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Sapiens Chat quer abrasileirar inteligência artificial

Em meio a corrida por IA nacional, #Hashtag dá início a perfis de iniciativas brasileiras

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São Paulo

No final de julho, no lançamento do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (Pbia), o governo Lula defendeu a criação de uma "inteligência artificial soberana" no país, produzida com dados, infraestrutura e força de trabalho nacionais.

O Brasil ainda é um patinho feio na guerra pela inteligência artificial, que conta com gigantes da tecnologia como OpenAI, Microsoft, Google, Meta, Amazon, Oracle, dentre outros. No entanto, o plano que dedica R$ 23 bilhões a projetos de IA, sendo quase R$ 14 bilhões voltados à iniciativa privada, está criando uma corrida no mercado nacional.

No mesmo evento, em julho, a Widelabs, empresa próxima ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), lançou o Amazônia IA, definida como uma "inteligência artificial brasileira". A abordagem causou estranheza no setor de IA, já que ela ignora iniciativas nacionais já existentes e se coloca como pioneira.

Conjunto de 13 pessoas, uma do lado da outra, posam com roupas formais, como termos, em frente a uma parede com logo do governo federal.
A ministra da Ciência Luciana Santos se reuniu com representantes da Widelabs, criadora da Amazônia IA, em agosto - Reprodução/Instagram/Widelabs

Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que a startup vende uma ideia falsa de produto 100% nacional e surfa no desejo governamental —impraticável no curto prazo— de construir uma IA "soberana".

Para mapear esse mercado efervescente, o #Hashtag dá início a uma série de textos sobre o panorama nacional, com perfis de iniciativas brasileiras, entrevistas com especialistas e discussões sobre o futuro do setor.

Uma das novidades de IA generativa multimodal brasileira é a empresa Sapiens Technology, que lançou a Sapiens Chat, desenvolvida, segundo seus criadores, com uma arquitetura 100% brasileira e proprietária, ou seja, sem o uso de APIs (ou interfaces) de outras empresas, como a Lhama, IA da Meta, que tem código aberto e pode ser modificado por qualquer um.

As IAs tradicionais utilizam Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs), que demandam alta capacidade de processamento computacional, geralmente através do uso de GPUs. Ainda de acordo com seus fundadores, a Sapiens Chat conseguiu reduzir expressivamente o consumo de hardwares (como as GPUs), o que a tornaria extremamente sustentável, uma de suas principais bandeiras.

Além de texto, a Sapiens Chat interpreta e gera imagens, vídeos, arquivos como PDFs e Excel. "Temos um produto tão bom quanto o ChatGPT, com um gasto de desenvolvimento que não chega a R$ 100 mil, enquanto outras gigantes gastaram dezenas de milhões de dólares", diz, com excesso de confiança, o cofundador Belchior Varriano, sem, no entanto, revelar o segredo da codificação que permite a inovação.

O #Hashtag testou a Sapiens Chat. Se o tempo de resposta e o afinamento dos resultados ainda não são tão bons como o ChatGPT, é inegável que se trata de uma ferramenta com potencial, ainda mais considerando-se que foi lançada em dezembro de 2023 por dois irmãos mineiros da área da computação que moram em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, com baixo investimento. Ben Hur Varriano é programador, cientista de dados e especialista em inteligência artificial, enquanto Belchior cuida dos negócios, do setor administrativo e o de receitas. Atualmente são oito pessoas na equipe.

Há detalhes básicos a aprimorar, como o idioma, disponível apenas em inglês na apresentação do site. O chat, porém, funciona em português e outros idiomas.

A formatação para o português está a caminho, garante Belchior, que ainda ressalta outra particularidade da Sapiens Chat em termos de linguagem. "Diferentemente de outras plataformas estrangeiras, que priorizam o inglês, nós damos no treinamento igual importância para português, inglês e espanhol".

Uma das maiores críticas às IAs do Vale do Silício são os vieses em relação a grupos sub-representados. Segundo seus fundadores, a Sapiens Chat buscou "abrasileirar" seu treinamento ao incluir um conjunto de dados de tons de pele, características faciais e tipos de cabelo para que os resultados de imagens refletissem com mais precisão a diversidade da população brasileira.

A Sapiens Chat está com 30 mil usuários ativos mensais e espera terminar o ano com 150 mil. Apesar do crescimento, o modelo de negócios só será rentável, na visão de seus donos, quando o foco sair do consumidor e migrar para empresas. "As empresas que usam IA possuem um modelo fundacional [ou seja, uma base robusta de IA que pode ser adaptada para diferentes aplicações e personalizações]. Estamos desenvolvendo uma API para que as empresas possam usar o nosso modelo", afirma Belchior.

Uma das apostas do Sapiens Chat é o fato de a adoção de inteligência artificial ainda ser relativamente pequena, mesmo em mercados mais maduros como o dos Estados Unidos, por mais que tenha havido um boom desde o final de 2022 com o lançamento do ChatGPT, da OpenAI. A Sapiens Chat, no entanto, projeta um cenário de estabilização no aumento dessa demanda, o que é normal depois de uma onda exponencial.

Para Belchior, um desafio interno são os brasileiros que desconfiam da capacidade de brasileiros de fazer inovação. "A gente quer levar o nome do Brasil para fora".

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