Darwin e Deus

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Darwin e Deus - Reinaldo José Lopes
Reinaldo José Lopes

Como sobreviventes de 'milagre dos Andes' lidam com a fé em Deus

Uruguaios que passaram 72 dias na montanha não temem mais a morte, diz biógrafo

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Ainda estou um pouco zonzo com o impacto da leitura de "A Sociedade da Neve", livro do escritor e jornalista uruguaio Pablo Vierci. Acabo de publicar uma entrevista com o autor nesta Folha, como vocês talvez tenham visto, mas a conversa foi longa e riquíssima, então gostaria de aproveitar o espaço do blog para abordar um tema intimamente ligado a ele.

"A Sociedade da Neve" aborda do modo mais íntimo possível as histórias pessoais de cada um dos 16 sobreviventes do "milagre dos Andes", que completou 50 anos recentemente. Nesse caso que ganhou o mundo, 45 pessoas a bordo de um avião militar uruguaio se chocaram contra os Andes a cerca de 4.000 metros de altura. Dessas, 16 sobreviveram 72 dias na montanha até serem resgatados por socorristas chilenos. Um dos elementos que mais me impressionou no relato de Vierci, que foi amigo de infância e adolescência de vários dos sobreviventes, é como a espiritualidade de muitos deles parece ter sido um aspecto central, seja durante a tragédia, seja depois que retornaram ao Uruguai.

Pablo Vierci (à dir.), autor do livro 'A Sociedade da Neve', no local do acidente nos Andes, junto com o diretor J.A. Bayona, que está fazendo um filme sobre a obra
Pablo Vierci (à dir.), autor do livro 'A Sociedade da Neve', no local do acidente nos Andes, junto com o diretor J.A. Bayona, que está fazendo um filme sobre a obra - Divulgação

Conversamos um pouco sobre isso, e vale dar uma olhada mais específica no que ele disse. Confiram.

"Vou lhe dizer uma frase que eles costumam usar para responder essa pergunta. Eles dizem o seguinte: é muito fácil não acreditar em nada aqui 'na planície', mas é muito difícil não acreditar em nada lá em cima. Quando vinha um vento forte, quando eles temiam uma avalanche, eles cantavam canções religiosas da infância e, como o vento se acalmava, chegavam à convicção, para alguns tão antiga ou tão infantil, de que isso acalmava a fúria universal.

Mas cada um deles tem sua fórmula. Alguns são muito mais religiosos no sentido tradicional, crendo que, se conseguiram se salvar de um acidente na montanha, é porque Deus queria que eles continuasem. Outros foram descobrindo, como muitos deles dizem, o Deus da montanha, um deus diferente daquele com que estamos habituados.

Conheço a religiosidade de muitos deles antes e depois, e é algo completamente diferente. E eles têm um vínculo com a morte que é completamente diferente do que eu e você temos. Não a temem e a encaram com naturalidade -- embora eu não consiga captar exatamente como eles a entendem."

Leiam, se puderem -- é um livraço.

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