Quando se considera viver de renda com investimentos, logo se imagina aplicações como ações pagadoras de dividendos ou fundos imobiliários. Entretanto, a maioria dos investidores brasileiros é mais conservadora. Portanto, estes produtos não se mostram como opção interessante para a maioria. Entretanto, em um país com elevados juros como o Brasil, é possível e muito mais interessante em termos de retorno por risco usar a renda fixa como veículo de renda.
A comparação não é só com a taxa, mas também com a periodicidade de recebimento. Vamos começar com esta comparação.
A maior parte das ações não paga dividendos mensalmente, mas semestralmente ou anualmente. Na renda fixa, também a maior parte dos títulos segue essa mesma periodicidade no pagamento de juros.
Também há títulos de renda fixa, tanto públicos quanto privados, que pagam juros mensalmente. Por exemplo, os títulos públicos do tipo Renda+ e Educa+ são exemplos de títulos com periodicidade de pagamentos mensais.
Portanto, aqueles que investem em renda fixa não são desprestigiados em termos de fluxo de pagamentos. A questão é apenas diversificar os vencimentos dos títulos para distribuir o pagamento ao longo do ano.
O outro ponto em questão reside no percentual de pagamento de juros e dividendos. Sem dúvida, em renda fixa, seria de se esperar um percentual de pagamento menor que em alternativas de maior risco. Entretanto, não é bem isso que acontece sempre.
Por exemplo, considere o índice de ações pagadoras de dividendos da B3, o IDIV, que reúne as maiores empresas pagadoras de dividendos da Bolsa.
O IDIV rendeu nos últimos 10 anos o equivalente a 11,1% ao ano. Este retorno já inclui tanto o pagamento de dividendos quanto o ganho de capital. Quando comparamos com a inflação do período, essa rentabilidade equivale a IPCA+4,9% ao ano. Podemos imaginar que o ganho de capital foi apenas da inflação e os investidores ganharam 4,9% ao ano isento de IR.
Interessante este resultado, pois ele está em linha com o retorno do índice de ações americanas pagadoras de dividendos representado pelo ETF DVY. Considerando a inflação americana (CPI), este índice rendeu o equivalente a CPI+5,3% ao ano na última década.
Voltando para a renda fixa, podemos avaliar alternativas com retornos equivalentes e até maiores.
Mesmo com a queda da Selic, ainda é possível montar uma carteira bem diversificada de títulos privados que proporciona rendimento de juros isento de IR superior ao das ações de dividendos apresentado acima.
Para aqueles que acham que crédito privado é muito arriscado, lembro que o crédito de uma empresa é sempre menos arriscado que a ação, pois a ação é subordinada ao crédito. Portanto, considerando as mesmas empresas, viver de renda dos juros de créditos destas empresas é menos arriscado do que de dividendos. Além de ter menor risco, o retorno hoje está muito convidativo para a renda fixa privada isenta.
Títulos de renda fixa de crédito corporativo de boa qualidade de crédito pagam uma remuneração média de IPCA+6% ao ano isento de IR.
Portanto, um investidor que não deseja sofrer com o sobe e desce das ações, pode montar uma carteira com mais de 30 ativos de renda fixa de alta qualidade, estar bem diversificado e viver com renda superior à observada de dividendos na última década.
Para aqueles que não querem correr o risco do crédito privado, também, é possível montar uma carteira de longo prazo com títulos públicos e ter retorno bruto de IR superior a 5,8% ao ano.
O retorno líquido de IR nos títulos públicos de renda fixa pode ser menor que o dividendo de ações, mas o investidor terá maior segurança no recebimento.
Assim, mesmo com a queda da Selic, ainda é possível montar uma carteira de longo prazo de títulos de renda fixa públicos e privados com retornos equiparáveis aos de se viver de renda com dividendos de ações.
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Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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