim da VAR-Palmares, a organização seguiu até 1975. Já a Oban, criada em junho de 1969, foi extinta em 1970, quando foi incorporada ao recém-criado DOI-Codi.

Em entrevista ao jornalista Luiz Maklouf Carvalho, feita em 2003 e publicada pela Folha em 2005, Dilma falou sobre sua chegada à prisão. 

“Eu entrei no pátio da Operação Bandeirante e começaram a gritar ‘mata!’, ‘tira a roupa’, ‘terrorista’, ‘filha da puta’, ‘deve ter matado gente’. E lembro também perfeitamente que me botaram numa cela. Muito estranho. Uma porção de mulheres. Tinha uma menina grávida que perguntou meu nome. Eu dei meu nome verdadeiro. Ela disse: ‘Xi, você está ferrada’. Foi o meu primeiro contato com o esperar. A pior coisa que tem na tortura é esperar, esperar para apanhar.”

Dilma foi torturada com palmatória, socos, pau de arara e choques. De acordo com o movimento Tortura Nunca Mais, ela ficou 22 dias no local. Depois, mudou de prisão.  

Ela só recuperou a liberdade no final de 1972.

Primeira Página da Folha de 28 de janeiro de 1970
Primeira Página da Folha de 28 de janeiro de 1970 - Reprodução
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