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Relatos de desilusão com vida acadêmica se multiplicam nas redes

Muito trabalho para pouco reconhecimento leva pesquisadores a questionarem caminho trilhado na carreira

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São Paulo

O relato de desânimo com a vida acadêmica da historiadora Maria Visconti viralizou no Twitter nesta semana. Ela vai defender um doutorado e é candidata a PhD na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) estudando o discurso que os nazistas adotaram sobre eles próprios na época do tribunal de Nuremberg.

"Uma das coisas mais cruéis que a academia faz com a gente é a destruição da nossa capacidade de se empolgar e ficar feliz com as nossas conquistas", escreve.

"É muito triste terminar o trabalho de uma década sentindo só alívio porque finalmente acabou. Eu realmente sinto que perdi meu brilho", diz.

Seu depoimento é muito forte. "A vida acadêmica é uma massa de moer gente e de moer sonhos. Só quem viveu (e saiu) sabe as cicatrizes que ficam."

"Não há burnout na academia porque o burnout já é o estado natural das coisas".

E ela termina de forma desalentadora. "Acabou o doutorado mas isso tudo não acaba não. Não sei o que tem do outro lado, mas eu sei que dificilmente será pior."

Ao fim do fio, ela recebe muitas mensagens de apoio e de pessoas que estão passando pela mesma situação.

"Mudei de área e nunca fui tão feliz", contou @cabreumiranda.

A @carolgvega identificou-se completamente com o relato.

Leonardo Rossatto questionou o "sistema injusto e anacrônico de hierarquias" da academia.

Nem todas as mensagens foram de desânimo, porém. O @dainezi conseguiu recuperar o brilho após a banca.

Como diz a Dani Bezan, dá para construir uma rede inteira só com aqueles que se sentem assim.

E mesmo quem consegue ganhar um prêmio pelo trabalho sente-se pouco valorizado.

Há quem sente esse desânimo acadêmico mas nunca conseguiu colocar em palavras.

Muitas pessoas sonharam com esse caminho, mas ficaram pelo caminho.

Um ombro amigo virtual.

Relatos com desânimo acadêmico têm se multiplicado nos últimos meses.

Isso em todos os campos da pós-graduação, do mestrado aos pós-doc.

Em março, um outro relato sobre o desânimo acadêmico já havia viralizado. "No mundo lá fora ninguém liga", escreveu @fiuza_luciana.

Há um fosso profundo entre academia e mercado de trabalho.

Ela dá uma dica. "Não se fechem lá [na academia]."

Há, no entanto, quem prefira a vida acadêmica.

Um relato bastante comum é a dificuldade de inserção no mercado profissional de acadêmicos qualificados.

E o contrário também. Quando alguém mais graduado academicamente busca um emprego fora da área e não consegue por… ser muito qualificado.

"Em quatro anos em sala de aula sinto que já contribui mais para sociedade do que com os artigos que publiquei", conta Camila Trevisan.

Se você quer ser professor universitário terá que passar por esse longo processo, que pode levar mais de década, com baixa remuneração e falta de reconhecimento.

Existem concursos públicos que pagam mais para quem tem mais qualificação. Há quem procure a área acadêmica para isso.

Toda essa situação leva muita gente, desde o início da faculdade, a fazer o mínimo na graduação e ter uma visão mais pró-mercado.

A @truetha tem uma visão otimista.

A palavra é desequilíbrio.

O sucateamento das universidades e o discurso adotado por parcela da população é apontado como um dos motivos.

Outra dificuldade encontrada é quem faz pesquisa em várias áreas.

Os relatos são atemporais e não se restringem ao Brasil. "É difícil de expressar em um tuíte, mas o fato que isso está circulando como apenas outro pós-doc é terrível quando você finalmente gasta 12 anos da sua vida adulta atrás de formações e trabalhos bizarros (para conseguir essas formações) apenas para descobrir que a regra agora são contratos com menos de 12 meses".

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