Você já foi comprar um produto e quando viu que o preço era muito baixo, logo desconfiou se era golpe ou era falso? Isso ocorre, pois para vários produtos, nós temos um preço de referência. Nos investimentos, ocorre algo similar. Também há preços de referência ou taxa de juros de referência. O conhecimento destas taxas permite que você mais facilmente entenda quanto deve esperar de remuneração nos investimentos.
Esse conhecimento sobre qual é a rentabilidade de referência é muito relevante. Aqueles que não sabem o que esperar de retorno, muitas vezes, acabam caindo em armadilhas e golpes.
Com essa unidade de referência nos investimentos é possível por exemplo entender qual deveria ser o patrimônio necessário para se ter uma renda de R$ 6 mil.
Essa foi a pergunta do leitor Renato de 81 anos. Ele tem um patrimônio de R$ 887,8 mil, recebe R$ 4,5 mil mensais do INSS. Neste momento, ele busca dois objetivos:
1 – Gostaria de ter uma complementação de aposentadoria de R$ 6 mil mensais provenientes de retorno das aplicações;
2 – Deseja preservar o valor acumulado.
Preservar o valor acumulado significa pelo menos não consumir o valor do patrimônio, mas, idealmente, manter seu poder de compra.
Assumindo que o Sr Renato viva até os 95 anos, ele deveria receber R$ 6 mil mensais, corrigidos pelo IPCA por mais 168 meses. Considerando que o portfólio termine com o mesmo valor de hoje corrigido pelo IPCA, ele teria que obter um retorno de IPCA+8,4% líquido de IR.
Essa rentabilidade líquida de IR equivale a um retorno bruto de IR de IPCA+10,7% ao ano.
O retorno de referência no Brasil são os títulos públicos referenciados ao IPCA. Atualmente, para um prazo de cerca de 14 anos, esta taxa está em IPCA+5,77% ao ano.
Portanto, não é razoável se esperar atender a todo o desejo de Sr Renato, ou ele teria de alocar todo seu portfólio em ativos de risco, o que não é adequado para sua condição.
Com uma idade de 81 anos e dependente de uma renda, eu não recomendaria ter risco na carteira.
Portanto, Sr. Renato, eu não teria o portfólio que o senhor possui que tem ativos de risco. Ele tem um portfólio diversificado que poderia ser adequado para alguém em outra condição. Seu portfólio possui renda fixa, ações, fundo multimercado e fundos imobiliários.
Entretanto, ele pode buscar um objetivo no meio do caminho e manter a renda de R$ 6 mil mensais de forma simples e segura.
O mais recomendado neste momento de vida e com este patrimônio seria uma carteira de CDBs referenciados ao IPCA. Investindo dentro da garantia do FGC, o risco desta estratégia é baixo.
Com esta estratégia, ele poderia buscar um retorno de IPCA+6,5% ao ano bruto de IR. Líquido de IR, isso equivale a IPCA+4,87% ao ano.
Com essa carteira, ele pode ter sua renda de R$ 6 mil mensais e aos 95 anos ainda deixaria de herança uma carteira de R$ 298,1 mil a valores de hoje.
Reforço que as taxas de juros mudam com o tempo e, eventualmente, essa conta pode se alterar e, portanto, o planejamento deve ser mudado.
Assim, neste momento, se for pensar em viver de rendimentos, faça a conta com um retorno próximo de 0,4% ao mês ou 5% ao ano acima da inflação, já líquidos de IR. Qualquer rentabilidade superior carrega algum risco que deve ser avaliado na sua condição financeira, em seu momento de vida e para seu perfil de investidor.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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