Jairo Marques

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Abertura paralímpica soma diversité ao lema dos franceses

Romper padrões e expor paradoxos deram o tom de toda a cerimônia, menos impactante que a Olímpica; Paris promete nova revolução

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Ver a avenida Champs-Elysées, símbolo planetário do glamour e da beleza, tomada de pluralidade humana, com gente em cadeira de rodas, próteses, muletas, bengalas e demais acessórios tão estigmatizados, colocou Paris e os franceses, mais uma vez, em vanguarda.

Pessoas com deficiência ocupando a rua, a mais charmosa das ruas, lugar de onde são tão excluídas, em uma inédita abertura paralímpica fora de um estádio, incorpora ao lema da França –Liberté, Égalité, Fraternité— o termo diversité. Espera-se que seja honrado.

A imagem mostra um desfile na avenida Champs-Elysées em Paris, com o Arco do Triunfo visível ao fundo. As ruas estão repletas de espectadores dos dois lados, com as árvores alinhadas ao longo da avenida. Vários grupos de pessoas estão desfilando no centro da avenida, alguns deles vestindo roupas coloridas. A cerimônia representa a abertura dos Jogos Paralímpicos de Paris.
Atletas de diversas delegações do mundo tomam a região da avenida Champs-Elysées, com o Arco do Triunfo ao fundo, durante a abertura dos Jogos Paralímpicos de Paris - Dimitar Dilkoff/AFP

Romper padrões e expor paradoxos, por sinal, deram o tom de toda a cerimônia. O desfile das nações, por exemplo, tomou mais tempo do que previa o protocolo. E é assim mesmo. Condições físicas, sensoriais e intelectuais apresentam outras maneiras de entender o rápido e o devagar.

Os monumentos históricos da Cidade Luz, representados pela Place de la Concorde, encararam suas sombras de acessibilidade e ganharam novo piso, viram rampas se erguerem e quebraram barreiras arquitetônicas. As pessoas sempre estão antes do patrimônio. Parece óbvio, mas não é.

A França rompeu padrões também na execução oficial de seu belíssimo hino. O clássico tom marcial e ordeiro ganhou roupagem nova, com harmonia que levou o pensamento ao colorido, ao sublime, a um abraço entre todos.

Mas foi por meio da mistura de artistas com e sem deficiência em várias apresentações ao longo da cerimônia que o tom de enfrentamento com o que é tido como modelo, com o que é tido como harmônico, com o que é tido com belo se manifestou de maneira mais completa. O ponto alto ficou por conta de um Bolero de Ravel inclusivo que acompanhou parte do acendimento da pira paralímpica.

A chama simbólica dos jogos também prezou pela pluralidade, com seis atletas com deficiência no ato final na pira. Foi bonito, mas Tóquio e Rio deixaram o marco histórico inesquecível, o que não percebi agora, em Paris.

Foi flagrante a diferença entre a retumbância e o gigantismo da abertura olímpica, embaixo de um temporal, e um tom mais contido e simbólico, da abertura paralímpica. Mas, os jogos da diversidade tiveram uma presença que fez de seu início apoteótico, a luz intensa do sol e um entardecer de dar gosto a Monet. Coisa dos deuses.

O brilho da estrela maior, seguramente, é o indicativo da urgência de tirar pessoas com deficiência de suas dolorosas e limitantes invisibilidades. Que haja luz para a nova e promissora revolução francesa.

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